O que diz o maior estudo já feito sobre a cloroquina

Quem tomou cloroquina e hidroxicloroquina teve mais risco de arritimia e morte. Resultado é ainda pior para uso com antibióticos

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O maior trabalho já feito sobre a cloroquina e a hidroxicloroquina no tratamento de covid-19 foi publicado na revista Lancet na sexta-feira. É preciso notar que se tratou de um estudo observacional, que partiu dos desfechos de casos encontrados nos hospitais. Para construir as melhores evidências possíveis, seria preciso ter pacientes escolhidos de forma aleatória, divididos em grupos que recebessem os tratamentos ou placebo para comparação posterior (e há dezenas de estudos assim em andamento).  No entanto, é um estudo muito abrangente: 96 mil pacientes observados em 671 hospitais de seis continentes, sendo que 15 mil receberam hidroxicloroquina, cloroquina ou uma combinação de ambos com algum antibiótico (como a azitromicina), e 81.000 pacientes não receberam nenhum desses tratamentos, constituindo o grupo de controle.

Quem tomou os remédios teve maior risco de arritmia e morte do que quem não tomou. Além disso, não houve qualquer benefício logo depois do diagnóstico. O pior resultado foi para quem tomou hidroxicloroquina associdada com antibióticos como a azitromicina (23,8% de mortes), seguido por cloroquina com antibiótico (22%), hidroxicloroquina sozinha (18%) e cloroquina sozinha (16,4%). Em todos os casos, são taxas de mortalidade maiores do que no grupo controle (9,3%). O risco de arritmia é muitíssimo maior para quem usou os reméidos: no pior cenário, 8% dos pacientes que tomaram idroxicloroquina com azitromicina desenvolveram o problema, contra 0,3% do grupo controle.

Embora ainda seja necessário aguardar o resultado de estudos mais robustos, a maior parte dos trabalhos escritos até agora não aponta nenhum benefício no uso dessas drogas. Os que apontavam têm sido criticados por falhas metodológicas graves (veja aqui e aqui). Após a publicação do novo trabalho no Lancet, o ministro da Saúde francês Olivier Véran pediu que se revisassem as regras excepcionais de prescrição de alguns medicamentos contra o coronavírus, entre eles a hidroxicloroquina.

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro, por sua vez, não se convence e segue firme na defesa da droga. “Até porque não tem outro remédio. É o que tem. Ou você toma cloroquina ou não tem nada. O que eu fico chateado também é que quem não quer tomar, não toma”, repetiu, no sábado. Mas a Secom apagou, após denúncias, um post em que dizia que “hidroxicloroquina é o tratamento mais eficaz contra o coronavírus atualmente disponível”. Deletar a publicação não deve deve ter feito muita diferença – a mensagem já está dada há tempos.

O governo indiano também não dá sinais de que vá mudar. Pelo contrário. Na sexta, emitiu um parecer sobre o uso da hidroxicloroquina de forma preventiva, expandindo a recomendação para incluir profissionais de saúde e da linha de frente assintomáticos.

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