Brasil chega a mil mortes por dengue em 2024

• Doença começa a retrair, mas ainda está descontrolada • Mortes por dengue não são aceitáveis • A urgente evacuação de Al-Shifa • Insulina envasada no Brasil • Vacina contra HPV precisa estar nas escolas •

Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília
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Nesta semana, o país bateu a marca de mil óbitos por dengue desde o início do ano. Mais precisamente, eram 1.020 mortes confirmadas ao final da tarde desta quarta-feira (3/4), de acordo com o Painel de Monitoramento das Arboviroses. A ferramenta do Ministério da Saúde (MS) também indica que já foram registrados 1.531 óbitos em investigação e 2.671.332 casos prováveis da doença. Em pouco mais de três meses, o Brasil está se aproximando do recorde de mortes por dengue em um ano, alcançado em 2023. No ano passado inteiro, foram 1.094 óbitos – e 1.053 em 2022, segundo ano mais letal. No que se refere aos casos da doença, o Brasil já registrou neste primeiro trimestre 61% dos 4,2 milhões de casos que foram previstos para o ano inteiro pela secretária de Vigilância em Saúde, Ethel Maciel, em fevereiro.

Há desaceleração, mas é difícil comemorar

Apesar dos números duros, a avaliação do Ministério da Saúde é que o país já vive um declínio do surto da dengue. A informação foi apresentada em entrevista coletiva também por Ethel Maciel. A secretária informou que em 7 estados e no Distrito Federal a curva de novas infecções já é decrescente, em outros doze ela está estável e nos sete restantes – todos no Nordeste – ainda se identifica um crescimento. Porém, ainda é cedo para comemorar a desaceleração da epidemia, diz a infectologista Juliana Salles, do Sindicato dos Médicos de São Paulo, ao Brasil de Fato. Isso porque “muitos municípios com alta taxa de habitantes, como aqui em São Paulo, ainda têm um número elevado de casos e descontrole dos focos”, ela conta. Para a médica, “representam o controle dos focos e o uso da vacina […] nos locais onde está sendo realizada a vacinação de forma adequada”. “Mas em muitos outros locais, ainda vai começar a estratégia de vacinação”, lamenta Salles.

Dengue mata? É mais complexo, apontam especialistas

“A dengue não mata, o que mata na dengue é a desassistência e a desatenção ao potencial agravamento que os pacientes podem apresentar, principalmente quando a febre desaparece”. O lembrete é de um grupo de pesquisadores da Fiocruz e da UFRJ, em artigo publicado no site do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE/Fiocruz). No escrito, nomeado Contando os mortos pela dengue: até quando?, eles argumentam que as mortes por dengue são evitáveis, salvo raras exceções. Com a correção de três equívocos, é possível reduzir amplamente o número de óbitos, eles dizem. O primeiro é a subestimação do potencial de gravidade da doença. O segundo consiste no não-atendimento dos que procuram as unidades de saúde com sintomas. Por fim, há a não-identificação dos sinais clínicos de alarme ou gravidade em pacientes atendidos. O planejamento prévio e o combate à desorganização da rede assistencial, eles apontam, são ferramentas essenciais para solucionar os três.

OMS: Mais morrerão em Al-Shifa sem evacuação imediata

Na segunda-feira (2/4), como informou ontem este boletim, as tropas de Israel se retiraram do hospital Al-Shifa após ocupá-lo por duas semanas. O saldo foi a destruição de suas instalações e centenas de mortos, ainda não contados. Agora, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta: ainda mais pacientes morrerão caso não sejam evacuados das ruínas do complexo hospitalar imediatamente. “O processo de evacuação deve ser expresso”, disse o diretor-geral da OMS, “ou perderemos muito mais vidas”. Uma pergunta se mantém: evacuar para onde? De acordo com a própria agência internacional, apenas 10 dos 36 hospitais da Faixa de Gaza ainda funcionam, a maioria deles apenas parcialmente. Frente ao cenário de Al-Shifa e ao assassinato de sete funcionários de uma ONG humanitária por Israel, “um mecanismo eficaz, transparente e funcional de desconflito” é urgente, argumenta o chefe do escritório da OMS em Jerusalém.

Brasil volta a (quase) produzir insulina

O Brasil voltará a produzir insulina em solo nacional. Na terça-feira (2/4), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a fabricação da insulina glargina pela farmacêutica Biomm em uma fábrica. Segundo o CEO da empresa, R$800 milhões foram investidos na planta, que terá a capacidade de produzir 20 milhões de unidades do medicamento por ano. A nota da Anvisa lembra que “o Brasil possuiu no passado fabricação de insulinas em território nacional, porém nos últimos anos somente estiveram disponíveis produtos importados”. Contudo, como o próprio texto ressalta, só serão realizadas no Brasil as “etapas de formulação e envase, referentes ao produto terminado”. Na prática, ainda não temos autonomia plena – o que põe em risco os 13 milhões de brasileiros que são diabéticos. É mais uma tarefa que não pode ser deixada de lado no planejamento do complexo econômico-industrial da saúde.

Como melhorar as taxas de vacinação para HPV?

Para o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, a dose única da vacina de HPV, anunciada ontem pelo MS, pode ter um impacto positivo nos índices de imunização da população. Mas ele entende que para realmente ter um salto de qualidade nas taxas, é preciso ir além e levar a vacinação contra o HPV para as escolas, propõe o médico. “Não há outro país que tenha tido sucesso na imunização de adolescentes que não tenha utilizado a base escolar”, argumenta Kfouri. A observação do vice da SBIm se alinha com um comentário de Nísia em uma ação recente do Ministério da Saúde. “A escola sempre foi um lugar central para a saúde e assim continuará”, afirmou a ministra durante um mutirão de vacinação promovido em uma escola pública de Brasília pelo Movimento Nacional pela Vacinação na Comunidade Escolar.

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