A surpreendente relação entre drogas psicodélicas e cardiopatias

Estudo estatístico nos EUA relaciona consumo de ayauasca, cogumelos alucinógenos, LSD e mescalina a uma menor incidência de doenças cardíacas e diabetes. Mas não aponta relação causal entre os dois fatores

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Quem usa certos tipos de drogas psicoativas tem menor chance de padecer de doenças cardíacas, ou de ter passado por episódios de pressão alta. Não está claro, porém, se um fato é decorrente do outro. Talvez, estes usuários desfrutem apenas das consequências de um estilo de vida geral mais saudável. Estas conclusões surpreendentes resultam de um estudo estatístico envolvendo mais de 171 mil adultos norte-americanos. O trabalho foi conduzido por Otto Simonsson, pesquisador do Centro de Mentes Saudáveis da Universidade de Winscosin, atualmente trabalhando na Suécia. Os resultados foram publicados em julho, pelo site Scientific Reports da revista Nature e divulgados agora pela revista Medical News Today.

Simonssone um colega – Peter S. Hendricks, da Escola de Saúde Pública da Universidade do Alabama – examinaram os dados coletados, entre 2015 e 2018, pela Pesquisa Nacional sobre Uso de Drogas e Saúde dos EUA. Constataram que, no grupo de pessoas com mais 18 anos presente neste universo, as que relatavam ter experimentado uma droga psicodélica “clássica” ao menos uma vez tinham 23% menos chances de serem portadores de uma doença cardíaca e 12% menos riscos de diabetes. Foram incluídos três classes de drogas: as triptaminas (presentes na ayahuasca e em certos cogumelos), os lisergamídeos (com o LSD) e as fenetilaminas (como a mescalina)

Os dados não permitiram, no entanto, investigar a relação causal entre uso de drogas e o menor risco das doenças. “Ainda sabemos muito pouco sobre os efeitos de longo prazo dos psicodélicos clássicos sobre a saúde física. Estamos no começo”, afirma Simonsson. O texto de Medical News Today, assinado por Robby Berman, lembra que tem havido, recentemente, uma retomada da pesquisa sobre este tipo de drogas. Ela sofreu reviravoltas. Em meados do século XX, houve notável interesse científico pelo tema; mas ele foi sufocado mais tarde pelo crescimento da onda proibicionista. Nos últimos anos, tem sido revalorizado. Em 2000, a Universidade John Hopkins foi a primeira instituição nos EUA a receber aprovação para estudos, inclusive em voluntários saudáveis.

Imagem: Sharm Murugiah/New Scientist

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