OMS alerta: dengue cresce com o aquecimento global

• Aquecimento global e dengue preocupam OMS • Doença bate recorde na Europa • 70 anos do ministério da Saúde • Arcabouço Fiscal estrangula crescimento do SUS • O crescimento da infelicidade • Como as corporações invadem a saúde na Alemanha •

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Em comunicado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta para a possibilidade de que o mundo veja números recorde de casos de dengue neste ano por conta do aquecimento global. As mudanças climáticas, por aumentarem as temperaturas, favorecem a proliferação do Aedes aegypti, mosquito associado à transmissão da dengue: ele agora sobrevive mesmo em países onde, antes, o clima temperado não permitia sua presença. A urbanização acelerada e desigual, bem como a falta de acesso ao saneamento básico, são fatores que agravam a tendência de multiplicação do vírus. Raman Velayudhan, do departamento da OMS de controle de doenças tropicais negligenciadas, afirmou que “cerca de metade da população mundial está agora em risco”, segundo a Folha de São Paulo. Só em 2023, 3 milhões de casos de dengue já foram identificados nas Américas (o Peru decretou estado de emergência na maioria de suas regiões) e a estação das monções na Ásia promete aumentar ainda mais essa cifra. 

Surtos de dengue já assolam a Europa

Também é relevante – e inédito – o volume de casos de dengue na Europa. A França e a Espanha são os países que registram maiores números, e o professor James Logan da London School of Hygiene and Tropical Medicine (LSHTM) acredita que a Europa “terá dificuldades de lutar contra a doença” no futuro. Neste verão do Hemisfério Norte, o National Health Service (NHS), sistema público de saúde do Reino Unido, desaconselhou crianças, mulheres grávidas, idosos e pessoas imunossuprimidas a viajarem para regiões onde a dengue pode ser encontrada no continente europeu. O que ameaça a indústria do turismo é que esses locais estão entre os mais visitados do mundo durante a alta temporada: o arquipélago das Baleares na Espanha, que inclui ilhas como Mallorca e Ibiza, e a região dos lagos na Itália são alguns exemplos.

Os 70 anos do Ministério da Saúde, com Nísia no comando

Ontem (25/7), completaram-se 70 anos da criação do ministério da Saúde, que surgiu a partir do desmembramento do antigo ministério da Educação e Saúde. Em fio publicado no Twitter, a ministra Nísia Trindade afirmou que a história do ministério “se confunde com a luta dos sanitaristas e da sociedade pelo direito à saúde, parte fundamental de uma vida digna e de uma política abrangente de inclusão social”, além de ser indissociável do “SUS, único sistema no mundo a atender mais de 100 milhões de pessoas de forma pública e universal”. A ministra também destacou que, no ano em que completa sete décadas, o órgão vive a retomada de políticas públicas importantes, como o Mais Médicos, o Farmácia Popular, o Programa Nacional de Imunizações e o incentivo ao Complexo Econômico-Industrial da Saúde. Referindo-se às ações do governo federal de Bolsonaro na pandemia da covid-19, afirmou que “o MS não pode falhar com a população brasileira dessa forma”, abandonando a coordenação do SUS “quando era mais necessário”.

A saúde está sob um novo teto?

Um artigo de Bruno Dominguez na Radis, a revista da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz), aborda em profundidade um debate central: é o arcabouço fiscal um novo teto para a saúde? Francisco Funcia, da Associação Brasileira de Economia de Saúde (Abres), opina que ele “inviabiliza ampliar o financiamento do SUS além do valor de seu piso e repor as perdas dos últimos anos, o que implica na manutenção do status de subfinanciamento”. Carlos Ocké-Reis, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), acredita que ele traz “zelo fiscalista à política econômica, que diminui a possibilidade de abrir a galope um novo ciclo de desenvolvimento”. Por isso, tudo indica que o arcabouço fiscal “ainda limita o crescimento de recursos para o SUS” – e não tende a ser uma ferramenta útil para a reconstrução nacional mais ousada que o país urgentemente exige.

Índice global de infelicidade segue no nível mais alto da história

Um indicador que monitora “sensações de raiva, tristeza, preocupação, dor física e estresse” registrou em 2022 níveis similares desses sentimentos no mundo em relação ao ano anterior, mantendo os altos índices de infelicidade no pico mais alto de sua série histórica. O Relatório Global de Emoções é realizado pelo instituto de pesquisa estadunidense Gallup, que entrevistou 147 mil participantes em 142 países para o estudo. O Vietnã foi o país que registrou os menores índices negativos, marcando apenas 11 pontos, enquanto Serra Leoa e Afeganistão registraram os números mais altos de infelicidade, com 58 pontos. O Brasil contou 37 pontos, próximo mas um pouco pior que a média mundial de 33. Para o Índice de Experiência Negativa, 57% dos brasileiros relataram sentimentos de preocupação, 42% de dor física, 41% de estresse, 28% de tristeza e 17% de raiva.

Corporações privadas querem se apossar da saúde na Alemanha

Em um cenário de compra de consultórios por grupos financeiros internacionais, médicos têm sido pressionados a prescrever tratamentos desnecessários e custosos para os pacientes, denunciou a Deutsche Welle. Os mais visados por essa pressão são os de especialidades como oftalmologia, radiologia e odontologia – nas quais é mais rotineiro que se exija tratamentos de preço mais elevado. O crescimento do volume de aquisições é incontestável: um relatório do grupo de pesquisa Finanzwende aponta que firmas de capital privado compraram 174 consultórios na Alemanha em 2022, contra 140 em 2021 e apenas 2 em 2010. Para a emissora pública NDR, “algumas cadeias [já detém] monopólio em certas regiões e municipalidades”. Em retórica mais inflamada que as ações do governo social-democrata que compõe, o ministro da saúde Karl Lauterbach chamou os investidores de private equity de “gafanhotos” e prometeu no ano passado um projeto de lei para impedir sua entrada no setor de saúde. Até aqui, a iniciativa ainda não saiu das palavras.

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