O álcool está adoecendo e matando mais mulheres

• O que significa uso moderado do álcool? • HU da USP superlotado • Dalcolmo fala sobre a tuberculose • Meningite meningocócica preocupa Rio de Janeiro •

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Embora tenha registrado um pico no primeiro ano da pandemia, as mortes e internações relacionadas ao consumo de álcool diminuíram entre 2010 para 2021 – queda de 8% e 13%, respectivamente. Mas um dado preocupa: casos de mulheres deram um salto de 7,5% em relação a mortes e 5% em relação a internações. Elas representam cerca de um quarto do total de óbitos por álcool em relação aos homens, mas a tendência crescente assusta. Também porque afeta não só a faixa etária acima de 55 anos, a mais comum, mas entre as mais jovens e inclusive as adolescentes. 

O chamado consumo abusivo – quando se ingere quatro ou mais doses de álcool em um dia – também está claramente aumentando. “É urgente a elaboração de medidas voltadas às mulheres”, alerta o psiquiatra e professor associado da USP Arthur Guerra, em entrevista à Folha. Ele acredita que o aumento no consumo está ligado, entre outros fatores, à pressão que as mulheres sofrem no dia a dia. “Há toda uma pressão para que as mais jovens bebam cada vez mais. É a garrafinha decorada, colorida, é a bebida mais doce”, completa a psiquiatra Ana Cecília Marques. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), as adolescentes estão se iniciando mais precocemente que os meninos. E não há nenhuma política pública que vise o alcoolismo entre o público feminino no Brasil.

Brasileiros não sabem o que é consumo moderado de álcool

“Beba com moderação”, a frase que vem em letras miúdas ou em tom de voz neutro em exuberantes propagandas de álcool, não parece ser suficiente para os brasileiros entenderem sua relação com a bebida. A Pesquisa Domiciliar sobre o Padrão de Consumo de Álcool e suas Características Sociodemográficas no Brasil descobriu que, entre aqueles que abusam das bebidas alcoólicas, 75% acreditam beber de forma moderada. 11% deles afirmam ingerir muito álcool, mas não acreditam que isso traga problemas. Entre os brasileiros, 45% bebem – 17% de forma abusiva. 

Essa falta de percepção dos brasileiros é vista pela socióloga Mariana Thibes como uma prova de que é preciso “informar e esclarecer a população acerca dos parâmetros de consumo de álcool e os danos associados ao uso nocivo”. Ela alertou, em entrevista ao Globo, que “As pessoas acham que só tem problema com álcool aquela pessoa que já desenvolveu dependência. Isso não é verdade”. A OMS alerta que não há uso seguro do álcool, mas estipula o “uso moderado” como duas doses por dia para homens e uma dose para mulheres. O uso abusivo se dá quando há o consumo de pelo menos quatro doses para elas e cinco para eles em uma única ocasião no último mês.

Para a OMS, uma dose padrão corresponde a 14 gramas de álcool puro. Ou seja: uma latinha (350 ml) de cerveja, uma taça (150 ml) de vinho ou uma dose (45 ml) de uísque, cachaça, gin e outros destilados.

Hospital da USP sofre com superlotação

Os reflexos da pandemia de covid continuam a impactar o sistema de saúde brasileiro. O caso mais recente, relatado pelo Estadão, foi o do Hospital Universitário da USP, em São Paulo, que após ter se transformado em referência de urgência e emergência para toda a região oeste da cidade está enfrentando superlotação. O hospital conta com apenas 11 leitos de pronto socorro, que nunca são suficientes, e mais 11 macas, onde alojam pacientes em situação menos adequada. “Na semana passada, tivemos de colocar pacientes em cadeiras. Pensando na segurança em saúde, isso é um absurdo”, denunciou José Pinhata Otoch, cirurgião e superintendente do HU. Segundo ele, além das pessoas que deixaram de se cuidar durante a pandemia e desenvolveram problemas de saúde por isso, a alta de casos de acidentes de motocicleta também está contribuindo para a lotação do hospital. “Temos casos de pacientes que estão há mais de uma semana aguardando transferência para hospitais de alta complexidade”, alerta o médico. A superlotação também parece ser efeito do desmonte do hospital, na última década. Os leitos ativos foram reduzidos em 37% e o número de funcionários caiu de 1.853 para 1.393.

Dalcolmo: O Brasil precisa olhar para a tuberculose

A tuberculose foi tema de entrevista da pneumologista Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fiocruz e presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, concedida ao Globo. Ela alerta para a falta de controle da doença, amplificada pela pandemia: “Muitos serviços de atendimento deixaram de funcionar. Na Fiocruz não interrompemos o atendimento, mas muitos pacientes pararam de ir. As consequências foram severas, os casos se agravaram e a doença se espalhou”. Segundo seus dados, a doença deu um salto de mais de 14%, atingindo 80 mil brasileiros em 2022; as mortes aumentaram de quatro para cinco mil ao ano. 

Há uma grande dificuldade de o Brasil atingir a meta de 10 mil casos por 100 mil habitantes até 2030 – ainda registramos 38 por 100 mil. Dalcolmo alerta para o fato de que muitas pessoas têm a doença e não sabem. “O SUS oferece o tratamento completo, temos todas as drogas. Poderíamos curar todo mundo. Mas a aderência ao tratamento, que é longo e leva meses, não é boa”, lamenta. E reforça a importância da vacina BCG para diminuir os casos: “falta adesão ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) e a oferta é muito desigual nos estados. Muitas crianças não são vacinadas. Saem da maternidade desprotegidas e seja o que Deus quiser. Não precisava ser assim”. Ela afirma que novas vacinas não foram desenvolvidas porque a tuberculose é uma “doença da exclusão” – ou seja, não interessa às grandes farmacêuticas. “Precisamos de uma vacina que proteja contra a infecção e também quem já está infectado, que trate a infecção latente”, alerta.

Meningite meningocócica preocupa o Rio de Janeiro

A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro está acompanhando casos de meningite meningocócica em Campos dos Goytacazes, após confirmar quatro casos em menos de um mês. Os pacientes afetados são duas crianças de 1 e 3 anos, um adolescente de 17 e um jovem de 28, de diferentes bairros da cidade. Em 2022, a cidade teve apenas dois casos de meningite. Diante do surto, foram tomadas medidas para conter a doença, incluindo a intensificação da vacinação nas faixas etárias mais vulneráveis, além do tratamento preventivo para aqueles que tiveram contato com os pacientes infectados. Embora ainda não seja considerado um surto, a vigilância será mantida para evitar agravamentos. O subsecretário de Atenção Básica, Vigilância e Promoção da Saúde destaca a importância da vacinação como a principal forma de prevenção.

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