PÍLULA | Por um novo acordo global para conter superbactérias

• A água na África • Violência contra médicos e cientistas • Canas-de-açúcar modificadas • Revolucionária transmissão de pensamentos • As delícias da oxitocina •

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E se a próxima pandemia vier de uma bactéria? Um artigo publicado na semana passada na American Journal of Public Health discute a urgência de um esforço mundial para interromper a ameaça das superbactérias, que já estão matando cerca de 1,27 milhão de pessoas por ano, conforme a OMS. Elas têm se tornado um risco cada vez maior por falta de meios de controlar globalmente o uso de antibióticos. Os 25 pesquisadores que assinam o artigo acima sugerem que a saída é uma resolução global bem debatida politicamente, nos moldes do Acordo de Paris de 2015 sobre as mudanças climáticas. Eles argumentam que apenas com um esforço combinado de muitos países – incluindo um marco legal internacional – a ameaça dos supermicróbios poderá ser superada.


Água e saneamento: o problema africano

A África está bem distante de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela ONU até 2030 em relação ao acesso à água, segundo relatório da Unicef e OMS. Segundo matéria do site Peoples Dispatch, o drama é maior em áreas rurais: 80% da população do campo não tem acesso a água potável; 75% não encontra saneamento básico seguro; 70% carece de serviços de higiene básicos. Nas cidades, a situação melhora, mas ainda está longe do ideal: 40% não bebem água que passou por um tratamento seguro. E não é por falta de água, alerta a matéria. Quase todos os 54 países africanos possuem reservatórios em seus lençóis freáticos que os manteriam por mais de 50 anos. Mas falta infraestrutura para gerenciar essa água. E há um entrave ainda maior: os governos neoliberais que rejeitam fazer qualquer investimento público que melhore a situação de suas populações.


Pesquisadores de vacinas sofrem grandes violências no mundo

Impressionada pelas agressões continuadas dos negacionistas, a revista Science promoveu uma enquete sobre o problema. Procurou 9.585 pesquisadores, dos quais 510 responderam às questões colocadas. Destes, 38% relataram pelo menos um tipo de ataque, de insultos a ameaças de morte. Alguns, por isso, tiveram problemas no local de trabalho e de saúde mental. Science relata levantamentos similares, como o da Insecurity Insight, que lista 517 casos de violência física, incluindo 10 profissionais de saúde mortos, 24 sequestrados e 89 feridos. O American Journal of Public Health anotou experiências de assédio em 57% de 583 instalações de saúde dos EUA, e 80 pedidos de demissão de funcionários por sofrerem assédio.


Brasil cria duas novas canas com tecnologia revolucionária

Surgiram, assim, as duas primeiras variedades de cana-de-açúcar feitas por “edição genética”, consideradas não transgênicas. Quer dizer que as gramíneas sofreram modificação genética mas sem a inserção de DNA externo, o que é possível com a tecnologia Crispr-Cas9, como explica o agrônomo Hugo Molinari, líder da pesquisa. “O que fizemos foi gerar uma planta melhorada, muito semelhante ao processo que ocorre na natureza”. A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança avaliou a pesquisa em dezembro passado e qualificou como não transgênicas as novas cana-de-açúcar. Crispr significa “Conjunto de Repetições Palindrômicas Regularmente Espaçadas”. Cas9 é uma proteína usada nessa tecnologia. A Crispr-Cas9 deu o Prêmio Nobel de química de 2020 à francesa Emmanuelle Charpentier e à americana Jennifer Doudna.


Paciente consegue se expressar só por meio dos pensamentos

Estudo reportado pelo New York Times expõe o caso de um paciente de esclerose lateral amiotrófica (ELA) que foi capaz de se comunicar com a ajuda do engenheiro biomédico Ujwal Chaudhary. Apesar de totalmente imobilizado pela doença, o paciente formulou palavras e frases, escreve o jornal, usando apenas seus pensamentos – como imaginar seus olhos se movendo, por exemplo, de modo a selecionar letras soletradas por um sistema de computador. No artigo sobre o caso, os cientistas dizem que para estabelecer a comunicação implantaram “duas matrizes de 64 microeletrodos no córtex motor suplementar e primário de um paciente em estado totalmente bloqueado com ELA”. Os olhos não se movem mas o computador entenderia que o paciente os moveram para escolher certa letra. Polêmico, o resultado suscita muita expectativa.


Oxitocina: Investigando o “hormônio do amor”

Ela está relacionada à formação de casais, cuidados maternais e outros comportamentos sociais positivos e amorosos. Revisões em estudos e experimentos com animais de laboratório revelam novas impressões sobre essa pequena proteína, que é uma importante auxiliadora da aprendizagem social. Por exemplo, ela pode aguçar os sentidos de proteção e cuidado com relação às pessoas importantes para nós. “Mesmo a dois quartos de distância, com o ar condicionado ligado e dormindo profundamente, eu acordo assim que o bebê começa a chorar e logo estou cuidando dele, com as pupilas totalmente dilatadas”, conta o neurocientista da Faculdade de Medicina Grossman da Universidade de Nova York, EUA, utilizando a relação com os próprios filhos para explicar a ideia. A oxitocina também aumenta o sistema de recompensas no cérebro, podendo tornar o indivíduo adicto de seu parceiro. Por exemplo, ela está presente em roedores arganazes-do-campo, o que torna possível observar o comportamento monogâmico da espécie, diferentemente de outras espécies mais promíscuas, como os camundongos, que não possuem receptores do hormônio. Se as recentes descobertas forem similares em humanos, elas podem trazer uma nova dimensão para tratamentos de transtornos sociais, como o autismo.

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