No Iraque, as doenças provocadas pelos EUA

Estudo aponta: anomalias congênitas em crianças iraquianas deve-se a envenenamento radioativo. Elemento é usado pelas tropas estadunidenses, ainda presentes. Leia também: Datafolha aponta que saúde é tema que mais preocupa brasileiros

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Por Maíra Mathias e Raquel Torres

Foto: Christina M. Rumsey, Força Aérea dos EUA

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IMPACTOS DOS MILITARES

Mais de 15 anos depois da invasão dos Estados Unidos ao Iraque, a continuidade da presença militar americana parece estar relacionada ao nascimento de bebês com deformidades congênitas graves. A conexão foi descoberta por uma equipe independentes de médicos pesquisadores do Iraque e dos EUA, cujo estudo foi publicado no Environmental Pollution e discutido no Intercept. Eles conduziram a pesquisa em um hospital perto da Base Aérea de Tallil, e os bebês que apresentavam as anomalias – como problemas neurológicos, doença cardíaca congênita e paralisia ou ausência de membros – também tinham altos níveis de um composto radioativo chamado tório em amostras de cabelos, dentes de leite e medula óssea.

A pesquisa mostra o mais recente conjunto de evidências sobre os impactos da invasão na saúde da população local, mas já havia outras: estudos anteriores “apontaram taxas elevadas de incidência de câncer, abortos espontâneos e intoxicação radiológica em locais como Fallujah, onde os EUA realizaram ataques de grande porte durante a ocupação do país”, segundo a reportagem. Além de tório, urânio é outro elemento radioativo encontrado com frequência. O urânio empobrecido é usado em munições, por aumentar a eficiência de balas e cartuchos na destruição de veículos blindados. Seus efeitos na saúde e  no meio ambiente são tão conhecidos que já houve indignação pública sobre isso. Então, “as forças militares dos EUA se comprometeram a não usá-lo em seus bombardeios contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria. A despeito dessa promessa, porém, uma investigação feita em 2017 pelo grupo independente de pesquisa AirWars e pela revista Foreign Policy mostrou que os militares haviam continuado a usar regularmente projéteis contendo o composto tóxico”.

SAÚDE LIDERA

A saúde ocupa, de novo, o centro das preocupações dos brasileiros, segundo a última pesquisa Datafolha. De acordo com o levantamento feito nos dias 5 e 6 de dezembro, 19% consideram a área a mais problemática do país. O percentual chega a 23% entre as mulheres. Na sequência, vem a preocupação com a educação, presente em 14% das respostas – que também chega a 23% entre os entrevistados jovens. E em terceiro lugar, aparece a segurança pública, com 13%. 

Já a reprovação a Jair Bolsonaro parece ter diminuído, embora a oscilação tenha ficado dentro da margem de erro, de dois pontos percentuais. Foi de 38% nos oito primeiros meses de governo para 36% em dezembro. A aprovação subiu um pouquinho, de 29% para 30%, também dentro da margem de erro. Para 32%, o governo é considerado regular. A conclusão do instituto é que a recuperação se deve à melhora das expectativas econômicas da população, cuja percepção do combate ao desemprego melhorou (foi de 13% em agosto para 16% agora) e aprovação da equipe de Paulo Guedes também (subiu de 20% para 25%).

Foi feita também uma pergunta sobre o comportamento de Bolsonaro como presidente. Para 28% dos entrevistados, ele nunca se comporta como o cargo exige, enquanto 25% dizem que apenas em uma minoria de situações ele se comporta como um presidente. Ainda segundo o Datafolha, 43% da população diz que nunca confia no que o presidente fala e 37% acham que suas declarações só merecem credibilidade às vezes. Somente 19% dizem acreditar sempre em Bolsonaro.

CEM DIAS

Ontem, o vazamento de óleo no litoral brasileiro completou cem dias. No fim de semana, cerca de cem cientistas se reuniram, a pedido do governo, na Escola de Guerra Naval, no Rio. O encontro marcou o lançamento oficial das equipes que vão analisar o vazamento (sim, só agora…) Contudo, os pesquisadores não vão se dedicar integralmente ao assunto, visto que não vão se afastar de seus empregos ou projetos pessoais, de acordo com O Globo

O jornal fez um levantamento dos gastos registrados pelos 11 estados atingidos pelo óleo. Até agora, os que mais gastaram combatendo o desastre ambiental foram Alagoas (R$ 4,3 milhões), Bahia (R$ 736 mil) e Rio Grande do Norte (R$ 547 mil). Os gastos de Pernambuco, um dos mais afetados, ainda não foram computados.  

ALÉM DO ÓBVIO

Já está bem documentado – e temos falado disso na news – o aumento de doenças respiratórias na população que vive perto de florestas queimadas. O que já é mesmo de se esperar, por conta da fumaça e da fuligem. Mas há doenças infecciosas antes restritas à vida selvagem que, em cenários de desmatamento e incêndios, se alastram rápido entre humanos. A National Geographic explica por que cientistas temem que a próxima pandemia mortal pode surgir assim. A reportagem lembra a primeira manifestação do vírus Nipah, ainda em meados dos anos 1990: após um grande incêndio na Indonésia, morcegos frugívoros foram forçados a voar para longe em busca de alimento, levando esse vírus com eles. Logo, centenas de porcos e, então, pessoas, começaram a adoecer e morrer – e, desde então, acontecem surtos do Nipah em todo o sudeste asiático. Como o Nipah, muitos outros patógenos habitam animais silvestres de forma inócua, mas podem afetar gravemente animais de zonas urbanas e pessoas. Em um estudo de 2015, pesquisadores da Ecohealth Alliance descobriram que cerca de um em cada três surtos de doenças novas e emergentes está ligado à mudanças no uso da terra, como o desmatamento.

UM POUQUINHO PIOR

O país caiu uma posição no ranking global de desenvolvimento humano. Em 2018, o IDH brasileiro ocupou a 79ª posição em meio a 189 países e territórios. No ano anterior, estávamos em 78º. O índice é calculado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento com base em dados como expectativa de vida, escolaridade e renda per capita. O país mais avançado é a Noruega. Em relação a nossos vizinhos, estamos empatados com a Colômbia e atrás do Chile, Argentina e Uruguai. 

FEBRE AMARELA E GRIPE

O Ministério da Saúde resolveu fazer mudanças em duas vacinas do Programa Nacional de Imunizações. Em 2020, a vacina contra a febre amarela será aplicada em todas as cidades do país. Com isso, sete estados do Nordeste passam a ter a recomendação. São eles: Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grade do Norte e Sergipe. Além disso, uma dose de reforço será aplicada em crianças de quatro anos já vacinadas. Isso porque estudos têm indicado que a eficácia do imunizante pode ser menor quando aplicado antes dos dois anos.

A outra mudança é na vacina contra a gripe, que será oferecida a partir dos 55 anos. Hoje, ela é dada a partir dos 60 anos. As informações foram passadas pela Pasta em ofício a secretários estaduais e municipais de saúde.

“BOM SENSO”

O ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta se pronunciou sobre a decisão da Anvisa de liberar a fabricação e a comercialização de medicamentos à base de Cannabis. De acordo com ele, o veto à proposta que previa o plantio da planta para fins científicos e de produção foi de “bom senso”. Ele afirmou que a Pasta estuda a incorporação de produtos à base de canabidiol no rol de medicamentos do SUS. “Vamos ver qual o escopo que a Anvisa dá. Para o canabidiol já sabemos, e acho que ele se encaixa no SUS. Temos usuários que precisam do canabidiol, e temos feito há muito tempo essa discussão, porque temos crianças com crise convulsiva reentrante [sucessivas]”, disse ele, que afirmou que qualquer inclusão só vai acontecer depois da demonstração técnico-científica da eficácia dos produtos. O Ministério pretende chamar conselhos federais de farmácia e medicina para debater os impactos da decisão da agência.

