Covid longa: fardo maior para as mulheres

Em um estudo na Itália, 97% delas continuaram a ter sintomas meses após a infecção, contra 84% dos homens. Fadiga e falta de ar são os piores sintomas. Com a pandemia em seu terceiro ano, cresce a dúvida: vacinas poderão aliviar as sequelas?

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Com o aparente controle da propagação do vírus e uma imunidade mais ampla adquirida pela população, a covid longa – prolongamento dos sintomas até cinco meses depois da infecção pela Sars-CoV-2 – emerge como uma preocupação cada vez mais importante. Um estudo conduzido por pesquisadores na Universidade de Parma, na Itália, e publicado na revista Journal of Women’s Health, acompanhou homens e mulheres ao longo de quase um ano para medir se fatores como idade, doenças crônicas e o sexo biológico podem ser determinantes para a permanência dos efeitos da doença. Ao mesmo tempo, cresce o interesse por análises que respondam se os imunizantes podem aliviar, a longo prazo, esse próximo desafio que afeta tanto a qualidade de vida quanto os sistemas de saúde.

Segundo pesquisa, reportada pela Folha, o grupo de cientistas recrutou 223 pacientes que passaram por atendimento no centro hospitalar, entre março de 2020 e maio de 2021, e envolveu 134 homens e 89 mulheres. A avaliação levou em conta a quantidade de sintomas reportados ao longo de 23 semanas. Embora os homens apresentassem maior risco de desenvolverem sintomas mais graves durante a fase aguda, estes persistiram ao longo de mais tempo nas mulheres: em 97% delas contra 84% dos rapazes. Nelas, os efeitos da covid permaneceram iguais ou ainda piores do que durante o auge da infecção.

Na comparação, os piores sintomas sentidos por elas são fadiga (75% contra 39% nos homens); falta de ar (79%-63%); problemas no sono (60%-37%); e dores no peito (43%-19%). Outras sequelas descritas são tosse, palpitações e dores musculares. Sobre os fatores de predisposição para o aparecimento da covid longa, o estudo apontou que apresentar falta de ar, dores no peito, palpitações, dores no corpo e problemas no sono estariam mais associados a continuar a apresentar sequelas meses depois da doença.

Os principais estudos sobre esse mal ainda pouco conhecido, mas alarmante, foram reunidos em uma reportagem produzida pelo New York Times. Segundo ela, a Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido realizou uma análise de oito estudos publicados sobre o tema. Seis deles apontam que pessoas vacinadas que foram infectadas com o coronavírus estão menos propensas a desenvolver sintomas da covid longa que pacientes não vacinados. Outro estudo, também britânico, encontrou efeitos mais robustos dos imunizantes: em uma pesquisa que colheu relatos virtuais de 1,2 milhões de pessoas, encontrou-se um risco 50% menor de sintomas persistentes entre os pacientes vacinados.

Há dezenas de outros estudos, descritos na matéria – alguns inclusive sugerem que vacinas não evitam ou aliviam as sequelas da covid. Mas há um consenso, segundo o jornal: elas são eficazes para evitar que as pessoas fiquem gravemente doentes devido à infecção por todas as variantes conhecidas até agora. E muitos estudos já descobriram que pacientes com covid que foram hospitalizados são mais propensos a ter problemas de saúde duradouros. Portanto, ao proporcionar versões mais leves da covid, as vacinas devem reduzir as chances desse tipo de caso pós-covid de longo prazo.

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