A busca dos rastros deixados pela ômicron mundo afora

Identificação do primeiro caso nos EUA atesta a presença global da variante, agora em mais de 30 países. Diversidade de situações e locais das infecções descobertas revela panorama complexo da pandemia e valoriza trabalho dos sul africanos

.

Uma semana depois da aparição da variante ômicron, e quase um mês depois da primeira evidência de que ela existia, o mundo se dá conta da diversidade de situações relacionadas à evolução de patógenos potencialmente capazes de se converter em grandes crises sanitárias. A tolice da série de medidas atabalhoadas iniciais mede-se pelo número de países – quase trinta – em que ela foi rapidamente encontrada, nos dias subsequentes à sua valiosa identificação pelos profissionais de saúde da África do Sul.

Após o primeiro caso verificado nos EUA, na Califórnia, dia 1º/12, epidemiologistas e outros pesquisadores intensificam a procura de pistas sobre os casos de infecção conhecidos até agora. Muitos deles estão associados a viagens em geral; alguns a viagens com passagem confirmada pela África do Sul; outros em situação ainda desconhecida. Há fatos curiosos. Reporta-se agora que na Nigéria a variante já havia sido vista em meados de outubro, um mês antes das duas primeiras detecções, em Botswana, no dia 11/11, e em Hong Kong, dia 13/11. E em Botswana não há até agora identificação dos portadores: sabe-se apenas que eram parte de uma equipe diplomática em missão no país.

Em uma nota à imprensa pouco divulgada, dia 26/11, o governo botswanês disse que a ômicron “foi detectada em quatro estrangeiros que entraram em Botswana em 7/11, em uma missão diplomática”. A busca na Holanda é curiosa, como relata o Instituto Nacional de Saúde Pública e Meio Ambiente holandês. O Instituto encontrou a ômicron em amostras coletadas nos dias 19 e 23/11, antes da sua descoberta, portanto. Não está claro, apesar de suspeitas iniciais, se os infectados haviam visitado a África do Sul.

Em 26/11, de 624 pessoas retornando da África do Sul, 61 testaram positivo para a covid, e 14 tinham a ômicron. Aliás, várias “variantes” diferentes da variante. Significa, diz o Instituto holandês, que os passageiros examinados sofreram infecções distintas e independentes: causadas por diferentes fontes e em diferentes locais. A ômicron também estava na Bélgica e Alemanha antes que os sul africanos alertassem o mundo da sua existência.

A presença global da ômicron é agora patente: conforme a lista de países divulgada até o dia 30/11, vai da Austrália à Bélgica, do Brasil à República Tcheca, da Dinamarca a Gana, da Itália ao Japão, da Arábia Saudita à Coreia do Sul. Enfrentar pandemias, definitivamente, não é para amadores. O diretor da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanon, ações que fazem diferença reconhecendo a competência dos africanos: “Mais uma vez, agradeço ao Botswana e à África do Sul por detectar, sequenciar e relatar essa variante tão rapidamente”.

O reconhecimento teve repercussão e a sequência dos eventos que marcaram esse trabalho exemplar são agora bem conhecidos desde os primeiros passos, nos primeiros dias de novembro, reportados por Outra Saúde. Em 19/11, as primeiras amostras de vírus obtidas em testes positivos foram analisadas em um grande laboratório sul-africano que, com os resultados preocupantes, contatou o Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis, em Joanesburgo.

A equipe do NICD passou o fim de semana de 20 a 21/11 revendo as amostras recebidas e as relacionou a um aumento acentuado nos casos de covid ao longo da semana, indício de nova variante. Na terça 23/11, depois de checar outros 32 casos nas áreas próximas a Joanesburgo e Pretória, a equipe do NICD informou o ministério da Saúde e outros laboratórios sul-africanos.

Os resultados foram semelhantes. No mesmo dia, o NICD acessou os dados do banco científico global Gisaid, descobrindo que Botswana e Hong Kong também haviam relatado casos com a mesma sequência genética, característica da ômicron. No dia 24/11 a África do Sul informou a Organização Mundial da Saúde da descoberta, alertando o mundo do novo risco.

Leia Também: