Escorpiões: infestações avançam e país enxuga gelo

Aumento das temperaturas e crescimento desordenado das cidades estão entre as causas. Leia também: os cortes de Paulo Guedes; o vácuo das cirurgias espirituais; bactérias resistentes na carne de porco

.

MAIS:
Esta é a edição de 18/12 de nossa newsletter diária: um resumo interpretado das principais notícias sobre saúde do dia anterior. Para  recebê-la em seu e-mail, é só clicar aqui.

INFESTADOS

Um bicho perigoso anda aterrorizando, mais do que nunca, vários estados do país: matéria da BBC tem casos de pessoas que encontraram dezenas de escorpiões, dentro de casa, em períodos tão curtos como 10 ou 15 dias. Os números do Ministério da Saúde não deixam dúvidas — em 2010 houve 52.509 casos de picadas, e em 2017 já foram 124.903 (um aumento de 138%).  As mortes cresceram 152%, saindo de 74 para 184. E os estados que mais sentem são Minas e São Paulo. 

Enquanto o Ministério da Saúde está fazendo vídeos educativos para profissionais de saúde, o Instituto Butantan e a USP vão começar a mapear a evolução dos casos e tentar entender o comportamento dos escorpiões. A tentação de usar inseticidas, no caso deles, não funciona: não existe nenhum que os mate. A médica Fan Wen, do Butantan, disse à reportagem que os agentes de endemias —  que hoje vão de casa em casa procurando focos de dengue — deveriam fazer o mesmo em relação aos de escorpiões.

Mas talvez, assim como no caso da dengue, fazer isso signifique continuar enxugando gelo. O Ministério diz que ainda não se sabe exatamente o que faz a população de escorpiões crescer tanto, mas já há alguns fatores conhecidos. Um é o aumento das temperaturas. Outro é o crescimento desordenado das cidades, que levam a mais lixo e entulho. Lixo e entulho atraem baratas. E baratas são a comida preferida dos escorpiões. É possível vigiar e controlar o lixo em casa. Mas e fora dela?

CORTES NAS TERCEIRIZADAS

O governo Bolsonaro deve cortar gastos com empresas terceirizadas, informa o Estadão. Hoje, são gastos R$ 25 bilhões com elas e os auxiliares do futuro presidente estimam que 20% disso sejam gastos com pessoal. A matéria dá um monte de exemplos de como trabalhadores terceirizados “custam” aos cofres públicos mais que o dobro do seu salário. Em tempo: o alto custo de terceirizar trabalhadores no serviço público não é novidade. Sai mais barato ter servidores. 

O principal alvo dos cortes devem ser os contatos de publicidade, mas o Ministério da Saúde é um dos que vão ser avaliados. O futuro ministro, Mandetta, disse à reportagem que estuda uma “checagem” e “rechecagem” dos contratos: “Todos os contratos assinados no ano de 2018 que projetam para mais de um ano de contrato, estão sendo revistos. Como os contratos são feitos para dois, três, cinco anos, os que passarem de 2019 também serão avaliados.”

Ainda segundo Mandetta, seu ministério exige atenção pelo volume, e ele vai comparar seus contratos com os de outras pastas. “Você não pode partir do princípio de que estão todos errados. Mas vamos ter nossos critérios, com pesquisa de mercado, comparativo com outros órgãos públicos e ver se está dentro da média ou fora de padrão” .

SERÁ?

Paulo Guedes disse ontem, na Federação das Indústrias do Rio (a Firjan), que deve acabar com isenções e subsídios e até cortar verbas do Sistema S, que reúne entidades como o Senai, o Sesi e o Senac. Os cortes nessas instituições poderiam chegar a 50% dos repasses atuais. “É a contribuição, como vamos pedir o sacrifício do outro sem dar o nosso?”, questionou, segundo a Agência Brasil. Disse ainda que, se não conseguir fazer o que pretende, deixa o cargo.  A Firjan se manifestou em uma nota. Afirma que as declarações de Guedes precisam ser encaradas como “parte do desafio, em especial de uma discussão mais ampla sobre o papel das entidades de representação empresarial num cenário de necessidade de redução de custos e resgate da competitividade do país”. Mas ressalvou: “É evidente que, como parte desta interlocução, será possível expor o papel fundamental desempenhado pelas entidades que compõem o Sistema S na formação da mão de obra e na parceria em áreas críticas e habitualmente desassistidas como saúde e educação”.

NO VÁCUO

Diante do caso do médium João de Deus — que foi preso no domingo —, uma reportagem da Folha comenta o vácuo legal em que se inserem as cirurgias espirituais. O próprio João de Deus aparece em vários vídeos fazendo procedimentos com cortes, como raspagem de olhos e retirada de nódulos, mas seu local de atividade nunca foi fiscalizado pela Vigilância Sanitária. O responsável por essa área em Pirineus (GO), Luiz Eduardo Mendes, disse que a falta de regulamentação impede a fiscalização desses lugares. Isso só poderia acontecer diante de uma denúncia de “medicina clandestina”e aí teria que haver o respaldo de polícia, Ministério Público e Conselho Regional de Medicina.

