Humberto Costa, da equipe de transição, comenta desafios da Saúde

• Equipe de transição de Lula vê os desafios da Saúde • Volta do Mais Médicos? • Ultraprocessados causam mortes prematuras • Tridemia nas Américas • Hospital das Clínicas de SP abre unidade para usuários de crack • Vacinas de mRNA contra ebola •

.

Membro do grupo de trabalho que comanda a transição de governo na área da saúde, o senador Humberto Costa concedeu uma longa entrevista à Folha de S. Paulo, na qual falou da grande lista de desafios que Lula e o ministério da Saúde enfrentarão. Não bastasse a incompetência técnica e os enormes passivos sociais herdados do mandato de Bolsonaro, há o desfinanciamento do setor. Costa destacou a necessidade de se colocar fim ao teto de gastos como caminho para objetivos como a recuperação de índices satisfatórios de vacinação, o Farmácia Popular e a fila de cirurgias e tratamentos do SUS, que aumentou muito durante a pandemia e o isolamento social. Também acenou com uma proposta que pode marcar o caráter conciliador de Lula, ao sugerir parceria entre setor público e privado no esforço de diminuição da fila.

Mais Médicos de volta?

Apesar de não ter sido o eixo da entrevista, o jornal destacou em manchete o possível retorno do Mais Médicos, destruído por Bolsonaro por simples ódio ideológico, uma vez que o programa ficou marcado por trazer profissionais cubanos ao Brasil. O presidente recém-derrotado por Lula até criou outro programa, o Médicos pelo Brasil, mas este simplesmente não saiu do papel. Só em abril deste ano foi aberta chamada para contratações a fim de preencher pelo menos 2,5 mil vagas. Em 26 de outubro, ainda divulgava o resultado da prova de seleção. Humberto Costa disse que “a gente não tem nada aprofundado, o importante é viabilizar a oferta de médicos nas regiões onde há vazios assistenciais. A intenção, a princípio, não é trazer médicos do exterior. Você tem hoje uma formação maior de médicos no Brasil do que havia antigamente”. A questão é que o Mais Médicos, que espalhou 10 mil profissionais pelo país, deu certo justamente por trazer médicos estrangeiros, mais predispostos a trabalhar em locais pobres e distantes dos centros desenvolvidos. Trata-se de um gargalo de difícil solução para o futuro governo.

Alimentação por ultraprocessados faz crescer mortes prematuras no Brasil

Mais uma evidência do prejuízo à saúde pública pelo aumento do consumo de alimentos ultraprocessados saiu de um estudo feito por pesquisadores da USP e da Fiocruz. Em 2019, 57 mil pessoas morreram prematuramente no Brasil – o número representa 10% dos óbitos de pessoas entre 30 e 69 anos e 21,8% das vítimas das mortes por doenças crônicas não transmissíveis. Esse tipo de comida, de base pouco nutritiva e aditivada com componentes químicos para melhorar seu cheiro e sabor, está diretamente ligada ao aumento de males como hipertensão e diabetes. Salgadinhos, cubinhos de temperos, requeijão e pão de forma estão entre os ultraprocessados. Nas últimas décadas, está havendo uma transformação da alimentação dos brasileiros para pior. Se há 30 anos apenas 10% do consumo calórico no país era constituído por ultraprocessados, hoje essa proporção chegou a 24%. Seguimos más tendências de países como Estados Unidos e Inglaterra, onde o consumo chega a até 60%. Segundo o estudo, se os brasileiros voltassem a comer como há 30 anos, 20% dessas 57 mil mortes poderiam ter sido evitadas.

Tridemia: a combinação de três vírus que se espalha pelas Américas

Três vírus que avançam simultaneamente estão preocupando as duas extremidades do continente americano, com intensidades diferentes dependendo de cada país – em especial Estados Unidos, Brasil, Argentina e Chile. Trata-se do avanço de infecções por influenza A (H3N2), por novas variantes do Sars-CoV-2 e pelo vírus sincicial respiratório (VSR), mais comuns em bebês. As três enfermidades são muito similares, atacam a garganta e as vias respiratórias, causam febre, congestão, tosse e dor de cabeça. Em pacientes saudáveis, requerem apenas alguns dias de cuidados e descanso, mas em sistemas imunológicos frágeis podem ser mais perigosas. Três surtos ao mesmo tempo preocupam, porque os sistemas de saúde podem ficar sobrecarregados. No hemisfério norte do continente, com a chegada do inverno, a situação é ainda mais preocupante – inclusive porque a temporada de gripe parece ter chegado seis semanas antes do comum. Um dos motivos que podem estar causando o aumento simultâneo é o fato de que algumas crianças passaram dois de seus primeiros anos de vida em isolamento, e portanto não tiveram contato com alguns dos vírus que circulam normalmente.

HC abre unidade para usuários da “Cracolândia”

Com oito anos de atraso, o governo do estado de SP entregou uma nova unidade hospitalar para atender dependentes químicos e usuários de drogas, mais notadamente crack. O Instituto Perdizes, novo nome do antigo Hospital Auxiliar Cotoxó, será administrado pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), se localiza no bairro da Pompeia e terá 200 leitos, sendo 120 de retaguarda para o HC. O secretário de Saúde Jean Gorinchteyn explicou que os pacientes serão encaminhados somente pela Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde (CROSS) e reconheceu a gravidade do momento em relação ao consumo de tais substâncias numa cidade que viu enorme aumento da miséria. Matéria do Estadão informa que “foram investidos R$ 79,3 milhões nas obras de reforma e ampliação e mais R$ 12 milhões na compra de equipamentos e mobiliário. A unidade terá capacidade para fazer até 2,2 mil internações por ano, 5 mil atendimentos no hospital-dia e 16 mil consultas médicas ambulatoriais”.

Vacinas de RNA são esperança contra ebola

Tal como nas vacinas desenvolvidas pela Moderna e a Pfizer contra o coronavírus, pesquisadores tentam obter resultado similar na produção de imunizantes contra o ebolavírus sudão, a nova versão de ebola que causa uma onda de mortes em Uganda. Existem vacinas contra a doença, mas de tipos anteriores. Agora, informa a Nature, pesquisadores da Universidade da Pensilvânia e do Texas defendem o método de desenvolvimento da vacina de RNA mensageiro, isto é, um tipo de imunizante que ao invés de eliminar o vírus introduz uma carga segura de células infectadas e permite que os anticorpos desenvolvam defesa suficiente, através da multiplicação das proteínas capazes de realizar a sua contenção.

Leia Também: