Os primeiros números da volta às aulas em SP

Com base nos dados da secretaria estadual de Educação, Outra Saúde calculou contaminações e mortes na população em geral e nas escolas no período em que houve aulas presenciais. Resultados confirmam incidência mais baixa na comunidade escolar

.

Este texto faz parte da nossa newsletter do dia 9 de março. Leia a edição inteira. Para receber a news toda manhã em seu e-mail, de graça, clique aqui.

Um mês após a volta às aulas em São Paulo, a Secretaria Estadual de Educação divulgou ontem números sobre os primeiros impactos. Foram registrados 4.084 casos de covid-19 e 21 mortes ao todo.

E aqui há um problema muito grave: no caso dos óbitos, 13 foram de pessoas que tinham comorbidades e, segundo o próprio protocolo estadual, nem deveriam estar trabalhando. Entre as contaminações, 59% aconteceram na rede estadual, 37% na particular e 3% na municipal (porém, as escolas municipais da capital não registram seus dados sistema estadual).

Mas a incidência da doença entre trabalhadores e estudantes foi 33 vezes mais baixa do que a registrada no estado. Contando desde a primeira semana de janeiro, nas escolas públicas a particulares houve ao todo 41 casos confirmados a cada 100 mil pessoas, enquanto na comunidade em geral esse número foi de 1.393 por 100 mil.

Para o epidemiologista Wandeson de Oliveira, que foi secretário do Ministério da Saúde na gestão Mandetta e hoje coordena a Comissão Médica da Educação de SP, trata-se de uma confirmação de que as escolas podem ser ambientes seguros. “É natural que se tenha caso, ninguém prometeu risco zero. Mas esperamos que seja inferior ao da comunidade e vimos que é infinitamente menor”, diz ele.

Por aqui, estranhamos um pouco o fato de a secretaria incluir dados desde o início de janeiro. Naquele mês a rede estadual até abriu para orientação das famílias, aulas de reforço e atividades de planejamento, mas as aulas – e, portanto, o maior movimento –  só começaram a voltar em fevereiro. Imaginamos que isso poderia ter diluído os números, fazendo a situação parecer melhor do que é. 

Então pegamos os dados brutos da Saúde para estimar como as infecções podem ter se comportado no período em que efetivamente houve aulas presenciais.

Tomamos apenas as infecções e mortes registradas entre fevereiro e o dia 6 de março no estado e, na falta de dados melhores, optamos por considerar que todos os casos das escolas aconteceram nesse período (e nenhum em janeiro).

Mesmo assim a comparação parece encorajadora. A taxa de infecções por 100 mil habitantes ficou em 718 na comunidade em geral, contra 41 nas escolas. Fizemos o mesmo cálculo em relação às mortes: 18 por 100 mil no geral, contra 0,21 nas escolas.

Em tempo: ontem o Reino Unido retomou totalmente suas aulas presenciais após mais de dois meses de confinamento. Mas isso acontece em um momento diferente lá: houve lockdown estrito com ampla vacinação – e forte queda nas contaminações, internações e mortes – e essa é a primeira etapa das reaberturas.

Os protocolos também são muito diferentes. O uso de máscaras não é obrigatório, mas aconselhado para adolescentes quando não estiverem ao ar livre. Eles deverão também fazer testes periodicamente. Já as crianças menores na verdade são aconselhadas a não usar máscaras (o que tem gerado várias críticas), e professores de escolas primárias só precisam usá-las quando o distanciamento entre adultos não for possível (nos corredores, por exemplo). A ver como as coisas se desenrolam. 

Leia Também: