Máscaras melhores

Alguns países começam a restringir uso de máscaras caseiras, exigindo proteção mais robusta em locais fechados. Versões de pano ainda são barreira contra vírus, mas há preocupação com variantes mais contagiosas

.

Este texto faz parte da nossa newsletter do dia 29 de janeiro. Leia a edição inteira. Para receber a news toda manhã em seu e-mail, de graça, clique aqui.

Quase um ano depois que o debate das máscaras apareceu, hoje já é praticamente um consenso que qualquer máscara protege mais do que máscara nenhuma. Mas com o endurecimento da pandemia e as novas variantes mais transmissíveis, alguns países estão começando a deixar as artesanais de lado. Duas matérias interessantes sobre essa discussão saíram ontem, na BBC e no El País

Na Alemanha, já não se pode mais entrar em espaços fechados (de escritórios a supermercados) com máscaras de pano. A Áustria anunciou que fará o mesmo. A França, que começou desaconselhando o uso delas, agora prepara um decreto impondo de fato proteções melhores: as cirúrgicas, as FFP2 e as de tecido industrial de categoria 1. FFP2 é a nomenclatura europeia das famosas N95; aqui no Brasil, o nome é PFF2. 

No El País, o pesquisador do Departamento de Doenças Infecciosas do King’s College José Jimenes diz que as máscaras caseiras não deveriam mesmo ser permitidas, porque a eficácia delas depende de variáveis como o tipo do material e o número de camadas – e elas não estão sujeitas ao cumprimento de nenhum requisito específico. Em outras palavras, ninguém sabe a capacidade de filtragem da própria máscara de pano.

“Em um mundo ideal, o correto seria que todos usassem máscaras EPIs (FFP2 e FFP3) porque são as mais eficazes para evitar a infecção e a possibilidade de infectar outras pessoas. Porém, são máscaras caras que nem todos podem pagar, nem sempre estão disponíveis e seu tempo de uso é muito limitado. Por isso, mesmo que não sejam perfeitas, acredito que o mínimo aceitável seriam as máscaras cirúrgicas, que são as usadas pelo pessoal de saúde e são mais suportáveis e acessíveis”. Os especialistas dizem, porém, que em espaços fechados nem as cirúrgicas seriam indicadas, pois sua capacidade filtrante é mais baixa que a das FFP2 e ainda por cima o ajuste é pior, deixando folgas. 

De uma ótima matéria que saiu no site The Atlantic em meados de janeiro: “Taiwan ampliou maciçamente sua fabricação de máscaras no início de 2020, de modo que em abril cada cidadão recebia um novo suprimento de máscaras de alta qualidade a cada semana, e o sistema de distribuição era regulamentado pelo governo. A taxa de mortalidade da covid-19 per capita de Taiwan é mais de mil vezes menor do que nos Estados Unidos. Hong Kong tem distribuído máscaras de seis camadas patenteadas (cuja eficácia foi testada em laboratório) a todos os cidadãos. Cingapura está pelo menos em sua quarta rodada de distribuição de máscaras gratuitas, reutilizáveis, multicamadas e com filtros para todos – até mesmo crianças, que recebem máscaras de tamanho infantil”. 

O debate é necessário, mas não muito simples. Como no começo da pandemia, há o risco de desabastecimento. Mesmo as máscaras cirúrgicas certamente pesam no bolso de quem precisa usá-las todo dia – e não é todo governo que está disposto a oferecê-las de graça.
No caso das máscaras PFF2, tem também o fato de que elas são mais difíceis de aprender a usar. E salientamos ainda a questão ambiental, que não tem sido muito levantada nessa discussão. Quase todas essas máscaras com ótima capacidade de filtragem são descartáveis e feitas de materiais cuja decomposição é bem complicada.

Este texto faz parte da nossa newsletter do dia 29 de janeiro. Leia a edição inteira. Para receber a news toda manhã em seu e-mail, de graça, clique aqui.

Leia Também: