Lígia Bahia: SUS de primeira classe deve ser luta de todos

• Covid: o risco aumentado de gestantes negras • SP fecha maternidade de referência • Superbactérias: o risco no Brasil • As mortes evitadas pelo Bolsa Família • Greve na Saúde na Coreia do Sul •

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Em videoconferência no IHU Unisinos, a sanitarista e professora da UFRJ Lígia Bahia apontou alguns flancos abertos da saúde pública para os quais os defensores de um “SUS de primeira classe”, como disse Lula em seu discurso na 17ª Conferência Nacional de Saúde, devem estar atentos. Um dos principais deles, a cobiça pelo ministério, com a Saúde podendo ser entregue a “interesses paroquiais” – como aponta Ligia, as bancadas da saúde no Congresso e no Conselhão são majoritariamente compostas por empresários do setor (em especial, os planos de saúde e as indústrias farmacêuticas). O peso dos interesses privados, aliás, já se faz sentir: “o sistema de saúde brasileiro está sendo privatizado” com as organizações sociais (OSs), diz Ligia, bem como agências como a Anvisa já operam sob a influência do empresariado. E para se posicionar nessa conjuntura? “Não apostar todas nossas fichas no governo; devemos apostar nossas fichas numa interlocução com ele, que seja uma interlocução exigente de democracia e igualdade”, opinou a especialista, com um horizonte de “mais democracia, de radicalização da democracia e de uma sociedade civil realmente mais potente”.

Gestantes negras têm 5 vezes mais risco de complicações e morte por covid-19

Um levantamento desenvolvido na Unicamp, noticiado pelo G1, constatou os perigos ampliados de complicações e morte por covid-19 que as gestantes negras correm no Brasil: um risco 4 vezes maior que pacientes não-negras de apresentar dessaturação ao dar entrada em unidades de saúde; 4 vezes maior de morrer por coronavírus; 2 vezes maior de serem admitidas em UTIs; e 2 vezes maior de receberem o diagnóstico de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Na visão de Amanda Dantas, autora principal da pesquisa (que é ligada à Rede Brasileira de Estudos em Covid-19 e Obstetrícia, a Rebraco), isso se relaciona com as “piores condições socioeconômicas das mulheres negras”, que se refletem “no acesso ao serviço de saúde e nas condições de saúde de modo geral”. A discriminação racial não fica de fora da análise: “apesar de ser mais difícil mostrar isso em dados quantitativos, o racismo e a discriminação têm impacto direto na saúde”, opina Amanda.

São Paulo vai fechar maternidade de referência em cuidado de prematuros

Os leitos de maternidade do Hospital Municipal Vila Santa Catarina, referência no tratamento de recém-nascidos considerados de risco, serão fechados e transformados em vagas de atendimento para pacientes com câncer, declarou a Prefeitura de São Paulo. De acordo com o Uol, a gestão de Ricardo Nunes (MDB) afirma ter tomado a decisão em resposta à crescente demanda de oncologia na capital – afetada também pelas recentes crises com hospitais como o A.C. Camargo. Já funcionários do hospital ouvidos sob condição de anonimidade teriam dito que há um impasse na negociação entre o município e a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, OS responsável pela gestão do equipamento. Em consequência da disputa, o orçamento do Vila Santa Catarina estaria em um déficit de mais de R$5 milhões por mês, com os recursos sendo congelados pela prefeitura. O caso evidencia mais uma vez os problemas surgidos do modelo de relações estabelecidas entre o público e o privado na saúde dominante no Brasil hoje.

Estudo detecta aumento de novas superbactérias em hospitais brasileiros

Um estudo publicado na revista Clinical Infectious Diseases observou um aumento na identificação de uma enzima associada a uma nova geração de bactérias multirresistentes nos hospitais brasileiros. De 2015 a 2022, a taxa de detecção da enzima metalobetalactamase New Delhi (NDM-1), presente em enterobactérias, praticamente sextuplicou, subindo de 4,2% a 23,8% – e passando por um auge durante a pandemia da covid-19. De acordo com Carlos Kiffer, autor principal do estudo, em entrevista à Folha de São Paulo, “aqui no Brasil não tem nenhum [antibiótico] comprovadamente eficaz para a NDM”, o que faz aumentar a preocupação com o quadro. Ainda na visão do professor de infectologia da Unifesp, o “sucateamento e a redução de pessoal disponível para controlar a infecção hospitalar” são alguns dos principais fatores que levaram ao aumento – além do “cenário de hospitais superlotados, profissionais despreparados e o uso indiscriminado de antibióticos”. 

Em 20 anos, ações como Bolsa Família evitaram 740 mil mortes de crianças no Brasil, México e Equador

740 mil mortes de crianças foram evitadas no Brasil, no México e no Equador nas últimas duas décadas devido a programas de transferência de renda. A conclusão é de um estudo internacional capitaneado pelo Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal) que analisou os impactos desse tipo de política pública na saúde. A pesquisa também concluiu que, no período de 2000 a 2019, a mortalidade infantil caiu em 24% – a maior variação foi de 28%, no Brasil –, a hospitalização por doenças associadas à pobreza foi reduzida em 9% e a mortalidade de bebês de até um ano de idade diminuiu em 30%. No Brasil, o programa que serviu de objeto para a investigação foi o Bolsa Família. Já nos demais países, o Progresa (México) e o Bono de Desenvolvimento Humano (Equador). Em todos os casos, o “alívio imediato na pobreza ajuda a reduzir indicadores de mortalidade ligados por exemplo à fome e à desnutrição, mas as funcionalidades do programa vão além em garantir para muitas dessas crianças o primeiro acesso ao serviço de saúde”, explica Daniella Medeiros (UFBA), uma das autoras do artigo divulgado pela Folha de São Paulo.

Profissionais de saúde da Coreia do Sul se preparam para greve nacional

Uma greve dos trabalhadores da saúde da Coreia do Sul com âmbito nacional teve início na última quinta-feira, 13/7, mobilizando as categorias da área por bandeiras como o aumento dos salários e a contratação de mais profissionais. A ação foi convocada pelo sindicato Korean Health and Medical Workers’ Union (KHMU), com a aprovação de 92% dos filiados à entidade. Segundo o boletim People’s Health Dispatch, as exigências dos trabalhadores incluem: uma compensação que remunere dignamente os que trabalharam durante a pandemia da covid-19; o estabelecimento de uma proporção máxima de 5 pacientes para cada enfermeiro; e a integração de mais médicos e enfermeiros à força de trabalho. Pesquisas divulgadas pela KHMU apontam que 80% das enfermeiras com menos de 30 anos na Coreia do Sul pretendem mudar de carreira e que 22% delas pulam refeições pelo menos quatro vezes por semana devido à rotina de trabalho extenuante. Tal cenário ajuda a explicar a força de seu movimento hoje.

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