Operação-abafa

Quando soube do diagnóstico de covid-19? Qual seu estado de saúde? Informações contraditórias embalam primeiros dias do tratamento de Donald Trump

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A falta de transparência sobre o estado de saúde de Donald Trump movimentou o noticiário internacional no fim de semana. O primeiro resultado positivo para o coronavírus não foi comunicado ao público pela Casa Branca. A gravidade desse fato varia de acordo com a fonte. Segundo o Wall Street Journal, o presidente fez um teste na quinta, mas só divulgou a informação na madrugada da sexta, depois da confirmação do segundo teste. No intervalo, Trump mentiu para a rede de televisão aliada Fox News, dizendo que ainda aguardava o resultado.

De acordo com Kevin Drum, do site Mother Jones, as informações dadas pela equipe médica permitem uma interpretação mais grave. No sábado, um médico disse que Trump havia sido diagnosticado “72 horas” antes – ou seja, na quarta-feira. Nesse dia, ele participou de um evento de arrecadação de fundos e um comício. Além disso, a campanha de Joe Biden não recebeu qualquer comunicado. O democrata havia estado com Trump na véspera, no primeiro debate das eleições…

Depois da confirmação oficial, a operação-abafa continuou, desta vez sobre os sintomas. Os médicos primeiro disseram que ele estava bem. Horas depois, Trump foi internado em um hospital militar. A equipe disse que era “excesso de cuidado”. No sábado, a versão oficial continuou sendo a de que ele progredia “muito bem”, e poderia até receber alta. Dez minutos depois dessas declarações, um repórter com credenciais para cobrir de perto o presidente soltou um despacho para o resto da imprensa dando conta de que o estado do presidente vinha preocupando muito a equipe médica nas últimas 24 horas, de acordo com uma fonte próxima a Trump. A informação vinha de ninguém menos do que do chefe de gabinete de Trump, Mark Meadows.  

As especulações aumentaram. De início, foi comunicado que o presidente estava recebendo o antiviral remdesivir e o coquetel de anticorpos da Regeneron – sobre o qual já falamos aqui. A droga, que oferece ao organismo versões sintéticas das proteínas produzidas pelo sistema imunológico, ainda não teve os testes completos divulgados. Segundo a empresa, o coquetel mostrou sucesso na redução da carga viral para quem ainda não tinha desenvolvido anticorpos. 

As coisas começaram a ficar mais estranhas no domingo, quando a equipe médica acabou divulgando que Trump também recebeu dexametasona, um corticoide que deve ser usado apenas nos casos graves da covid-19. A leitura geral dos especialistas é de que o medicamento é incompatível com as alegações oficiais

Mas Trump continuou firme na construção da narrativa de que está tudo bem e, na tarde de ontem, deu um passeio de carro para cumprimentar apoiadores. Dentro do veículo, que é hermeticamente fechado para prevenir ataques químicos contra o presidente, alguns agentes do serviço secreto viajaram com Trump. Um médico do próprio hospital militar criticou a irresponsabilidade do presidente no Twitter. Não foi o único. 

Em tempo: Trump, que impulsionou a defesa da cloroquina mundo afora, não recebeu o tratamento comprovadamente ineficaz para a covid-19 – ao contrário de seu admirador tupiniquim.

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