O pacto dos governadores como contraponto ao caos promovido pelo governo federal

Gestores preparam pacto nacional para fortalecer isolamento social e alertar população sobre gravidade da crise

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Com o governo federal jogando contra as quarentenas, o Fórum Nacional dos Governadores resolveu se articular para estabelecer critérios gerais de restrições que ajudem a diminuir as curvas de contágio do novo coronavírus. A notícia foi dada ontem pelo governador do Piauí, Wellington Dias (PT), que afirmou à imprensa que 22 governadores já haviam concordado com a criação de um “pacto nacional de contenção da covid-19”. 

De acordo com a coluna Painel, da Folhaa ideia não é fazer um lockdown, mas estabelecer algumas proibições simples no país inteiro, como a venda de bebidas alcoólicas a partir de um determinado horário e o de impedimento de eventos com aglomeração. Continuará cabendo a cada governador decretar quarentena em face do colapso do seu sistema de saúde. 

O período de consulta aos governadores acaba hoje, e a ideia é que as medidas entrem em vigor em caráter experimental até o próximo domingo (14). Até ontem à noite, cinco estados não haviam se manifestado sobre a proposta: Mato Grosso do Sul, Tocantins, Acre, Rondônia e Roraima. Os dois últimos são governados pelo PSL. 

O Conass, conselho que reúne os secretários estaduais de saúde, ajudou na elaboração da proposta. No final de semana passado, a entidade publicou uma carta aberta ao Ministério da Saúde, pedindo que a pasta instituísse um toque de recolher nacional, mas recebeu do general Eduardo Pazuello a resposta de que Jair Bolsonaro não concordaria com nada que tivesse a ver com restrições à circulação. 

Um dos objetivos do pacto dos governadores também é fazer um contraponto no plano da comunicação, indo contra as orientações genocidas do presidente da República e enviando uma mensagem unificada à população de que o momento é crítico e há necessidade de que a circulação seja reduzida para diminuir a ocupação nos hospitais. No plano político, o Valor observa que a ação também servirá para diluir o ônus político dos gestores locais que decretam medidas restritivas. 

“Não adianta o meu estado fazer e outro não fazer. Isso é o que chamei de ‘enxugar gelo’, ou seja, a transmissibilidade tem que ser cortada nacionalmente. É claro que o ideal é como fazem outros países, o poder central estar fazendo isso”, disse Wellington Dias em entrevista à GloboNews

Na mesma entrevista, o governador do Piauí indicou que os governadores vão renovar a pressão para que a Anvisa libere a Sputnik V: “É importante a gente acelerar aqui com a Anvisa. A gente não pode ter uma operação de guerra, e a Anvisa com exigências que são próprias de um [período de] normalidade. A Sputnik tem vacina, pode oferecer. Tem a União Química, que produz no Brasil. É o Brasil com seus laboratórios, com cientistas brasileiros – Fiocruz, Butantan e União Química – que vai produzir a maior quantidade, especialmente nessa fase de maior disputa mundial”.

O objetivo dos governadores é sair do patamar atual de 8,2 milhões de vacinados (o equivalente a 3,8% da população) para 50 milhões em abril. Lembramos que o número se refere apenas aos brasileiros que receberam a primeira dose da vacina. Contando quem já recebeu duas doses, o percentual cai para 1,2% (2,6 milhões de pessoas). 

Além da Sputnik V e das vacinas produzidas pela Fiocruz e Butatan, os governadores querem que o Brasil receba prioridade no envio de imunizantes da Covax Facility. Argumentam que a própria Organização Mundial de Saúde (OMS) vem apontando a gravidade da situação no país. 

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