OCDE: efeitos da pandemia na educação vão durar décadas
Brasil é um dos países há mais tempo com escolas fechadas
Publicado 09/09/2020 às 07:35
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A OCDE divulgou ontem um relatório que trata dos impactos da pandemia na educação, com foco nos efeitos sobre a produtividade do trabalho e, consequentemente, na economia. A entidade projeta uma queda de 1,5% no PIB mundial até o fim do século devido à interrupção nas aulas. O tombo será maior nos países que demorarem a se organizar de modo a retomar o desempenho de antes da crise sanitária. É o caso do Brasil.
Com as atividades presenciais suspensas desde março, o país acumula um atraso superior à média: no fim de junho, já eram 16 semanas de paralisação contra 14 nos países ricos. No começo de setembro, fazíamos parte do grupo de oito entre 46 nações onde as aulas seguiam suspensas (com exceção do Amazonas). Isso, claro, é consequência da taxa de contágios que até semanas atrás estava descontrolada.
Mas existem fragilidades históricas. A OCDE aponta que um dos gargalos para retomar as atividades de forma segura por aqui é a quantidade de alunos por sala de aula. Até o 5º ano do ensino fundamental, temos, em média, 23 estudantes por classe – o que nos coloca na 10ª pior posição entre 32 nações com dados disponíveis. O cenário se agrava nos anos finais do ensino fundamental (que vai 6º ao 9º ano), quando as classes têm 27 alunos, o que nos coloca na 6º pior posição.
Outro problema levantado pela entidade é o financiamento da educação na pandemia e para lidar com os problemas de aprendizagem que vêm depois. Para se ter uma ideia, ontem o projeto Covid Tracking estimou a quantidade mensal de testes que os Estados Unidos precisam para retomar as aulas presenciais com segurança: 193 milhões por mês. Hoje, são feitos mensalmente apenas 21 milhões. Tudo isso está bem longe da nossa realidade, e por aqui ainda temos que lidar com o risco de desvinculação das verbas da educação.
Finalmente, o relatório corrobora o diagnóstico de que a aprendizagem é menor com o ensino remoto e que a desigualdade de acesso à internet, equipamentos e condições de estudo amplia o abismo entre ricos e pobres.
Em tempo: ontem, escolas públicas e privadas do estado de São Paulo reabriram. Segundo o governo, 200 escolas da rede estadual retomaram as atividades, o que corresponde a apenas 3,5% do total. E nessas unidades, a taxa de presença foi baixa: entre 10% e 15% dos estudantes compareceram.