Drogas: o comprovado papel da redução de danos

No auge de epidemia de heroína, Suíça chocou conservadores: oferecia a substância aos usuários em clínicas, com segurança – além de tratamento para a adição. Após duas décadas, sucesso está claro nos números

Uma sala de consumo seguro, espaço supervisionado para o uso de heroína, em Lausanne, na Suíça
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Nem todos os países tratam o problema com as drogas com fuzis, munição e camburões. Um caso emblemático de tratamento por meio de redução de danos e acolhimento da população é o da Suíça, que viveu grande epidemia de heroína entre o final dos anos 1980 e início dos 90. Nessa época, conta reportagem da BBC News Brasil, o país tinha a maior taxa de HIV na Europa Ocidental – devido ao compartilhamento de seringas. No auge da falta de controle, parques públicos eram tomados por usuários e traficantes. Foi a coragem da ministra da Saúde, Ruth Dreifuss, que transformou a situação.

Dreifuss cansou de enxugar gelo, com repressão. Passou a ouvir médicos que conectados com a população, e novas ideias para a resolução do problema de saúde pública. Seu mandato elaborou uma política nacional que ia além da pura aplicação da lei. Um dos elementos mais inovadores era o tratamento assistido: médicos ofereciam aos usuários a heroína pura, para ser usada nas clínicas especializadas. O primeiro efeito foi tirá-los do mercado clandestino e da repressão nas ruas. Para além disso, o governo também oferecia ajuda com emprego, moradia e outros tratamentos.

Os resultados a longo prazo são inspiradores: o número de overdoses fatais caiu pela metade entre 1991 e 2010; as infecções por HIV foram reduzidas em 65% e a quantidade de novos usuários caiu 80%. Mas a conquista não veio sem luta: médicos e ativistas tiveram de rodar o país em campanha, para que a população entendesse a política e a referendasse em eleição. Foi um trabalho árduo para superar a estigmatização e fazer as pessoas entenderem que uma nova abordagem era necessária. Mas teve sucesso: em 2008, num referendo nacional, 68% votaram pela incorporação permanente da política à lei federal.

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