RECREAÇÃO

Em Nova Iorque, o governador Andrew Cuomo colocou a legalização do consumo recreativo da maconha entre as prioridades da próxima gestão, que começa em janeiro. Hoje, a cannabis já é permitida no estado, mas só para uso medicinal em pessoas com doenças graves, como Aids e câncer. Também já foram suspendidas as detenções de quem fuma em público. A matéria do El País nota que o próprio Cuomo se opunha à legalização, porque via a maconha como porta de entrada para outras drogas. Mas ele atentou para as possibilidades de arrecadação com o comércio legal: poderiam ser gerados US$ 1,3 bilhões por ano em impostos.

E na Nova Zelândia as pessoas vão votar sobre esse uso em um referendo em 2020. 

NADA TRADICIONAL

Já viu vacina ser entregue via drone? Está começando a acontecer em Vanatu, arquipélago do Pacífico  que se tornou o primeiro país do mundo a tornar seu programa de vacinação oficialmente dependente dessa tecnologia.  É difícil chegar lá. E a maior parte dos vilarejos não tem eletricidade pra manter as vacinas estocadas sob refrigeração. A matéria do New York Times elenca outros usos agora mais ou menos conhecidos dos drones na saúde. Em Ruanda, eles transportam sangue para transfusões. E a empresa californiana Zipline, que já fez mais de 8 mil voos no país africano, também quer começar a entregar vacinas tanto em Ruanda como em Gana. 

MORRER EM PAZ

Em São Paulo, os deputados estaduais aprovaram um projeto que, se sancionado pelo governador, vai dar aos pacientes maior autonomia sobre seus tratamentos. Em sua coluna na Folha, Claudia Colllucci explica que o texto é inspirado em legislações europeias e tem vários avanços. Por exemplo: a pessoa com doença terminal vai ter o direito de ter toda a informação sobre seu diagnóstico, prognóstico e tratamento; e, a partir disso, pode aceitar, recusar ou interromper intervenções e tratamentos propostos pelos profissionais de saúde, quando não há possibilidade de recuperar a saúde e os tratamentos só prolonguem a vida. Collucci nota que o projeto ainda é tímido se comparado com a legislação italiana. Naquele país, também se pode rejeitar alimentação e hidratação artificiais. Mas ela comemora a aprovação e afirma que, se vier mesmo a se tornar uma lei estadual, o texto deve ganhar força em termos nacionais. 

CRUEL E DEGRADANTE

No México, o Mecanismo Nacional de Prevenção à Tortura, da Comissão Nacional de Direitos Humanos, reportou que 39 hospitais psiquiátricos federais e estaduais oferecem más condições e tratamento indigno aos pacientes. Entre os problemas estão a superlotação, a falta de higiene, de roupa e calçados, e possíveis atos de tortura e maus tratos. Mais de 40% das instituções praticam o isolamento dos pacientes como parte dos tratamentos ou medidas de contenção, o que é tanto desnecessário como violador dos direitos humanos. E 38% dos internos não podem dar telefonemas nem sequer ler revistas. 

NA CARNE

Tem bactérias resistentes a antibióticos na carne de porco brasileira. A conclusão é de um estudo conduzido pela USP para a World Animal Protection, que examinou 100 amostras de estabelecimentos do Carrefrour, do GPA e do Walmart. A presença dessas bactérias foi encontrada em todas as amostras, e isso pode evidenciar o uso abusivo de antibióticos nas criações animais. 

PREÇO ALTO DEMAIS

O rápido crescimento chinês teve seus muitos lados negativos, e um deles está na saúde dos trabalhadores. Hoje, seis milhões de chineses têm pneumoconiose ou já morreram disso. O nome se refere a uma série de problemas nos pulmões, como a silicose, causada pela inalação da sílica. E matéria da Reuters diz que um dos focos é a cidade de  Shenzhen, que se tornou símbolo do crescimento econômico do país nos últimos 40 anos — em 2017, sua economia ultrapasou a de Hong Kong. Tamanho crescimento não impede que as pessoas precisem pegar empréstimos para cobrir despesas médicas. Muitas trabalharam sem contratos, então a busca de compensações financeiras pelo mal causado é quase impossível. E os pagamentos do governo do município não ultrapassam os US$ 32 mil, nos casos mais graves.

CIGARRO ELETRÔNICO

Jovens nos EUA passaram a beber menos e a usar menos outras drogas em geral, mas estão fumando mais cigarros eletrônicos e narguilés, segundo uma pesquisa da Universidade de Michigan. A maior parte inala ervas aromáticas. Em seguida, nicotina. Em seguida, maconha. Pode ser um problema, porque pesquisas já indicam uma propensão maior de jovens que usam cigarros eletrônicos a começar a fumar os ‘verdadeiros’.

NOVO PRESIDENTE

Na semana passada entrevistamos os dois candidatos à presidência do Conselho Nacional de Saúde. Quem venceu as eleições e vai atuar até 2021 é Fernando Pigatto. A EPSJV/Fiocruz fez uma entrevista com ele. Está aqui. E os novos conselheiros estão aqui

100%

Cerca de 30% dos inscritos no Mais Médicos ainda não se apresentaram no local de trabalho (o prazo termina hoje). As principais lacunas estão na região Norte. Já no  Distrito Federal a situação é diferente: 100% das vagas foram preenchidas. 

FOGO NA REFINARIA

Um grande incêndio atingiu a área de descarga e recebimento de matéria-prima da Refinaria de Manguinhos, no Rio. Tudo começou em um caminhão que descarregava produtos, mas o fogo logo se alastrou. Moradores da comunidade do Arará, que fica ao lado da refinaria, tiveram de sair de casa.

Leia Também: