Não é “só” um terremoto

Passa de 1,4 mil o número de mortos por terremoto no Haiti, país que já estava fragilizado por crise sanitária, política, econômica, humanitária e de segurança

Foto: Jose Flecher / Reuters
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Por Leila Salim

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Já são 1.419 os mortos e quase sete mil os feridos no Haiti por conta do terremoto registrado em Les Cayes, sudoeste do país, no último sábado. Mais forte que o de 2010, o tremor de magnitude  7,2 foi sentido em todo o território nacional. 

Primeiro país a abolir a escravidão, a partir de um processo de independência protagonizado por pessoas escravizadas conhecido como Revolução Haitiana ou Revolta de São Domingos (1791-1804), o Haiti foi a primeira república negra do mundo. No entanto, as sucessivas investidas neocoloniais e o capitalismo dependente conduziram o país a uma história turbulenta que, desde a independência, contou com 30 golpes e 20 constituições

O terremoto atingiu o país em um contexto já extremamente fragilizado e marcado por uma crise de dimensões políticas, sanitárias, econômicas, humanitárias e também de segurança. Os níveis de insegurança alimentar não param de aumentar e os serviços de saúde já estavam sobrecarregados para o atendimento aos pacientes de covid-19. Um mês atrás, como se sabe, o presidente do país Jovenel Moïse foi assassinado. O primeiro turno das eleições presidenciais, que deveria ser em setembro, está agora previsto para novembro. 

A atual tragédia, segundo O Globo, fez a população rememorar as dificuldades para acesso à ajuda humanitária no terremoto de 2010, quando se multiplicaram denúncias de desvios e usos indevidos de doações. A reportagem traz o depoimento de Jonathan Katz, jornalista e autor de um livro que critica a resposta internacional ao terremoto de 2010. Recuperando a experiência anterior, ele pede que “não se jogue dinheiro do Departamento de Estado para o Departamento de Defesa por meio da Usaid (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) e diga ao mundo que era dinheiro para o Haiti”. A fala é uma denúncia ao fato de que, segundo ele, grande parte dos gastos militares dos EUA após o tremor de 2010 foi direcionado à prevenção de protestos e à interrupção da imigração em massa, e não à reconstrução do país.

National Geographic explica a recorrência de terremotos na região do ponto de vista geológico – e o porquê de eles serem tão devastadores. O país está imprensado entre várias placas tectônicas em movimento. Mas, como diz a própria matéria, a dimensão da tragédia não pode ser explicada somente por causas naturais. Os efeitos dos tremores são mais destruidores porque a grande maioria dos edifícios, em função da pobreza, se ergue com estruturas e materiais de baixa qualidade, que não têm condições de resistir aos terremotos. 

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