“Não pode ser acidente”

Assim como “Dia do Fogo” incêndios que devastam o Pantanal desde julho podem ser criminosos, segundo investigação da Polícia Federal

Foto: João Paulo Guimarães/Repórter Brasil
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Há suspeita de que um outro ‘Dia do Fogo’, como o amazônico, possa ter iniciado queimadas no Pantanal nas proximidades de cinco fazendas – o fogo teria sido usado para remover a vegetação e transformar a área em pasto

A Polícia Federal está com dez mandados de busca e apreensão no Mato Grosso do Sul (em Campo Grande e Corumbá) para identificar responsáveis. Cumpriu quatro deles ontem, apreendendo documentos e celulares de fazendeiros. Em uma das propriedades, havia também armas e munições de uso restrito, e o fazendeiro foi preso por porte ilegal de arma de fogo. 

“As queimadas começaram em fazendas da região, em espaços inóspitos, dentro das fazendas, onde não há nada perto, o que nos faz entender que não pode ser acidente. Teoricamente, alguém foi lá para isso (colocar fogo)”, disse ao Estadão o delegado Alan Givigi.

Em se comprovando essa suposição, só esperamos que os resultados não sejam os mesmos do Dia do Fogo paraense. Naquele caso, como dissemos por aqui, um ano depois nenhum responsável foi preso nem indiciado e a maior parte da área queimada já tinha virado pastagem.

Apesar de este ano os incêndios no Pantanal terem começado cedo e de o número de queimadas no Mato Grosso do Sul vir subindo drasticamente desde julho, só agora, com quase 80 municípios e 1,4 milhão de hectares atingidos, o governo estadual decidiu decretar situação de emergência por 90 dias.

Com isso, ficam dispensados de licitação as aquisições de bens e prestações de serviço necessários ao combate. A situação foi reconhecida pelo governo federal. o que garante ao estado a possibilidade de acesso a recursos da União para ações.

No Mato Grosso, os incêndios já tomaram 64,8% do Parque Estadual Encontro das Águas, que tem 108 mil hectares. Cerca de 80 onças viviam no parque antes das queimadas. Até agora, três foram registradas com ferimentos, e a esperança é que as outras continuem lá, devido à sua resistência física – mas isso, claro, não é garantido.

Para outros bichos, especialmente os de menor porte, a previsão é muito desanimadora. Segundo o biólogo Fernando Tortato, nos anos anteriores os animais percorriam de cinco a dez quilômetros para encontrar água e proteção. Dessa vez, com uma área atingida muito mais vasta, muitos deles estão sem refúgio.

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