De que morrem os mais pobres do mundo?

Relatório do periódico The Lancet aponta que principal problema não são as chamadas ‘doenças da pobreza’, mas sim doenças não-transmissíveis. Intervenções poderiam salvar 4,6 milhões de vidas até 2030

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Não são as chamadas ‘doenças da pobreza’ as que mais afetam a fatia mais pobre da população. Uma comissão do periódico The Lancet mostrou pela primeira vez que, entre o bilhão mais pobre do mundo, as doenças crônicas não-transmissíveis (DNTs) respondem por nada menos que um terço da carga de doenças. No grupo com menos de 40 anos de idade, elas matam anualmente 800 mil dessas pessoas. É mais do que a soma dos óbitos causados por HIV, tuberculose e mortes maternas. E mais: em comparação com as populações de renda mais alta, onde a carga das DNTs está fortemente correlacionada com o avanço da idade, o bilhão mais pobre sofre maior morbidade e mortalidade em todas as idades. 

“Quando vistas pelas lentes das transições epidemiológicas, as mudanças na prevalência das DNTs estão associadas à industrialização, à crescente prosperidade econômica e ao aumento da expectativa de vida. E quando as DNTs são vistas como condições de estilo de vida, dá-se atenção aos comportamentos individuais, em vez de aos determinantes sociais mais amplos da saúde”, escrevem os editores Elizabeth Zuccala e Richard Horton. Os esforços no controle e prevenção acabam não se voltando para as necessidades dos mais pobres. Nos países de mais baixa renda, o financiamento voltado para isso é inadequado – e declinante. Segundo o documento, a implementação progressiva de novas intervenções  poderia salvar a vida de 4,6 milhões das pessoas mais pobres do mundo até 2030. 

No lançamento da publicação, Horton notou também que o papel das DNTs ajuda a explicar por que a covid-19 afeta desproporcionalmente os mais pobres, já que muitas dessas doenças são fatores de risco. “Estamos vendo que a covid-19, como acontece com todas as pandemias, atinge com mais força as pessoas mais pobres. Aqui temos uma terrível interseção de forças, uma combinação sistêmica de três epidemias simultâneas: a covid-19, a epidemia de doenças não-transmissíveis e uma epidemia de disparidades de desigualdade dentro dos países e entre os países”. 

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