Casos em alta, vacinas em baixa

Terceiro país mais afetado pela covid-19, Índia prevê chegada de vacina em agosto. Mas Academia de Ciências alerta: cronograma é “irracional”

Foto: Gajendra Bhati / Pexels
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A Índia chegou a 719 mil casos confirmados de covid-19, ultrapassando a Rússia e assumindo o terceiro lugar no ranking dos países mais afetados. São cerca de 20 mil mortes. Não há nenhum sinal de que os contágios possam começar a cair por lá. Pelo contrário: têm sido em média mais de 20 mil por dia.

E o Conselho Indiano de Pesquisa Médica (ICMR) anunciou na última sexta a previsão de que uma vacina contra o novo coronavírus seria lançada até o dia 15 de agosto. Sim, daqui a um mês. É claro que o alvoroço foi intenso e que a ideia gerou muito mais críticas do que expectativa. Afinal, nenhum dos imunizantes desenvolvidos no país está na última fase de pesquisas. Seis empresas indianas estão na corrida e, na semana passada, o governo concedeu a duas delas (Bharat Biotech, cuja vacina é a covaxin; e Zydus Cadila, que estuda a ZyCov-D) permissão para iniciar os ensaios clínicos em fase 1 e 2. No comunicado, o diretor-geral do ICMR, Balram Bhargava, pedia aos hospitais que acelerassem todas as aprovações para testar a covaxin e estivessem prontos para inscrever os voluntários até hoje, dia 7.  

A Academia Indiana de Ciências chama esse cronograma de “irracional e sem precedentes”. Vários cientistas ouvidos pela Science concordam. “Os ensaios clínicos não podem ser apressados”, diz o virologista indiano e pesquisador de vacinas Thekkekara Jacob John. Ele aponta que as fases 1 e 2 levam  pelo menos cinco meses; já a fase 3, que envolve um número maior de participantes, adicionaria pelo menos outros seis.

Com a chuva de críticas, o ICMR tentou se justificar. Em novo comunicado, disse que o dia 15 de agosto “não era um prazo”, mas sim uma tentativa de reduzir a “burocracia”. Alguns apontam que a escolha da data é provavelmente política: trata-se do Dia da Independência da Índia, quando o primeiro-ministro Narendra Modi tradicionalmente discursa sobre suas realizações.

Atualmente, a China é o país com maior número de potenciais vacinas (sete) em fase de ensaios clínicos. Os EUA têm três; o Reino Unido tem duas; e Austrália, Rússia, Coreia do Sul e Alemanha têm uma cada. 

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