Fracasso no Acordo Anti-Pandemias se aproxima
• Norte Global tolhe acordo contra pandemias • Novidades sobre a vacina do Butantan • Outras maneiras de combater a dengue • Demografia Médica no Brasil • Bioeconomia nos acordos Brasil-França • Fiocruz sela acordo com país europeu •
Publicado 01/04/2024 às 15:18
Como adiantado pelo Outra Saúde, os debates sobre um novo pacto de prevenção a pandemias e epidemias está longe de alcançar um resultado que vá de encontro às propostas da OMS e dos países periféricos do capitalismo. Artigo traduzido pela Folha na semana passada vai na mesma direção e evidencia que os impasses opõem claramente os chamados Ocidente e Sul Global. Donos das maiores empresas da indústria farmacêutica, os países do Atlântico Norte dissimulam decisões incisivas no campo da equidade e do livre acesso a informações genéticas e tecnologias necessárias à proteção da saúde coletiva. “A boa notícia é que os pontos-chave foram acordados: princípios de equidade, imparcialidade, solidariedade, transparência e responsabilização”, consolou-se Steve Solomon, diretor jurídico da OMS.
Brasil à espera da vacina nacional contra dengue
Segundo disse o secretário estadual de saúde de São Paulo, Eleuses Paiva, em entrevista ao Estadão, o Instituto Butantan possuirá capacidade inicial para produzir 10 milhões de doses de sua vacina contra a dengue. O imunizante está em fase final de testes e deve chegar ao mercado no próximo ano. A vacina, comparável em eficácia à da fabricante japonesa Takeda, tem duas grandes vantagens: é de dose única e produzida nacionalmente. Entretanto, a limitada produção tanto do Butantan quanto da Takeda sugere que a vacinação em massa ainda pode enfrentar desafios. Atualmente, a vacinação é restrita a um grupo etário específico – 10 a 14 anos – devido à escassez de doses. O Butantan planeja aumentar sua capacidade produtiva para 40 milhões de doses, embora o cronograma de expansão ainda não tenha sido detalhado.
Inovações no combate à doença
A vacinação contra a dengue pelo SUS, focada hoje em crianças e adolescentes de 10 a 14 anos em áreas endêmicas, representa um avanço, embora limitado, no combate à doença que atingiu números recordes no Brasil, com mais de 2,2 milhões de casos e centenas de mortes. Mas iniciativas inovadoras estão sendo fundamentais no combate à dengue, como demonstra o Especial Dengue da plataforma IdeiaSUS, que reúne quase 100 projetos implementados em diversas cidades brasileiras. Entre as soluções destacam-se o uso de peixes piabas para eliminar larvas do mosquito em reservatórios de água e a implementação de ovitrampas para mapear áreas de risco. Essas estratégias, juntamente com ações educativas, como gincanas para coleta de materiais recicláveis, contribuem tanto para o controle do Aedes aegypti quanto para a conscientização ambiental.
Brasil tem mais médicos, mas desigualdade permanece
Na coluna mais recente de Mônica Bergamo, foi destacado um novo estudo da USP, coordenado pelo professor Mario Scheffer, que projeta que o Brasil terá 3 médicos por mil habitantes em 2025. A pesquisa, chamada “Demografia Médica no Brasil”, leva em conta o cenário atual e a abertura de novos cursos de medicina, prevendo um total de 635.706 médicos diplomados para uma população de 206 milhões. Scheffer alerta para os desafios da distribuição geográfica dos médicos e da necessidade de uma formação de qualidade, ressaltando que 40% dos médicos brasileiros não possuem especialização e que a distribuição dos profissionais é profundamente desigual pelo país.
Acordos entre Brasil e França nas áreas da saúde e bioeconomia
A visita de Emmanuel Macron ao Brasil serviu para o alinhamento de diversos acordos entre os dois países na área da economia da saúde, uma das principais “missões” da nova política industrial do governo federal. A soberania do país europeu sobre a Guiana Francesa é um dos motivos centrais da vinda de Macron, uma vez que a utilização de recursos naturais amazônicos com fins de incentivo à economia limpa e sustentável também é parte de sua agenda. Além disso, a Guiana também tenta se defender da mineração ilegal de ouro, fenômeno recentemente amplamente incentivado pelo governo Bolsonaro. Nesse sentido, Lula e Macron assinaram os termos de retomada do Centro Franco-Brasileiro de Biodiversidade Amazônica, projeto iniciado em 2008.
“A parceria estratégica com a França traduz nossa busca por modernizar nossas economias com sustentabilidade e respeito aos direitos humanos. São incontáveis as possibilidades futuras para os nossos países cooperarem e se desenvolverem juntos”, disse o presidente Lula. Também signatária do compromisso, a ministra Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação, endossou o otimismo. “Essa reativação vai impulsionar sobremaneira a cooperação entre Brasil e França em pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação nas áreas de biodiversidade e bioeconomia, trazendo também desenvolvimento social e econômico”, completou.
Fiocruz também sela acordo com franceses
O presidente francês também passou pela cidade de São Paulo e na sede da Fiesp celebrou acordo de financiamento de pesquisas para tratamento de câncer a partir de propriedades da natureza. O pacto envolve a fábrica de medicamentos da Fiocruz (Farmanguinhos), sua unidade sediada em Minas Gerais (Instituto Rene Rachou) e o laboratório francês Servier. “Esse acordo representa um marco significativo na busca por soluções avançadas para o combate ao câncer, uma das maiores causas de mortes no mundo, grande preocupação em escala global e no Brasil. A colaboração entre Fiocruz e Servier, nossa parceira em outros projetos, abre caminho para mais pesquisas e inovações em tratamentos oncológicos a partir de plantas medicinais. O intercâmbio científico e tecnológico nessa área irá garantir, em breve, a introdução de novos medicamentos no Sistema Único de Saúde”, afirmou Mário Moreira, presidente da Fiocruz.