A história de um fracasso

Governo trama contra Ministério da Saúde desde março. Segundo ex-diretor, assessora de Guedes chegou a comemorar morte de idosos: “reduzirá nosso déficit previdenciário”

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Reuters fez uma reportagem especial sobre como o Brasil vem lidando com a pandemia, traduzida e republicada em vários sites. Os repórteres Stephen Eisenhammer e Gabriel Stargardter tentam explicar o fracasso brasileiro a partir de entrevistas com mais de 20 pessoas, incluindo ex-integrantes do Ministério da Saúde. O que mais aparece – e que faz as maiores revelações – é Julio Croda, ex-chefe do departamento de imunização e doenças transmissíveis, que atualmente trabalha com João Doria no governo de São Paulo.

Segundo a reportagem, desde meados de janeiro o Ministério começou a executar modelos para estimar como e quando implementar determinações para ficar em casa, junto com estados e municípios. O ponto de virada aconteceu em 13 de março, quando a pasta proibiu cruzeiros, aconselhou que as autoridades locais vetassem grandes eventos e orientou autoisolamento a viajantes vindos do exterior. Não havia mortes registradas aqui e a OMS havia recém-declarado a pandemia mundial.

Mas menos de 24 horas depois o governo voltou atrás na orientação. Na época não ficou claro o porquê, mas agora Croda afirma ter sido uma intervenção direta do ministro-chefe da Casa Civil, Braga Netto. Dias depois, Bolsonaro tirou oficialmente poder do Ministério da Saúde, criando um “gabinete de crise” liderado pelo mesmo Braga Netto. De acordo com “13 fontes”, foi aí que a questão econômica começou a ganhar cada vez mais peso, em detrimento da saúde.

Aliás, a matéria cita uma fala especialmente grotesca atribuída a Solange Vieira, aliada de Paulo Guedes que esteve envolvida na reforma previdenciária. Ainda de acordo com Croda, em março o Ministério previu mortes generalizadas entre idosos caso o vírus não fosse contido e, diante disso, Solange teria afirmado: “É bom que as mortes se concentrem entre os idosos… Isso melhorará nosso desempenho econômico, pois reduzirá nosso déficit previdenciário”.

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