Longe do fim: Covax reduz previsão de entregas

Objetivo da OMS é que todos os países tenham ao menos 10% de suas populações vacinadas até o fim deste mês. Quase todos os países ricos já ultrapassaram essa meta – mas quase nenhum dos de baixa renda o conseguiu

Imagem: Victor Habbick Visions / Science Photo Library
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Por Leila Salim

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Uma redução de 25%, um gosto de derrota na guerra contra o apartheid vacinal e a sensação de que o equilíbrio global no enfrentamento à pandemia, única forma de realmente contê-la, ainda está longe de acontecer. Esse foi o saldo do anúncio feito ontem pela Covax Facility, que revisou sua previsão para a distribuição de imunizantes em 2021.

Na avaliação do consórcio, criado pela OMS para impulsionar a distribuição equitativa de vacinas contra a covid-19  pelo mundo, neste ano serão entregues apenas 1,4 bilhão de doses, das 2 bilhões inicialmente previstas para serem distribuídas aos países participantes. A expectativa é que a meta original seja cumprida ao final do primeiro trimestre de 2022.

“Não queremos mais promessas, queremos vacinas”. A pronta reação de Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, ao anúncio teve como alvo as farmacêuticas e governos de países de alta renda. Segundo ele, circula atualmente um entendimento que precisa ser combatido: o de que em breve os países pobres poderiam começar a receber suas doses, em função da finalização da vacinação nos países ricos. Tedros atacou essa concepção afirmando que “os pobres não devem ficar com as sobras” e que a proposta da Organização nunca foi a de que nações de baixa renda iniciassem seus programas de imunização após as ricas.

Mais uma vez, ele pediu uma moratória na aplicação de reforços das vacinas até que as taxas mínimas de cobertura em todo o mundo sejam atingidas. Denunciando a desigualdade, reforçou que o objetivo da OMS é apoiar todos os países a vacinarem ao menos 10% de suas populações até o fim deste mês; 40% até o fim deste ano; e chegar aos 70% da população mundial até o meio do ano que vem. E alertou: “Quase 90%  dos países de alta renda atingiram a meta de 10%. Mais de 70% deles chegaram aos 40%. Mas nem ao menos um dos países de baixa renda chegou a esses índices. Isso não é culpa deles”. 

Até agora, a Covax distribuiu 240 milhões de doses. A expectativa é que o ritmo de acesso e distribuição dos imunizantes seja bastante acelerado no último trimestre, o que, no entanto, não será suficiente para chegar aos dois bilhões anteriormente esperados. Das 1,4 bilhão de doses previstas para 2021, 1,2 bilhão será destinado aos países pobres, o que seria suficiente para imunizar 20% de suas populações, ou 40% dos adultos dos 92 países que se encontram nessa faixa. 

Três principais razões foram enumeradas pela Covax para explicar a redução da previsão de doses a serem recebidas e distribuídas: as restrições às exportações do Instituto Serum da Índia, um dos principais fornecedores do consórcio, diante do agravamento da pandemia no país; os problemas para aumentar a escala de produção em fábricas fornecedoras, especialmente das que produzem imunizantes da Janssen e da AstraZeneca; e os atrasos e negativas para aprovação de candidatos à produção de imunizantes com os quais se esperava contar, como Novavax, SII-Novavax e Clover. 

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