O platô da malária

OMS lança relatório global sobre doença que matou mais de 400 mil em 2019 – a maioria no continente africano. Houve progresso nas últimas décadas, mas desde 2015 melhora estagnou

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“Morrerão mais pessoas [na África] de malária do que de covid-19 até ao final de 2020. A questão é: por que estamos dando o alarme sobre covid-19 ou ebola, mas parece tão normal que milhares de crianças morram de malária todos os anos?” – embora não negue os problemas do novo coronavírus, o questionamento de Matshidiso Moeti, diretora regional da OMS para África, tenta colocar o foco sobre essa doença que pode estar ainda mais negligenciada durante a pandemia.

O último relatório global da OMS sobre a malária, lançado ontem, traz informações preocupantes. Por um lado, houve grandes avanços nas últimas décadas: a distribuição de mosquiteiros tratados com inseticidas para populações de risco, o aumento dos diagnósticos e os avanços no tratamento levaram a quedas nas contaminações e mortes. Mas esse progresso estagnou.  No ano 2000 havia 80 casos para cada mil habitantes em risco, e essa taxa chegou a cair para 57.5 em 2015; desde então, porém, estabeleceu-se um platô em torno deste número, que foi de 56.8 no ano passado. Já as mortes caíram muito – de 24.7 por cem mil habitantes no ano 2000 em risco para 10.1 em 2019 – mas, também nos últimos cinco anos, a curva está claramente menos acentuada. Nas Américas, em vez do platô, o que se vê é mesmo um aumento nos casos e mortes desde então, puxado principalmente pela Venezuela. Um dos motivos para isso é o financiamento global insuficiente. No ano passado, foi de US$ 3 bilhões, o que dá pouco mais da metade da meta de US$ 5,6 bilhões.

A malária matou 409 mil pessoas em 2019, sendo 385 mil apenas no continente africano (por covid-19, foram até agora 50 mil vítimas por lá). Existe um receio de que a pandemia piore a situação. O relatório prevê que uma redução de apenas 10% no acesso ao tratamento antimalária na África Subsaariana pode levar a 19 mil mortes a mais; uma queda de 50% nos tratamentos levaria a 100 mil mortes adicionais na região. “Isso não é algo novo. Quando tivemos a epidemia de ebola, tivemos muito mais mortes devido à malária do que ebola nos países afetados”, diz Pedro Alonso, diretor do Programa Global da OMS para a Malária.

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