Otimismo com cautela

A primeira vacina chinesa testada em humanos. A imunidade de macacos ao novo coronavírus. O tratamento com anticorpos

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Quando o mundo aguarda ansioso por notícias que apontem para o fim da pandemia, e com mais de 100 candidatas a vacina sendo desenvolvidas no mundo todo, de vez quando temos alguma notícia animadora. Mas, por enquanto, essas notícias ainda vêm sempre com alguns ‘poréns’. É o caso dos resultados preliminares da primeira vacina desenvolvida na China e testada em humanos, publicados na revista Lancet. Foram observados 108 participantes com entre 18 e 60 anos que receberam doses diferentes da vacina: baixa, média e alta. Em doses baixas e médias, levou 28 dias para que 50% das pessoas desenvolvesse anticorpos neutralizantes, ou seja, que neutralizam qualquer efeito biológico do vírus. Nas doses altas, o percentual subiu para cerca de 75%; e, em todas as doses, mais de 90% dos participantes viram aumentar seus anticorpos de ligação (que podem ou não levar à eliminação do vírus).

Embora sejam resultados considerados positivos, é preciso levar em conta que foram poucos participantes e o estudo não foi randomizado e controlado (ou seja, as pessoas não foram escolhidas de forma aleatória e não havia um grupo de controle sem receber a vacina). Além disso, a vacina usa como vetor um vírus de resfriado enfraquecido, adenovírus 5, no qual o material genético do SARS-CoV-2 foi fundido. Só que muitas pessoas já foram contaminadas pelo adenovírus 5 antes, o que gera dúvidas sobre se a resposta imunológica não está se concentrando nessa parte da vacina, e não na parte do novo coronavírus.

Outros dois estudos recentes também trazem boas novas sobre a criação de uma vacina contra o novo coronavírus. Usando macacos-resos como cobaias, pesquisadores da Universidade de Harvard mostraram que, após uma primeira infecção pelo Sars-CoV-2, os bichos se tornaram imunes. Depois, outros macacos que receberam diferentes formulações de vacinas feitas com DNA também ficaram protegidos. Os macacos-resos são muito usados em pesquisas biomédicas e acredita-se que sua resposta ao vírus seja parecida à de humanos. A animação é a seguinte: os experimentos sugerem que pessoas infectadas realmente devem ficar imunes a esse coronavírus, e que as vacinas testadas podem vir a ter sucesso em humanos também. Mas, também nesse caso, há que se ter cautela. Isso porque não se sabe quanto tempo dura a imunidade observada. E, no caso das vacinas, os macacos não se mostraram totalmente imunizados depois de a receberem; as doses apenas permitiram que os animais infectados controlassem a infecção e se recuperassem rapidamente.E por falar em anticorpos, também está neles uma esperança de tratamento para a covid-19, enquanto a vacina não chega. A ideia é munir pacientes com essas células para que seus organismos consigam lutar melhor e mais rápido contra a doença, e a vantagem em relação às vacinas seria o tempo necessário para que algum remédio do tipo fique pronto para ser usado. As pesquisas nesse sentido começaram se baseando na coleta e transfusão de plasma sanguíneo de pacientes recuperados (que já têm os anticorpos) para os doentes. Há uma limitação básica nesse caso: o suprimento desse plasma é finito, já que depende do número de pessoas recuperadas. Além disso, cada doador deve ter anticorpos para inúmeras infecções anteriores, e no fim das contas o número daqueles que são contra o novo coronavírus no plasma doado pode ser pequeno. Quanto a isso, cientistas têm procurado soluções diversas, que vão desde anticorpos criados em laboratório até o uso de anticorpos animais. A reportagem da Wired detalha como anda esse caminho até agora.

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