Lula entregará Ciência ao “Centrão”?

• Ampliações nas equipes da Atenção Primária • Anvisa proibe importação de maconha medicinal • Os custos dos tratamentos tardios de câncer • O baixo diagnóstico de hepatite •

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Segundo apuração da Folha, o único ministério “blindado” por Lula contra a sanha do “Centrão”, hoje, é o da Saúde. Os parlamentares fisiológicos estão de olho em pastas com orçamento alto e grande capilaridade, e desejam alguma do porte do ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família, ou maior. O presidente, que voltou ontem da Bélgica, deve se ocupar dessas negociações na próxima semana. Um ministério que começou a ser cogitado como possível entrega ao “Centrão” é o da Ciência e Tecnologia, hoje sob Luciana Santos. Ela poderia ser transferida ao ministério da Mulher, ocupando o cargo que hoje é de Cida Gonçalves. Novamente, ministérios nas mãos de mulheres estão sob ataque.

Mas a comunidade científica já começa a se movimentar para impedir essa mudança. Ontem, a Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) lançaram nota em defesa de um ministério “realmente da Ciência”. Escrevem: “Na sociedade do conhecimento, não há desenvolvimento sem intenso recurso à ciência, a única capaz de produzir tecnologias e inovação, de que tanto depende o Brasil para realizar as inúmeras potencialidades que derivam de nossa riqueza humana e natural. Por esta razão, é essencial assegurarmos o respeito à qualidade conquistada por nossa comunidade universitária e científica, bem como efetivar os compromissos que assumiu o País, tanto para a supressão da fome e da pobreza”.

Saúde anuncia ampliações na Atenção Primária

Durante o XXXVII Congresso Nacional das Secretarias Municipais de Saúde, a ministra Nísia Trindade anunciou que irá atender a todos os pedidos de expansão de equipes de atenção primária feitos pelos municípios até o dia 15 de julho. Isso representa 9,5 mil novas equipes credenciadas – sendo 2.215 equipes de Saúde da Família, 1.892 equipes de atenção primária, 2.876 equipes de saúde bucal, 884 equipes de saúde bucal com carga horária flexível e 353 equipes do Programa Saúde na Hora. “Estamos caminhando para alcançar padrões de países desenvolvidos em termos de proporção por equipe de saúde da família e população”, exaltou o secretário da Atenção Primária em Saúde, Nésio Fernandes. “Cada vez mais teremos municípios com uma equipe a cada 2 mil ou 2,5 mil habitantes. Na saúde bucal já estamos vivendo a maior expansão da história do SUS”, frisou. O anúncio, também nesta semana, de abertura de 180 mil vagas para formação de agentes comunitários da saúde serve ao mesmo objetivo de ampliar a atenção básica do SUS.

Maconha medicinal: Anvisa anda para trás

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) publicou uma nota técnica nesta quarta-feira, 19/7, proibindo a importação de flores de maconha, bem como a canábis in natura e parte da planta, para fins medicinais. A proibição foi motivada por um alegado “alto risco de desvio para fins ilícitos”. A agência está em parceria com a Polícia Federal para ampliar o proibicionismo e denunciar pessoas que estejam supostamente importando maconha para “fins recreativos”. Com esse retrocesso, quem desrespeitar a nova norma poderá responder por tráfico internacional de drogas. A medida entra em vigor a partir de hoje, 20 de julho de 2023, não sendo concedidas novas autorizações para importação desses produtos. Autorizações já emitidas terão validade até 20 de setembro de 2023. O mercado de produtos à base de cannabis medicinal registrou um aumento significativo desde 2015, com 80.258 autorizações concedidas em 2022, quase 100 vezes mais do que em 2015. Paulo Fleury, médico e filósofo perseguido por difundir o uso da maconha medicinal, escreveu em artigo recente que sua vasta experiência e pesquisa “confirmam a efetividade da cannabis ou dos canabinoides para vários distúrbios neuropsiquiátricos, inflamatórios e autoimunes, entre outros, assim como a sua máxima segurança na comparação com os medicamentos correntemente utilizados para estes tratamentos”.

O alto preço de tratar o câncer tardiamente

Um estudo realizado pelo Observatório de Oncologia apontou que, em 2022, o Sistema Único de Saúde (SUS) gastou mais de R$ 3,8 bilhões com o tratamento de pacientes com câncer. Segundo os pesquisadores, uma parcela significativa desse valor poderia ser economizada se os tumores fossem diagnosticados em estágios iniciais, quando o tratamento é mais efetivo e menos dispendioso. O levantamento destacou que uma sessão de quimioterapia para câncer de mama em estágio 1 custa cerca de R$ 134,17, enquanto o mesmo tratamento em estágio mais avançado pode custar seis vezes mais – os tratamentos avançados envolvem medicamentos específicos, mais caros, e geralmente requerem sessões extras e acompanhamento intensivo. A detecção tardia dos tumores também impacta negativamente nas chances de sobrevivência dos pacientes. O câncer é a terceira principal causa de óbitos no Brasil, superado apenas por doenças cardíacas e AVCs. Os dados reforçam a importância de campanhas de prevenção e conscientização sobre o câncer para possibilitar diagnósticos precoces, reduzir os gastos do sistema de saúde e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Hepatite: 75% não sabem que convivem com a doença

Cerca de 1 milhão de pessoas no Brasil vivem com hepatite B, mas somente 264 mil delas têm o diagnóstico para a doença, de acordo com estimativas divulgadas pelo ministério da Saúde. Apenas 41 mil pessoas fazem o tratamento recomendado para a doença. A hepatite C também é um problema, com cerca de 520 mil pessoas infectadas, mas sem conhecimento ou tratamento. Ambos os tipos de hepatite podem levar a complicações graves, como cirrose e câncer no fígado. A hepatite B não tem cura, mas seu imunizante está incluído na vacinação do PNI (Programa Nacional de Imunizações). Não existe vacina para a hepatite C, mas a doença conta com tratamento que leva à cura em cerca de 12 semanas. O ministério da Saúde estabeleceu metas importantes para a eliminação da hepatite B e C até 2030. Para a hepatite B, o objetivo é diagnosticar 90% das pessoas infectadas (atualmente estimado em 24%) e tratar 80% dos casos confirmados (atualmente em 16%). A cobertura vacinal também deve chegar a cerca de 95%. Quanto à hepatite C, pretende-se tratar 95% dos pacientes diagnosticados, mas a baixa taxa de detecção é um desafio a ser superado para alcançar esse objetivo.

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