O crescimento explosivo de desabrigados em SP
Novo Censo mostra: em 2021, mais de 31 mil pessoas dormiram nas ruas ou em abrigos públicos na cidade mais rica do país. Em seis anos, população em situação de rua na capital paulista dobrou. Pandemia fez agravar em 31% a situação de moléstia
Publicado 31/01/2022 às 06:00 - Atualizado 30/01/2022 às 22:39
Em um espaço de meia década, o crescimento cada vez maior de acampamentos improvisados com famílias inteiras chocam a paisagem da região central de São Paulo. A mudança brusca no perfil começou a partir de 2019. Após o início da pandemia, de 24,3 mil, a população em situação de rua atingiu 31,8 mil pessoas em 2021. Os dados são do Censo da População em Situação de Rua de São Paulo, organizado pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social.
Encomendado pela prefeitura, o levantamento deveria ter sido feito em 2021, mas foi adiantado face ao cenário agravado pela crise sanitária. Entre pessoas em situação de extrema pobreza, ou que tiveram vínculos familiares rompidos, 60,2% ocupam as calçadas, canteiros, marquises, e demais espaços públicos na cidade. E cerca de 39,8% frequenta os centros de acolhimento disponibilizados pela prefeitura. Segundo a pesquisa, 83,4% são homens e mais de 70% negros.
A informação mais chocante é a mudança radical no perfil dessa população: em 2019, apenas 0,5% dos pontos de concentração de moradores de rua em São Paulo tinham a presença de crianças e adolescentes. Em 2021, esse número saltou para 2,1%. O percentual de mulheres também passou de 14,8% para 16,6%. E justamente pelo aumento de famílias morando nas ruas – cuja necessidade por privacidade e segurança são centrais – o Censo constatou um aumento de 2 mil barracas em 2019, para 6.778 em 2021.
Era comer ou pagar aluguel: diante da necessidade de isolamento, famílias em situação de extrema vulnerabilidade, desempregadas em meio a crise da covid, foram despejadas por não terem condições de arcar com as contas da casa. O professor Nabil Bonduki, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, lamenta, em artigo publicado na Folha, o descompasso tanto da prefeitura quanto do governo federal para lidar com a calamidade anunciada.
Agora, a prefeitura tenta remediar, mas deveria ter ampliado programas de Bolsa-Aluguel e intermediado negociações com locadores para evitar o desalojamento muito antes. Nabil reafirma a importância de lutas encabeçadas por movimentos sociais, que alçaram o programa Despejo Zero, que ainda hoje pressiona na Justiça pela garantia de um teto em meio a catástrofe.