Falha generalizada

Rastreamento de contatos é um fracasso em quase todo o Ocidente. Números revelam diferença abissal entre países: em Taiwan, são identificados 17 contatos para cada caso confirmado. Na França, 1,4. Na maior parte dos EUA, não chega a um

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Depois de nove meses de pandemia nas costas, a maior parte do mundo ainda não foi capaz de dar conta de uma das ações mais úteis para quebrar a cadeia de transmissão do novo coronavírus: o rastreamento de contatos. Na longa reportagem do site da Nature, Dyani Lewis descreve a abissal distância que separa os países que fizeram isso direito e aqueles que não o conseguiram. Exemplo disso é o quanto varia o número de contatos identificados para cada caso confirmado de covid: 17 em Taiwan, dois no Reino Unido, 1,4 na França e menos de um na maior parte dos Estados Unidos.

Em países asiáticos como Coreia do Sul há, além das entrevistas, o uso de dados de cartão de crédito, celular e imagens de câmeras de vigilância (o que não seria facilmente aceito pela população em vários outros lugares). O Vietnã também verifica os passos das pessoas com postagens no Facebook e no Instagram. O Japão faz o eficiente rastreamento retroativo. Nações como Vietnã e Taiwan não promovem o autoisolamento dos infectados e contactantes, mas sim uma quarentena feita em instalações específicas.

Já em quase todo o Ocidente, há uma cascata de falhas: falta de testes ou atraso para fazê-los, demora para a chegada dos resultados, infectados que não se isolam, e/ou que não são alcançadas pelos rastreadores, e/ou que não fornecem informações sobre seus contatos, e ainda contatos que não são alcançados e não estão dispostos (ou não podem, por questões tão objetivas como: precisam trabalhar) a cumprir a quarentena. E a maioria dos países só tem a quarentena em domicílio, sem locais designados para isso. Na Inglaterra, os rastreadores só conseguem falar com 12,5% dos infectados e, destes, quase um quinto não fornece informações sobre seus contatos próximos. Ninguém sabe quantos contatos entraram efetivamente em quarentena por lá.

A matéria ainda tenta dimensionar o volume de rastreadores que seria necessário para conter surtos, mas nem essa conta é fácil. Em abril, um relatório dos Estados Unidos falou em 30 rastreadores para cada 100 mil pessoas – mas essa é a média do Reino Unido, que no entanto não parece ter sido suficiente. Em contraste, os 24 milhões de habitantes de Taiwan foram monitorados por 600 rastreadores no seu momento de pico: isso dá 2,5 profissionais por cem mil habitantes. É claro que ajuda o fato de eles nunca terem deixado a situação sair do controle, porque a equipe precisa dar vazão ao número de infecções. Por aqui, sempre vamos imaginar o que poderia ter sido feito caso os centenas de milhares de agentes comunitários de saúde brasileiros tivessem sido treinados para fazer rastreamento de contatos desde o início da pandemia. 

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