Juventude, a vítima oculta da pandemia

• As (baixas) perspectivas dos jovens pós-pandemia • Ministério garante compra de insulina • 200 milhões para hemodiálise • Morre a primeira pessoa diagnosticada com autismo • ButanVac em dificuldades • Congelamento de órgãos para transplante •

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Que milhões de crianças e jovens ficaram sem escola por longos períodos, nos tempos de covid, já era bem sabido. Mas quais foram as consequências? A primeira fase de uma pesquisa internacional a respeito foi apresentada na Revista Fapesp. Os resultados expressam, de forma nítida, o viés social da doença. Do ponto de vista médico, crianças e jovens tiveram, em geral, sintomas brandos. Mas os transtornos e frustrações em suas perspectivas de vida foram graves – e estão claramente relacionados à pobreza e à precariedade das políticas públicas.

Conduzida no Brasil pela Escola de Saúde Pública da USP e realizada nos bairros paulistanos de Heliópolis e Paraisópolis, a pesquisa identificou as esferas de vida da infância e juventude mais afetadas pela pandemia: Educação, Alimentação saudável (com a interrupção dos programas de merenda escolar) e lazer (pelo fechamento dos equipamentos culturais e parques). Nestes três aspectos, sofreram os mais pobres, devido a condições estruturalmente desfavoráveis. No caso do ensino a distância, mostra a pesquisa, o problema nem era o computador ou a internet – mas a falta de espaço nas casas, que impedia os estudantes de se concentrar.

Compra de insulina garantida, após crise

Enquanto a mídia corporativa dá vazão a especulações do bloco fisiológico do Congresso Nacional, o ministério de Nísia Trindade segue a produzir políticas públicas. Nesta segunda, foi anunciada a compra de insulina, necessária a cerca de 1 milhão de brasileiros diabéticos que precisam aplicá-la diariamente. Como já publicado em artigo de Reinaldo Guimarães no Outra Saúde, este insumo básico tem seu mercado dominado por três grandes corporações que estabelecem seus preços. 

Matéria da Folha de algumas semanas registrou que o estoque de alguns estados chegou a acabar no mês de maio. Como resolução imediata, o ministério estava remanejando os estoques entre as unidades federativas e fazendo compras emergenciais. Agora, o governo conseguiu realizar compra emergencial da Novo Nordisk, que já tem registro na Anvisa, e o abastecimento deve se iniciar na próxima semana.

Saúde libera 200 milhões para hemodiálise 

Foi publicada em 23 de junho a Portaria 762, que oficializa a liberação de R$ 200 milhões para centros de hemodiálise do SUS. O repasse se divide em duas categorias: serviços que tenham até 19 máquinas de diálise em operação e aqueles que possuem de 20 a 29 aparelhos. “O recurso é calculado com base anual e será transferido mensalmente por meio do Componente do Fundo de Ações Estratégicas e Compensação (Faec), devendo ser repassado aos estabelecimentos contemplados”, informa a Agência Brasil

O SUS conta, segundo dados de 2021, com mais de 26,3 mil máquinas de hemodiálise pelo país em 723 estabelecimentos de saúde habilitados para o procedimento. A estimativa é que 184 mil brasileiros estejam passando por alguma Terapia Renal Substitutiva (TRS), ou seja, quando há a necessidade de suprir a função dos rins em pacientes que apresentam falência renal aguda ou crônica.

A morte do primeiro autista e o avanço acelerado do transtorno

Em 1943, Leo Kanner, um psiquiatra austríaco que vivia em Baltimore (EUA) descreveu pela primeira vez, num artigo, o que chamou de “distúrbios autistas de contato afetivo”. Seu texto relatava os casos de 11 crianças cuja condição diferia “de forma marcante e única de qualquer coisa relatada até agora”. O primeiro paciente apresentado – o “Case 1” – era Donald Triplett, então com dez anos. Filho de um advogado rico e influente do estado do Mississipi, Donald morreu em 15 de junho último, aos 89 anos, de câncer.

O caso evoca dois aspectos relacionados ao autismo. Primeiro, o papel do ambiente no acolhimento das pessoas que apresentam a condição. Uma reportagem de fôlego publicada pela BBC em 2016 mostrou que Donald tinha vida digna – frequentou o ensino superior, trabalhou, viajou pelo mundo – não apenas devido à condição privilegiada da família. O fator decisivo, mostraram os repórteres, havia sido a aceitação do garoto (mais tarde adulto e idoso) pela pequena comunidade de Forest, onde viveu.

Em segundo lugar, vale especular sobre os porquês do rápido crescimento dos casos de autismo. Nos EUA, uma em cada 110 crianças desenvolvia a condição, em 2006. Apenas 17 anos depois, em março último, a prevalência havia saltado para 1/36. Novas condições sociais ou ambientais? Maior facilidade no diagnóstico? Ou tendência a enquadrar em alguma categoria de “distúrbio” qualquer condição que desafie a “normalidade”?

ButanVac: faltam voluntários para finalizar testes

Em fase avançada de testagem, a vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan contra a covid carece de voluntários. São necessárias cerca de 400 pessoas para dar sequência às análises e, por ora, apenas 70 estão inscritas como voluntárias. Elas precisam ter tomado a última dose há no mínimo quatro meses. “A gente compara os títulos de anticorpos do voluntário com ele mesmo. Então, a gente testa antes dele ser vacinado e esse é ponto de partida para ver quanto ele ganhou de anticorpos com a vacinação”, explicou Fernanda Boulos, que é diretora-médica do Instituto Butantan, ao Jornal Hoje. A Spintec, desenvolvida em laboratório da UFMG, é outro imunizante anticovid brasileiro que está bastante avançado, mas penando para avançar para novas fases.

Será possível congelar órgãos antes de transplantá-los?

De cada cem possíveis transplantes de coração no Brasil, em 35 os pacientes deixam de ser salvos, porque os órgãos doados não chegam a tempo. Entre 2011 e 2015, últimos dados consolidados disponíveis, perderam-se por este motivo 982 corações, pulmões, fígados e pâncreas – um a cada dois dias. Por isso, tem relevância o experimento de transplante após congelamento, realizado com camundongos na Universidade de Minnesota (EUA) e recém-relatado pela revista Nature Communications. Os órgãos transplantados foram cinco rins que haviam sido congelados durante cem dias. Após este período, os cientistas os reaqueceram, eliminaram fluidos e nanopartículas gerados no processo e implantaram em cinco camundongos. Trinta dias depois, os pequenos roedores realizavam, sem necessidade de novas intervenções, suas funções renais.

O procedimento é inédito, segundo a publicação. O congelamento foi induzido por elementos químicos, para que ocorresse de forma rápida e evitasse a formação de gelo. O reaquecimento foi realizado com uso de nanopartículas de óxido de ferro que, quando ativadas por ondas eletromagnéticas, geram calor. Além de plenamente funcionais, decorrido um mês os rins estavam 100% funcionais e “totalmente indistinguíveis de transplantes de órgãos frescos”. Novos estudos são necessários para saber se as mesmas técnicas serão bem-sucedidas em humanos, e com outros órgãos. Segundo os pesquisadores, o próximo passo é tentar transplantar rins de porcos.

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