OMS prepara o fim do estado de emergência da covid

A Organização avaliou que a pandemia tende a ficar menos grave. Mesmo que possam ocorrer “picos periódicos de casos e mortes”, disse seu diretor, Tedros Adhanom. Mas ainda há cerca de 2 milhões de casos por dia, globalmente. Persistem muitas dúvidas

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Estamos vivendo realidades paralelas em relação à covid atualmente, diz um artigo de opinião publicado ontem, 30/3, pelo jornal The Guardian. Em uma delas, a pandemia teria acabado e as pessoas voltaram a viver a vida normal. Na outra, continua a haver altos níveis de infecções, ainda rondando, como hoje, os 2 milhões de casos por dia, globalmente. O cenário na Europa se mostra especialmente instável, com o número de casos subindo e descendo: a França ainda tem quase 15.000 casos diários, a Alemanha, acima de 200.000, Reino Unido acima de 100.000, a Itália, perto de 70.000.

Mas, apesar das incertezas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou , no mesmo dia, de acordo com o jornal The Hill, um novo plano estratégico sobre a covid que traça uma rota para acabar com a emergência global pandêmica. Também a agência Reuters noticiou a novidade, citando declarações à imprensa do diretor da OMS Tedros Adhanom Ghebreyesus. “Com base no que sabemos agora”, anunciou ele, “o cenário mais provável é que o vírus da covid continue a evoluir, mas a gravidade da doença que ele causa reduz com o tempo, à medida que a imunidade aumenta devido à vacinação e a infecção”.

É com essa avaliação, de acordo com a agência, que a OMS está contando para, gradualmente, tirar a covid da fase de emergência de saúde pública em 2022. É a primeira realidade, na descrição mencionada pelo Guardian. “Picos periódicos de casos e mortes podem ocorrer à medida que a imunidade diminui”, explicou Tedros à imprensa, “o que pode exigir [doses de] reforço periódico para populações vulneráveis”. Na melhor das hipóteses, continua ele, “podemos ver surgir variantes menos graves e não serão necessários reforços ou novas formulações de vacinas”.

Ao mesmo tempo, porém, a OMS permanece alerta à segunda realidade, na qual surgem variantes com alta capacidade de contágio e agressivas. E seja qual for o caso, insiste Tedros, há muito o que fazer em termos das pandemias que o mundo pode ter de enfrentar daqui para a frente. Os países têm que investir em laboratórios, em atendimento clínico, em sistemas de saúde resilientes e em pesquisa e desenvolvimento. E isso ainda não é tudo, escreve a especialista Christina Pagel, da University College London, autora do artigo no Guardian. As deficiências atuais são grandes, argumenta ela.

Nesses termos, mesmo que a covid se torne endêmica, por exemplo, em vez de epidêmica, não há como garantir que ela não vá sair de controle nos próximos meses. Com as deficiências sanitárias globais, “ignorar uma doença ainda tão imprevisível parece um pouco como virar as costas para um tigre faminto na mata”. Ela acha, inclusive, que em vez de depender de reforços frequentes das mesmas vacinas, “devemos desenvolver vacinas melhores e mais duradouras”. E, afinal, saúde não é apenas remédio, hospital e médico. “Precisamos redescobrir nossa ambição de melhorar a saúde pública”, encerra Christina. “Como fizemos nos séculos 18 e 19. Podemos introduzir melhorias sérias na infraestrutura: melhor ventilação, menos aglomeração, maior purificação e esterilização do ar, mais espaços verdes e novas práticas de trabalho”.

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