Já há 48 mil mortes excessivas em 2023

• As mortes excessivas persistem no pós-pandemia • 2022 teve melhores índices de vacinação? • Encontro nacional de estudantes de Enfermagem • Estudo com IA na Amazônia • Ministério financia pesquisa em Saúde Coletiva •

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Um dado que revela a dimensão total dos efeitos da pandemia é o das chamadas mortes excessivas, isto é, óbitos acima da curva demográfica que o período da covid registrou. Entre seu início e até janeiro de 2023, como mostrou o Outra Saúde, foram 1.143.000 mortes em excesso no país, isto é, 443 mil a mais do que a conta oficial da covid, em números levantados pelo Conass. De um lado, percebe-se a subnotificação, uma vez que parte desta cifra é causada por Síndrome Respiratória Aguda Grave, o que leva a crer se tratar de covid não diagnosticada. De outro, outras doenças que deixaram de ser tratadas e rastreadas da melhor maneira durante a pandemia se manifestaram e contribuíram para o número.

Já em 2023, o Conass informa que há cerca de 48 mil mortes em excesso, isto é, mesmo depois da vacinação ter sido garantida a todos ainda há quem morra de covid, em especial os que negligenciam a imunização, e também há mortes por doenças que poderiam ter sido melhor tratadas no sistema de saúde, como exemplifica a fila de cirurgias no SUS, que cresceu no período. Por fim, outros fatores ainda não rastreados podem estar a contribuir para esses óbitos acima da curva esperada. “À medida que a mortalidade por covid cai drasticamente pela vacinação, não sabemos se a mortalidade por outras causas irá retornar ao padrão observado até 2019 ou se as mudanças – tanto aumento como declínio, dependendo da causa de morte – ainda irão persistir por um tempo. Além disso, ainda temos pouca compreensão das consequências a longo prazo da Covid longa na mortalidade”, ponderou a demógrafa Marcia Castro em entrevista à Folha.

Por sua vez, o ministério da Saúde afirmou, em 6/9, que monitora a covid, que segue em ritmo normal de infecções, de acordo com as últimas semanas epidemiológicas, com cerca de 11 mil novos casos semanais. Ainda assim, a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, aproveitou para reforçar a importância das vacinas. “Apesar do decreto de emergência de saúde pública ter sido revogado, a Covid-19 é uma doença que seguirá causando infecção e adoecimento. É fundamental que a população continue se protegendo com todas as possibilidades para que possamos evitar a gravidade dos casos e o óbito”. Por fim, outra novidade da semana que passou foi a liberação pela Anvisa para o início da fase de testes da SpiN-Tech, primeira vacina 100% nacional anticovid, desenvolvida pelo Centro de Tecnologias de Vacinas da UFMG.

Uma recuperação nos índices de vacinação

Estudo realizado pelo Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância Fiocruz/Unifase), com metodologia própria de análise de dados, afirma que houve um aumento na cobertura vacinal de quatro tipos de vacinas em 2022, após uma queda iniciada em 2015 que se acentuou sucessivamente. As vacinas BCG, dada em recém nascidos, contra pólio, a tríplice bacteriana (difteria, tétano e coqueluche) e a tetraviral (difteria, tétano e coqueluche) cresceram em seus indicadores de vacinação. No entanto, os números do ministério da Saúde apontam índices menores, ainda que também atestem uma retomada da adesão à vacina. Tanto um como outro índice seguem abaixo da meta de ao menos 95% de cobertura. Mas o movimento de convencimento e colaboração da sociedade, conforme aludido pela ministra Nísia Trindade, para recuperar os melhores índices de imunização já vistos pelo país, pode estar em marcha.

Estudantes de enfermagem convocam encontro nacional

Sob o tema “Contra-atacar as ideias da força e reconstruir o Brasil: Estudantes de enfermagem na luta por direitos”, o corpo discente da categoria de trabalho mais numerosa do SUS convoca seu 16º Congresso Brasileiro dos Estudantes de Enfermagem, que será realizado entre os dias 9 e 13 de outubro na Universidade Estadual de Santa Cruz, município de Ilhéus, litoral da Bahia. Na visão dos estudantes, trata-se de um momento para debater não só as condições da categoria e do próprio SUS como de relacioná-las com o próprio modelo de desenvolvimento que vigora no país. “Existe uma estreita relação entre o lucro desenfreado, os impactos ambientais, a intensificação e desgaste das jornadas de trabalho e o aumento do adoecimento em massa da população, especialmente entre grupos vulneráveis, como as populações periféricas, originárias, tradicionais e rurais. As consequências para o mundo são perceptíveis”, afirma em nota a comissão organizadora.

Em termos práticos, significa que os estudantes pretendem manifestar no evento sua rejeição ao modelo econômico vigente, baseado nas teorias neoliberais de estado mínimo e austeridade fiscal sobre todas as despesas sociais, ao passo que a remuneração de uma casta financeira improdutiva segue intocável. “A Executiva Nacional dos Estudantes de Enfermagem (ENEEnf) compreende que o Brasil que podemos ser se forma a partir de uma sociedade justa, igualitária, com relações de trabalho dignas e promoção do bem-estar por meio da garantia de direitos a toda a população, em que o Sistema Único de Saúde (SUS) precisa ser reafirmado como o maior patrimônio do povo brasileiro e suas ações e programas precisam ser pensados por quem entende da necessidade de direitos: o povo. Além disso, almejamos que a Enfermagem brasileira seja reconhecida como principal força de trabalho do SUS e detentora de capacidade técnica, científica e humana para a promoção do cuidado e de mecanismos de redução das desigualdades e vulnerabilidades”. Já é possível fazer a inscrição para o evento, neste link.

Hospital Einstein testará IA em consultas pré-natal no Amazonas

A partir de um convênio com três municípios do estado do Amazonas, o Hospital Israelita Albert Einstein colocará em prática um modelo de inteligência artificial em consultas de gestantes. Similar ao chat GPT, a ferramenta será usada por médicos presentes nas unidades básicas de saúde onde ocorram as consultas e usarão uma base de dados de 2 mil artigos para tentar sugerir respostas adequadas. O experimento terá duração de 3 meses e a instituição justifica a escolha pela região norte pela escassez de médicos em relação à demanda por serviços de saúde. Apesar de apontar para um futuro de crescente uso de IA na medicina, os responsáveis sabem que a tecnologia ainda está longe de ser imune a erros. “Entendemos que esse tipo de tecnologia pode beneficiar a população em larga escala, mas não dá para sair usando uma tecnologia como essa sem ela ser testada e validada cientificamente. Por isso é importante que instituições de saúde estejam envolvidas nessas pesquisas”, comentou Rodrigo Demarch, diretor de inovação.

Saúde lança edital para pesquisa em saúde coletiva

O Departamento de Ciência e Tecnologia, da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde (Decit/SECTICS/MS), vinculados ao ministério da Saúde lançou edital para financiar projetos transversais voltados à promoção de saúde e identificação de gargalos, a exemplo dos chamados determinantes sociais. O financiamento total será de R$ 80 milhões e as inscrições vão até 28 de setembro. Trata-se de um esforço em levar inovação tecnológica ao SUS, de acordo ainda com os interesses da secretaria em fazer do sistema de saúde um polo de desenvolvimento econômico. 

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