Brasil reduziu investimento em ciência em 2020

• Agência indiana de fomento à ciência • O estupro no Brasil • Saúde bucal receberá bônus de desempenho no SUS • Leite materno e microbiota • Fim do acordo de grãos Rússia-Ucrânia •

Créditos: Edilson Dantas
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A pandemia de covid-19 teve um impacto negativo nas atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no Brasil, levando a uma queda nos investimentos nessa área entre 2019 e 2020. Mas, ao observar melhor os dados analisados por reportagem da revista Pesquisa Fapesp, compreende-se que o problema vai além. Primeiro, há de se observar o investimento em P&D público e privado. Com as medidas essenciais para ampliar gastos sociais durante a pandemia, o chamado orçamento emergencial que permitiu “furar o teto de gastos”, o investimento público em pesquisa aumentou ligeiramente. Esses aportes mais significativos vieram principalmente do ministério da Saúde e da Ciência, Tecnologia e Inovação – foram 3,9 bilhões de reais, se somados os valores das duas pastas. Porém, houve queda nos gastos com P&D justamente no ministério da Educação e da Agricultura. 

O que causa estranheza nos pesquisadores entrevistados pela reportagem é a queda no investimento privado, de R$ 49,3 bilhões para R$ 40,3 bilhões de um ano para o outro. “A verdade é que infelizmente as empresas brasileiras sempre investiram pouco em pesquisa e desenvolvimento e essa realidade permanece inalterada”, diz Soraya Smaili, ex-reitora da Universidade Federal de São Paulo e coordenadora do Instituto Sou Ciência.

Outro dado importante de ser analisado, apresentado pela reportagem, é o da porcentagem do PIB gasta com P&D. Investimentos caíram de 1,21% do Produto Interno Bruto em 2019 para 1,14% em 2020. Na China, o investimento é mais de o dobro (2,4% do PIB); na Coreia do Norte, chega a 4,8%. “Nossa produção cresceu menos do que a de países que optaram por financiar fortemente a ciência. Se não voltarmos a investir, a tendência é que fiquemos cada vez mais para trás”, afirma Mariana Moura, diretora do departamento de Gestão Estratégica e Indicadores do ministério da Ciência à reportagem. A produção científica brasileira aumentou no período, mas em ritmo inferior a outros países. 

Índia criará agência de fomento à pesquisa com orçamento de US$6 bi

A Índia está em vias de criar uma agência nacional de fomento à pesquisa, a National Research Foundation (NRF), para estimular o desenvolvimento científico e tecnológico do país. Segundo a Nature, o primeiro-ministro Narendra Modi pretende protocolar o projeto de lei que regulamentará o financiamento da NRF nas próximas semanas – e o orçamento previsto é de vultosos 6 bilhões de dólares. A proposta, surgida pela primeira vez na Política Nacional de Educação apresentada pelo governo indiano em 2020, busca superar dois problemas: a restrição da capacidade de fazer pesquisa consistentemente a poucas universidades do país, e a limitação do financiamento à ciência por falta de uma agência robusta. No formato desenhado pelo governo, o próprio Modi (que sofre fortes críticas internas e externas por conduzir políticas centralizadoras, autoritárias e de exclusão às minorias étnicas e religiosas do país) seria o presidente do NRF, tendo os ministros da Ciência e da Educação como vices. A agência contaria ainda com um conselho de cientistas de diversas áreas.

Brasil: a tragédia do estupro em números

O Brasil registrou, em 2022, o maior número de casos de estupro da história, totalizando 74.179 ocorrências, com uma média de 205 registros do crime por dia. O levantamento revelou que 61,4% das vítimas tinham até 13 anos, sendo que 10,4% eram bebês e crianças com até 4 anos. O aumento nos casos de estupro de vulneráveis foi de 8,6% em comparação com o ano anterior, atingindo 56.829 ocorrências. A tragédia, pelo que se desenha, acontece dentro das famílias brasileiras: em 64,4% dos casos em que a vítima possui até 13 anos, o estuprador é um familiar; com vítimas maiores de 14 anos, em 37,9% dos casos o abuso é feito por algum parente. A reabertura das escolas após medidas de isolamento social pode ter contribuído para o aumento das denúncias, pois muitas crianças expostas à violência sexual dentro de casa tiveram suas situações denunciadas quando voltaram à escola. Além disso, houve aumento nos registros de feminicídios, violência doméstica e o crime de stalking, enquanto as mortes violentas intencionais tiveram uma leve redução de 2,4% em relação ao ano anterior.

Equipes de saúde bucal receberão bônus de desempenho do Governo Federal

Por meio de uma portaria publicada nesta terça-feira (18/7), o ministério da Saúde instituiu um novo pagamento adicional por desempenho para as Equipes de Saúde Bucal da atenção primária do SUS, informa a Agência Brasil. Por conta disso, além do custeio regular, os municípios e o DF passarão a receber uma verba a mais – calculada a partir dos resultados de 12 indicadores – para garantir essa remuneração extra aos trabalhadores. O sentido da proposta é fazer um “incentivo para melhorar a oferta dos serviços existentes e, principalmente, reconhecer o bom trabalho desenvolvido pelas equipes de saúde bucal”, afirmou Doralice Severo Cruz,  coordenadora-geral de Saúde Bucal do MS. A depender da modalidade da equipe, o adicional poderá ser de até R$2.449 ou R$3.267 divididos entre os dois ou três profissionais que a compõem. Segundo a pasta, o adicional significará um aumento de R$1 bilhão no financiamento federal das equipes de saúde bucal.

Leite materno corrige alterações na microbiota intestinal de bebês

Um estudo conduzido pela Universidade de São Paulo propôs que a alimentação com leite materno cumpre o papel mais importante na formação da microbiota das crianças – independente de ser oriundo da mãe ou de bancos de leite. Antes, a literatura da área se inclinava a identificar o parto como momento determinante para esse processo. “Observamos que o leite materno carrega uma carga de bactérias benéficas que se sobrepõe às bactérias maléficas e assim consegue dar resiliência à microbiota. Com isso, o fato de o bebê ter nascido de parto normal ou cesárea, prematuro ou nascido de nove meses tem pouco impacto na modulação da microbiota. O principal fator de modulação é o leite”, afirmou a professora Carla Taddei (ICB-USP), coordenadora do estudo. A pesquisa faz parte do Projeto Germina, que reúne diversos grupos de pesquisa da USP para se debruçar sobre variados aspectos do desenvolvimento saudável das crianças de até 3 anos de idade.

Os impactos do fim do acordo de grãos Rússia-Ucrânia

Neste domingo (16/7), partiu do porto de Odessa o último navio carregado de grãos —  autorizado a sair do Mar Negro sem ser atacado pela Rússia ou Ucrânia. No ano passado,  as partes em guerra haviam chegado a um entendimento para garantir as exportações de cereais que cumprem um papel relevante na alimentação de humanos e animais ao redor do mundo. Segundo o Health Policy News, o fim do acordo “terá um impacto significativo nos preços de alimentos, ameaçando a segurança alimentar de milhões de pessoas”. 33 milhões de toneladas de grãos e sementes oleaginosas puderam ser exportadas enquanto o pacto russo-ucraniano, mediado pela ONU, esteve em vigor. “Os que enfrentam a fome e a crise global do custo de vida é que pagarão o preço”, comentou o secretário-geral da ONU António Guterres. O ano passado marcou recordes de fome, com 349 milhões de pessoas sofrendo de fome aguda, segundo um relatório do Programa Alimentar Mundial. E, com o fim do acordo, essa situação pode se agravar.

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