No Brasil, variantes se espalham livremente

Como era de se esperar, linhagem P.1 tem transmissão comunitária fora do Amazonas. Cidade paulista entra em lockdown com UTIs lotadas

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Ainda em meados de janeiro dissemos por aqui que naquela altura a P.1 (linhagem do novo coronavírus identificada primeiro em Manaus) provavelmente já estava em vários estados brasileiros. Seu espalhamento era previsível – ela começou a circular no país provavelmente em outubro/novembro do ano passado e nada foi feito para bloquear o contágio nas cidades onde foi detectada. Ainda não foi comprovado se a P.1 é mais letal ou mais transmissível, mas há evidências que apontam para seu potencial de escapar da imunidade produzida por infecções anteriores – ou seja, de reinfectar mais. Além disso, ela tem mutações semelhantes às da B.1.351, identificada na África do Sul, que reduz a eficácia de algumas vacinas.

O estado de São Paulo já registrou pelo menos 25 pacientes com ela até a segunda-feira, sendo que 16 não haviam estado no Amazonas nem em contato com ninguém que viajou para a região. A transmissão é comunitária. Entre os infectados, a maior parte está em Araraquara (12) e na capital (9). Também foram identificados sete casos com a B.1.1.7 (que levou o Reino Unido a um longo confinamento), todos em São Paulo e Sorocaba. Vale pontuar que esses números provavelmente subestimam a realidade: além de não identificarmos todas as infecções, poucas amostras passam pelo sequenciamento genético que permite saber qual variante está por trás de cada infecção. 

Em Araraquara, todos os casos são autóctones, ou seja, de contaminação local. A cidade de 240 mil habitantes já estava na fase vermelha do Plano São Paulo, a mais restritiva. Mas foi além e começou na segunda um lockdown que deve se estender por 15 dias – só serviços essenciais estão abertos, e quem sair de casa precisa justificar, com documentos, o motivo. O município foi considerado um modelo durante a primeira onda, por conta dos testes em massa (a média de exames PCR realizados é quatro vezes superior à nacional, como aponta o Nexo). Desde janeiro, porém, há recordes de hospitalizações e mortes. O prefeito Edinho Silva afirma que as festas de fim de ano devem ter aumentado a contaminação, mas suspeita que a nova variante pode ter um papel nisso. Seja qual for o motivo, a cidade estava ontem com 100% dos leitos de UTI e enfermaria para covid-19 ocupados; 16 pacientes que precisavam de oxigênio aguardavam uma vaga pela manhã. 

A capital do estado, onde entra e sai gente do país inteiro, não fechou nada. Por lá, só um dos casos identificados até agora foi de transmissão local.

A propósito: no resto do mundo, boa parte dos países continua muito preocupada com a de novas linhagens, com razão. Na Europa, as curvas de contágio em geral está caindo por conta dos bloqueios, mas a disseminação das variantes acontece num ritmo bem maior do que o da lenta distribuição das vacinas. Para contê-las, o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças recomendou que os países lancem mão de confinamentos e outras medidas de redução de contágio. O órgão diz, porém, que escolas só devem ser fechadas em último caso e que, se isso precisar ser feito, que se comece pelas turmas mais velhas. 

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