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Equipe liderada por OMS apresenta conclusões sobre origem do coronavírus após duas semanas de investigação na China

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A equipe internacional liderada pela OMS para investigar as origens do SARS-CoV-2 junto com especialistas chineses encerrou sua missão de duas semanas no país e apresentou ontem suas conclusões. Passado mais de um ano desde que os primeiros casos foram identificados em Wuhan, era pouco provável que os cientistas chegassem muitas certezas. Assim foi. A equipe só foi realmente taxativa em afirmar que o vírus não escapou de um laboratório – algo considerado “extremamente improvável” e que sequer deve continuar sendo estudado.

“Não é impossível. Isso já ocorreu em outros países”, disse Peter Ben Embarek, que liderou os pesquisadores, referindo-se a acidentes de laboratório; ele afirmou, porém, que não havia na época pesquisas sobre vírus com as características do SARS-CoV-2, e por isso a ideia foi abandonada. 

Outras três hipóteses sobre a origem da contaminação em humanos continuam em aberto: a transmissão direta a partir de um animal, provavelmente um morcego; a via indireta, por meio de um animal intermediário; e o contágio a partir de vírus em superfícies congeladas. Esta última tem sido defendida pelas autoridades chinesas, que apostam que o vírus pode ter vindo de outro país a partir de alimentos de origem animal congelados. A teoria nunca teve muito alcance entre cientistas de outros países, e mantê-la em jogo pode ser visto como um aceno a Pequim; porém, a equipe da OMS foi cautelosa ao admitir a possibilidade, salientando que para confirmá-la seria preciso investigar toda a cadeia de fornecedores de produtos para Wuhan. 

O mais plausível, por enquanto, continua sendo a ideia de que vírus surgiu em morcegos e passou para outra espécie antes de saltar para humanos, mas ainda não se sabe que animais estariam por trás disso.  Segundo Peter Ben Embarek, as novas informações conseguidas apontam que o vírus provavelmente circulou fora de Wuhan antes de ser detectado lá; A hipótese de que um mercado local tenha sido o primeiro epicentro da epidemia foi descartada.

Os pesquisadores também não encontraram nenhuma evidência de que o vírus tenha se espalhado nesta ou outra cidade chinesa antes de dezembro de 2019. Os representantes chineses da missão bateram na tecla de que o vírus pode ter surgido em outro país, passando desapercebido; novamente, a equipe internacional não rechaçou a hipótese, mas alertou que novos estudos são necessários e que as poucas pistas apresentadas até agora nesse sentido (como um estudo que identificou anticorpos contra o coronavírus em amostras de sangue na Itália, no outono de 2019) são inconclusivas. 

Entender a origem do vírus pode soar como uma necessidade secundária quando a maior parte do mundo atravessa problemas urgentes – as mortes que se acumulam, a crise econômica, a falta de acesso às vacinas –, mas entender bem o que aconteceu é fundamental para evitar que essa história se repita. Como já dissemos bastante por aqui, outras ameaças, tão graves ou piores do que a covid-19, estão sempre à espreita. Mas a investigação da OMS demorou demais para decolar, e obviamente é uma questão tão científica quanto política. As autorizações para explorar a China vieram em conta-gotas. Uma primeira equipe da Organização chegou a Pequim ainda em fevereiro do ano passado a fim de conduzir os primeiros estudos, mas não conseguiu nem a visitar o mercado de animais vivos em Wuhan.

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