Chá de sumiço

De acordo com secretários estaduais de saúde, Eduardo Pazuello anda sumido justo no momento em que os casos e mortes aumentam no país

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A ausência do ministro da Saúde anda sendo sentida pelos secretários estaduais de saúde desde o episódio da CoronaVac, quando Jair Bolsonaro o desautorizou. É claro que, no meio do caminho, o general foi diagnosticado com covid e chegou a ficar internado. Mas Eduardo Pazuello estaria se esquivando agora, no momento em que os casos e mortes voltam a aumentar no país – e quando, mais uma vez, a coordenação nacional seria fundamental na resposta ao repique ou segunda onda.

Os secretários estaduais de saúde estariam, por exemplo, pessimistas em relação ao estabelecimento de medidas de restrição da circulação por acreditarem que a população não concordaria. A análise é seguida por governadores, que anteveem “uma resistência muito maior e numa militância mais ativa, por parte de empresários” contra futuras quarentenas. 

O isolamento continua sendo a arma mais eficaz para frear a propagação da doença e evitar o colapso do sistema de saúde. O lockdown decretado no Reino Unido no começo do mês teve o condão de diminuir 30% das infecções, contabiliza hoje uma reportagem do Guardian

Por aqui, o nível de isolamento continua baixíssimo, apesar de ter crescido timidamente entre outubro e novembro. Segundo as operadoras de telecomunicações, a taxa atingiu 47,1% no mês passado, pior nível desde fevereiro, e subiu para 47,7% em novembro

Segundo a Fiocruz, dez capitais brasileiras apresentam uma taxa de ocupação de UTIs que ultrapassa os 70%. São elas: Macapá (92%), Vitória (91%), Curitiba (90%), Porto Alegre (88%), Rio (87%), Manaus (86%), Florianópolis (83%), Fortaleza (78%), Belém (78%) e Campo Grande (76%). 

Ainda de acordo com a fundação, as maiores taxas de crescimento diário no número de casos da covid foram registradas no Paraná (8%), em São Paulo (7,8%), no Amapá (6,5%), no Rio de Janeiro (6,3%) e em Santa Catarina (5,5%). Em relação às mortes, o Rio chegou a um crescimento diário de 10%, seguido por Roraima (7,9%), São Paulo (7,7%), Goiás (7,5%), Minas (6,6%) e Rio Grande do Sul (5,2%).

Na sexta, o governador Eduardo Leite (PSDB) anunciou que o território gaúcho voltaria inteiro para a bandeira vermelha e caracterizou o momento como “difícil”. Hoje ele se reúne com prefeitos para definir as medidas a serem tomadas. No mesmo dia, a prefeitura de Curitiba resolveu fechar bares e casas noturnas por uma semana – o que é pouco diante da alarmante ocupação de leitos, mas é alguma coisa quando se olha para outras cidades que estão simplesmente deixando o vírus correr solto.

No Rio, a rede particular bateu os 97% de ocupação na sexta e o único hospital de campanha atingiu sua capacidade total no sábado. A capital fluminense passou toda a semana registrando fila de centenas de pessoas para tratamento nos leitos de UTI e as UPAs também já estão abarrotadas; nada disso abala a secretaria municipal, que negou que a cidade tenha chegado “a um patamar de ter a capacidade zerada”. A circulação de pessoas segue normal.  

Santa Catarina vive uma situação parecida. “Apesar da bandeira vermelha cobrir quase todo estado, as normas do governo são básicas e bem mais leves do que as decretadas no início da pandemia, em março. Em geral, os estabelecimentos permanecem abertos, mas com restrições de público. Cabe às prefeituras implantarem medidas mais rígidas para conter a doença. O estado intervém apenas se, após três semanas, as regras adotadas pela região não baixarem os números”, contam as repórteres Katna Baran e Vanessa da Rocha. Parte disso é creditado à instabilidade política do estado. Na sexta, Carlos Moisés (PSL) se livrou do impeachment. Mas ele ainda responde a outro processo. 

Em São Paulo, depois de um disputado segundo turno das eleições municipais, o governo estadual finalmente vai discutir se a capital regride na flexibilização. O presidente da Sociedade Paulista de Infectologia, Eduardo Medeiros, acredita que deveria haver restrições a viagens no fim do ano – medida que deveria ser acompanhada de uma campanha de conscientização da população. “Agora é o momento de recuar, aumentando o distanciamento social, restringindo a circulação de pessoas, diminuindo o horário de funcionamento de bares e restaurantes. A cidade voltou praticamente ao seu normal, como estávamos em novembro do ano passado”, defende na Folha

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