As novas linhagens da ômicron e o aumento de casos nos EUA

Enquanto países relaxam medidas de combate e rastreamento da covid, duas novas subvariantes podem estar dando início à quinta onda na África do Sul. Nos EUA, ausência de políticas de testagens criam suspeita de “onda invisível” da ômicron

Primeira imagem da Ômicron, da Universidade de Hong Kong Divulgação
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No final de semana, foi lançada a primeira versão de um estudo sul-africano que analisou amostras de duas subvariantes da ômicron, as cepas BA.4 e BA.5, que haviam sido registradas no mês passado na lista de monitoramento da covid da Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo a pesquisa, elas são capazes de driblar a imunização adquirida pelas vacinas e podem provocar uma nova onda. Na África do Sul, esses novos casos já estão surgindo com agilidade, depois do último pico, registrado em dezembro passado. Autoridades sanitárias apontam que o país pode entrar em uma quinta onda mais cedo do que o esperado – apenas cerca de 30% da população de 60 milhões estão completamente vacinados.

O cientista de origem brasileira Túlio de Oliveira, diretor da Plataforma de Sequenciamento de Pesquisa e Inovação KwaZulu-Natal da África do Sul, disse que BA.4 e BA.5 demonstram como o vírus está evoluindo de maneira diferente, à medida que a imunidade global aumenta. O resultado são infecções sintomáticas com as novas subvariantes. Os novos dados, com informações colhidas de 39 participantes – apenas 15 deles vacinados – mostraram que o grupo protegido mostrou capacidade de neutralização do vírus cinco vezes maior, enquanto nas amostras não vacinadas, houve uma diminuição de quase oito vezes na produção de anticorpos em comparação ao impacto da linhagem original da variante.

Já nos Estados Unidos, um exemplo do que pode ocorrer com a chegada cada vez mais frequente dessas novas cepas. Desde o início de março surgem relatos, de Nova York, de pessoas se queixando de sintomas, como perda de olfato, e feeds das redes sociais lotadas de selfies de usuários em isolamento – algumas pela segunda ou terceira vez. Longe de ser um fato isolado, a média nacional de infecções disparou de 27 mil, há um mês, para 81 mil, na contagem de ontem. E há ainda mais um problema: os atuais números de casos em solo estadunidense podem não representar a realidade, já que houve uma diminuição da testagem.

O complicado, relatam pesquisadores ouvidos pelo jornal The Atlantic, é que uma onda invisível é possível porque os números mostram apenas os casos das pessoas que se testam individualmente. Não apenas a compreensão da contagem de casos é limitada, mas a própria análise epidemiológica no país tem ocorrido de forma aleatória, e todos os meios possíveis de busca pelo vírus – testes positivos, águas residuais e hospitalizações – são “imagens borradas que tentamos reunir para descobrir o que está acontecendo”, disse Jennifer Nuzzo, epidemiologista da Universidade Brown à reportagem. E a situação pode piorar com a fadiga pandêmica: com o relaxamento dos hábitos que antes evitavam infecções, as pessoas podem se reinfectar e ignorar sintomas mais leves, que não reconhecem como covid, explica a pesquisadora.

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