LICENCIAMENTO “FLEX”

A Assembleia Legislativa de Goiás aprovou um projeto de lei que flexibiliza o licenciamento ambiental do estado, instituindo uma modalidade que simplesmente dispensa a necessidade de emitir licenças prévias junto aos órgãos ambientais. É o Licenciamento por Adesão e Compromisso, ou LAC, A tramitação foi acelerada, segundo o De olho nos ruralistas: entre sua proposição, discussão e votação em dois turnos, foram apenas 13 dias. O texto detalha como o projeto retira proteção a campos essenciais ao Cerrado – e esclarece que o LAC antecipa uma proposta federal que pretende flexibilizar as regras de licenciamento ambiental em todo o país.

GREVE NO RIO

Os trabalhadores da saúde na cidade do Rio de Janeiro vêm enfrentando um cenário de descaso, com atraso nos pagamentos há meses. Na sexta-feira, a situação ganhou os holofotes, pois os profissionais do Hospital Albert Schweitzer decidiram fechar as portas da unidade por aproximadamente uma hora. No domingo, 17 unidades estavam em greve, entre UPAs e hospitais. Hoje, funcionários do Hospital Pedro II planejam um protesto. Eles estão há dois meses sem salários. Também faltam medicamentos nas unidades. 

MÁS NOTÍCIAS

A Malásia registrou seu primeiro caso de poliomelite em quase três décadas. O último havia sido em  1992. O bebê diagnosticado tem três meses, e descobriu-se que, na área onde mora, 23 das 199 crianças entre dois e quinze anos não foram vacinadas.

E faz semanas que a República Democrática do Congo vive a expectativa do fim do surto de ebola, com o número de casos caindo bastante. Mas ontem autoridades do país afirmaram que um sobrevivente manifestou a doença uma segunda vez. Ainda não está claro se foi uma recaída ou uma reinfecção. Se for o segundo caso, isso acaba com a hipótese de que sobreviventes adquirem imunidade à doença, o que piora a já grave situação.

OS REMANESCENTES

O Hospital Psiquiátrico de Juquery, localizado no município paulista de Franco da Rocha, chegou a abrigar 15,6 mil internos. A história da unidade ficou mais conhecida com a publicação do livro O capa branca, escrito pelo jornalista Daniel Navarro em parceria com Walter Farias, que era funcionário da unidade e chegou a ser internado por alguns anos lá. Pois uma reportagem do Estadão foi ao Juquery saber como vivem os 57 pacientes remanescentes no manicômio. Há muitos idosos nascidos nos anos 1920. A média de idade dos pacientes gira em torno dos 70 anos. Há muitos portadores de esquizofrenia. E uma situação mais ou menos generalizada de abandono familiar: 23 pacientes não recebem nenhuma visita de parentes e os 34 restantes as recebem muito raramente. 

“Maria, de 102 anos, está internada há 38 por esquizofrenia e lembra dos parentes como pessoas ruins. ‘Eu só tinha na vida a minha mãe, mas ela morreu quando eu era pequena. Aí sobrou a parte do mal’, conta. Sem receber visitas de ninguém, passa o tempo bordando em panos de prato e assistindo às aulas da ‘escolinha’ do hospital, onde os idosos exercitam a memória com assuntos como higiene, alimentação e alfabeto. Já Clóvis, de 83 anos, está internado há 34 e abre um sorriso quando fala de juventude, antes de ser diagnosticado com esquizofrenia. ‘Gosto de pegar na enxada e cortar mato. Nunca tive medo de trabalhar’, diz ele, enquanto borda um tapete de banheiro”, relata o repórter Caio Nascimento.

A média de internação em Juquery é alta: 33 anos. E todos os pacientes estão em condições de receber alta. Mas aguardam abertura de vagas em residências terapêuticas.

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