Diante de mais de duas mil mortes, ainda há resistência ao lockdown

Paraná, Santa Catarina e Rio de Janeiro resistem a medidas de isolamento rígidas; Planalto prevê que próximas seis semanas sejam mortíferas, mas Bolsonaro afirma que óbitos estão sendo inflados para prejudicá-lo

Comércio e atividades consideradas não essenciais fecham as portas durante lockdown no Distrito Federal.
.

Este texto faz parte da nossa newsletter do dia 12 de março. Leia a edição inteira. Para receber a news toda manhã em seu e-mail, de graça, clique aqui.

O Palácio do Planalto prevê que o Brasil vá passar as próximas seis semanas com média diária de óbitos por covid-19 acima de dois mil, segundo uma apuração do Valor. Mas, por aqui, imaginamos quanto tempo deve levar até chegarmos às três mil: ontem foram mais 2.207 e a média móvel bateu seu 13º recorde seguido, ficando em 1.705. Foram quase 12 mil mortes em apenas uma semana.

A maior fila por leitos para covid-19 no país é a do Paraná, que tem mais de mil pessoas. Mas o governador Ratinho Jr. (PSD) anunciou o fim do lockdown de 12 dias, autorizando a volta do comércio e das escolas em modelo híbrido. O detalhe é que todos os indicadores estão piores do que quando o lockdown começou, o que claramente indica a necessidade de mais tempo. Na vizinha Santa Catarina, o Ministério Público e a Defensoria Pública precisaram ir à Justiça para pedir lockdown de pelo menos duas semanas no estado, que também tem a saúde em colapso. O governador Carlos Moisés (PSL) decretou que vai manter abertos shoppings, academias e piscinas de uso coletivo em dias úteis…

No Ceará, o governador Camilo Santana (PT) estendeu o lockdown da capital para todo o estado. Começa a valer amanhã

Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) decidiu colocar o estado em “fase emergencial” por duas semanas, a partir de segunda-feira. Finalmente vai ser suspensa a realização de missas e cultos, mas as igrejas podem ficar abertas para atendimento individual. Também ficam vetadas atividades esportivas, retirada de comida nos restaurantes e o funcionamento presencial de lojas de construção e de eletrônicos. O home office deve ser adotado para todas as atividades administrativas não-essenciais, e o comércio só pode funcionar por delivery. Quanto às escolas, seguem autorizadas, mas os recessos de abril e outubro vão ser antecipados, para que na prática elas fechem.

Felizmente, as associações de empresas do comércio, serviços e alimentação desistiram de pressionar pela reabertura imediata. 

Não foi o que aconteceu na capital do Rio, onde o Sindicato dos Bares e Restaurantes conseguiu reverter uma decisão do prefeito Eduardo Paes (DEM) de “só” mantê-los abertos até as 17h. Paes deu meia-volta. O horário desses lugares, que são sabidamente focos de superespalhamento, foi estendido para 21h. 

Aliás, Doria e o governador do RJ, Claudio Castro, se estranharam ontem. O paulista criticou o chefe do Executivo fluminense por não assinar o pacto em que governadores se comprometem com medidas contra a covid-19. “Lamento que o Rio de Janeiro, onde vivi parte da minha vida e conheci a minha esposa e tenho tantos e tantos amigos, ao invés de ter medidas que restrinjam – e com isso protejam a sua população – façam exatamente o caminho oposto”, disse Doria. Castro respondeu pelo Twitter: Recomendo a ele um chá de camomila e que cuide de SP, porque, do Rio, cuido eu.”

Enquanto isso… O presidente Jair Bolsonaro não só voltou a atacar os governadores pelas novas quarentenas como acusou os gestores de inflarem o número das mortes com o intuito de prejudicá-lo. 

Leia Também: