Não há normal

Além de reabrirem na hora errada, cidades brasileiras querem que tudo volte a ser como antes. Não é

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
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Há dois problemas graves nas reaberturas econômicas vistas Brasil afora. O primeiro tem a ver com o ‘timing’: as cidades autorizaram o funcionamento de cada vez mais serviços quando as suas curvas de contágio ainda estavam na ascendente. Resultado? Mais infecções. 

O movimento foi verificado em 12 capitais brasileiras pelo Estadão, que viu que, após o retorno de atividades não essenciais, houve aumento dos registros no fim de junho nos seguintes locais: São Paulo, Belo Horizonte, Vitória, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Brasília, Campo Grande, Cuiabá, Salvador, João Pessoa e Palmas. Dá para comparar com os gráficos de locais onde a reabertura não levou a aumento, como Recife, Fortaleza e São Luís. 

Reforçando esse argumento, outra análise, essa da CNN, comparou Brasil, Estados Unidos e Índia – que começaram a reabrir antes que a contagem de casos começasse a cair – com outros 15 países que receberam aval da União Europeia para retomar as viagens para aquele continente. A epidemia foi controlada em locais onde as flexibilizações começaram depois de quedas constantes nos novos casos diários de covid-19. Aliás: entre os países latino-americanos, nós somos o que tem a pior avaliação popular em sua resposta à pandemia.

E uma vez iniciado, o processo de reabertura econômica não pode ser sinônimo de volta “ao normal” como se não houvesse coronavírus. Hoje, a cidade de São Paulo se prepara para reabrir bares e restaurantes. Vimos desde a última quinta-feira cenas fortes no Rio de Janeiro, onde pessoas sem máscara se abarrotaram nas ruas e houve também quem se recusasse também a cumprir o horário de funcionamento reduzido, que vai até às 23h. “Eu não vou embora”, cantou um grupo num bar da Barra da Tijuca durante uma fiscalização da Vigilância Sanitária.

Como bem disse o historiador Luiz Antonio Simas, quem delira que é imortal ao mesmo tempo naturaliza a morte alheia. “Morra quem morrer”, resumiu o prefeito da baiana Itabuna, Fernando Gomes (PTC), sobre a decisão de reabrir o comércio essa semana. Detalhe: Gomes, que está no quinto mandato, já foi condenado por irregularidades no uso de verbas para o combate à fome e num escândalo de superfaturamento de ambulância, além de ser citado pela ONG Repórteres Sem Fronteiras como suspeito de ser o mandante do assassinato de Manuel Leal de Oliveira, jornalista que investigava sua gestão.

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