Pazuello deve ser punido por subir em palanque

Dias depois de mentir à CPI, ex-ministro da Saúde promoveu aglomeração com Jair Bolsonaro no Rio. Ato gerou crise no Exército e precisa ser penalizado, dizem militares

Foto: Pilar Olivares / Reuters
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Com sua popularidade à míngua, Jair Bolsonaro tem investido na promoção de aglomerações Brasil afora. Ontem, atravessou diversos bairros da capital do Rio de Janeiro em uma “motociada”, acompanhado por milhares de pessoas. Desnecessário dizer que nenhuma medida de prevenção contra a covid-19 foi seguida.

Ao parar no Aterro do Flamengo, perto do Centro da Cidade, o presidente fez um pequeno discurso a seus apoiadores. E a seu lado, no palco, estava o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que na semana passada tentou convencer a CPI da Pandemia de sempre ter sido a favor do uso de proteção facial e distanciamento. Sem máscara, Pazuello sorria, acenava ao público e apoiava Bolsonaro enquanto ele repetia seus bordões: que é contra medidas de isolamento, a favor da liberdade, do direito de ir trabalhar, de ir à igreja…

Na CPI, Eduardo Pazuello alegou que o presidente faz esse tipo de coisa para “tratar o psicossocial” da população. Mas, se Bolsonaro nunca é punido por seus atos, com o general pode ser diferente: militar da ativa, ele está proibido pelo Estatuto dos Militares e pelo Regulamento Disciplinar do Exército de participar de manifestações coletivas de caráter político. O Comando do Exército ainda não se pronunciou oficialmente. Ontem, o ministro da Defesa, Braga Netto, e o comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira, falaram ao telefone para tratar da crise aberta após o ato. A pressão para general a ir para a reserva, que já havia, só fez crescer.

Oficiais ouvidos pela Época adiantaram que vai haver punição. Um deles disse que Pazuello “derramou o caldo”, e que, se o Paulo Sérgio Nogueira não fizer nada a respeito, isso vai abrir brecha para outros militares começarem a subir em palanques também. Além disso, se Oliveira não punir o general, estará ele próprio cometendo uma transgressão. Por outro lado, diz a colunista d’O Globo Malu Gaspar, uma punição pode vir a ser revogada por Bolsonaro…

Ainda segundo a Época, Pazuello mandou uma mensagem ao comandante do Exército se dizendo arrependido. A colegas mais próximos, disse que “não fez pronunciamento político”: apenas agradeceu “a galera” e disse que “não podia perder esse passeio de moto”, “que era imperdível”.

O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que Pazuello será reconvocado para prestar novos esclarecimentos. Para o vice-presidente, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Pazuello “auto indiciou”: “É o primeiro caso em uma CPI no qual a pessoa se indicia. O que ele fez hoje é crime contra a saúde, contra regras de conduta do Exército, contra autoridade judicial”.

Em tempo: o governo do Maranhão autuou o presidente, na sexta, por gerar aglomeração com mais de cem pessoas sem controle sanitário em meio à pandemia e por não usar máscara em um evento em Açailândia. Bolsonaro tem 15 dias para se defender. Depois disso, é multa, que pode variar de R$ 2.000 a R$ 1,5 milhão.

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