Negacionismo põe as crianças brasileiras em alto risco

Por um descuido assustador, os muito jovens estão expostos a formas graves da covid. A falta de vacina pode ser fatal. É um absurdo, protesta o oncologista Drauzio Varella. Não podemos perder crianças para uma doença prevenível, espanta-se a pediatra da Fiocruz, Daniella Moore

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Não parece ter produzido o efeito devido a recomendação enfática da pediatra e pesquisadora clínica da Fiocruz, Daniella Moore, de que meninas e meninos, nesse momento, precisam muito da vacinação. Elas estão especialmente vulneráveis à covid, que, sem a vacina, fica grave e pode ser fatal. “Não temos dúvida de que elas precisam da vacina, não podemos perder crianças por uma doença imunoprevenível”, defendeu Daniella.

Pesquisadora do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, ela coordenou o estudo VacinaKids, que na primeira quinzena de janeiro analisou a intenção dos pais em vacinar os filhos contra a covid. Deveria ter sido ouvida. Mas o oncologista Drauzio Varella disse não acreditar que o Brasil vai conseguir chegar à marca de 80% de vacinados entre as cerca de 20 milhões de crianças brasileiras. “Infelizmente”, declarou ao Uol News. “O governador de São Paulo, por exemplo, disse que teria condições de vacinar todas as crianças (de cinco a onze anos) em três semanas. Mas precisa que os pais levem as crianças para as unidades de vacinação”.

É uma situação absurda, acrescentou o médico, culpando a longa campanha para desacreditar a vacina no Brasil. “Foi uma campanha sistemática que partiu do presidente da República, do ministro da Saúde”. Uma boa reportagem do Nexo Jornal aponta uma vacinação capenga. Levantou que até o dia 7/2, só 15,3% das crianças brasileiras de 5 a 11 anos estavam vacinadas contra a covid. Para o diário O Estado de S. Paulo, por desorganização dos dados, a parcela real pode ser menor, de 10%. São Paulo, imunizou bem mais, 47%, mas Tocantins imunizou bem menos, 2,4%.

A reportagem infere que o principal motivo para o ritmo vagaroso é a falta de doses. Mas os dados indicam que o negacionismo, embora restrito a 20% da população, conforme pesquisas, tem uma responsabilidade efetiva na exposição das crianças ao risco. Afinal, já se aplicaram 8 milhões de vacinas até o início de fevereiro e o estoque é suficiente para imunizar 14,5 milhões de crianças com duas doses em curto prazo. Nexo noticia que diversos pais ou responsáveis têm relatado sentir medo ou alguma desconfiança das vacinas.

Por desinformação ingênua, podem estar atrasando o cronograma e prejudicando tanto os seus filhos como os de outros pais, nos contatos escolares e sociais. E a realidade não poupa a falta de cuidado: o número de crianças e adolescentes internados com covid triplicou em janeiro em relação ao mesmo mês de 2021. Drauzio Varella faz um resumo assustador dos fatos: a covid está entre as dez principais causas de óbito entre pessoas de 5 a 11 anos no Brasil. Já tirou mais vidas do que o conjunto das mortes na infância para as quais existem vacinas.

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