Para a próxima geração

Pesquisa de novas vacinas contra covid-19 esbarra na falta de cooperação das farmacêuticas que já têm produtos no mercado

Foto: Mat Napo / Unsplashed
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A primeira geração de vacinas contra a covid-19 tem funcionado bem, especialmente na redução de hospitalizações e mortes, mas as pesquisas não pararam. Há necessidade de maior oferta para cobrir rapidamente a população mundial; seriam muito bem-vindos imunizantes que evitassem melhor a transmissão do vírus; e as novas variantes podem impor desafios adicionais. Essas pesquisas, porém, esbarram em um entrave: a falta de cooperação das farmacêuticas que já estão com produtos no mercado. Em carta publicada na Nature, a Coalition for Epidemic Preparedness Innovations (CEPI) alerta que isso deve ser resolvido com urgência. 

A questão é que, a essa altura, não faz mais sentido promover ensaios clínicos comparando novas potenciais vacinas com placebo. Primeiro porque, como existem imunizantes sabidamente eficazes, o ideal é que os da nova geração sejam ainda melhores do que eles (e não apenas melhores do que placebo). E segundo porque não é ético administrar uma substância inerte aos voluntários das pesquisas neste momento, quando eles podem muito bem ser protegidos. Pelo mesmo motivo, sequer é fácil conseguir voluntários nessas condições. Só que os contratos entre os fabricantes e os governos em geral restringem o uso das vacinas para o controle dos surtos – não permitindo, portanto, que sejam usados em ensaios clínicos. 

É um problema possível de se resolver, mas não muito simples. A diretora da CEPI nos Estados Unidos, Nicole Lurie, disse ao STAT que a organização tenta quebrar o impasse há meses: “Estamos dando voltas e mais voltas em círculos”. O número de doses necessárias para a realização de pesquisas é muito pequeno, não passando de algumas dezenas de milhares.

Mas, para as empresas, não é muito vantajoso participar de mais ensaios clínicos. Se uma nova vacina de outro fabricante se mostrar melhor, por exemplo, a antiga ficará desvalorizada. O mesmo vale para a aplicação de terceiras doses: não interessa a uma empresa saber oferece um reforço melhor do que a sua. E até ensaios envolvendo apenas os imunizantes de uma mesma farmacêutica podem trazer resultados que mudem o jogo: se um estudo demonstrar que doses menores oferecem o mesmo grau de proteção, isso será uma ótima notícia para o mundo – mas ruim para os lucros. 

Segundo Lurie, a chave está nos governos nacionais, que devem alterar seus contratos com os fornecedores para permitir o uso dos imunizantes nos ensaios. A reportagem diz que, apesar da dificuldade, algumas pesquisas estão sendo conduzidas. É o caso do recém-anunciado ensaio de fase 3 da empresa sul-coreana SK Bioscience, que vai comparar uma nova vacina com a da AstraZeneca (também produzida pela SK). E também de países como Reino Unido e Estados Unidos, que estão avaliando os efeitos da vacinação heteróloga (feita com doses de diferentes fabricantes).

Lembramos que, no Brasil, o Ministério da Saúde anunciou recentemente o início de um estudo sobre a terceira dose em quem tomou CoronaVac, para comparar os resultados de marcas diferentes. Nesse caso, não sabemos se havia impedimentos nos contratos e, se havia, como eles foram resolvidos.

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