Cuidados paliativos ou sentença de morte?

Desonestidade da Prevent Senior, ao igualar uma coisa a outra, aproveita-se de uma brecha grave: não há regulamentação para o paliativismo no Brasil

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Serão os “tratamentos paliativos” um eufemismo para o abandono dos pacientes em condições graves? As revelações tenebrosas sobre as práticas da Prevent Senior colocaram em foco o paliativismo, ainda pouco conhecido da maioria da população. Uma entrevista do médico Daniel Forte ao portal Dráuzio Varella, na semana passada ajuda a jogar luz sobre o tema. E aponta um problema: a completa falta de regulamentação da prática, no Brasil.

Chefe do Serviço de Medicina Paliativa do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, Daniel explicou, em detalhes, para que servem e como funcionam estes cuidados. Compõem uma abordagem medicinal multidisciplinar. São, em essência, um conjunto de decisões voltadas à melhora na qualidade de vida e redução de dores. A prática, hoje, já não é direcionada apenas aos pacientes com doenças em fases terminais, mas aos que estão sofrendo de doenças graves – de todas as idades.

SEM REGRAS E SEM POLÍTICA PÚBLICA: Daniel Forte dá um diagnóstico: um dos problemas é a falta de regulamentação. Enquanto em países ricos a prática da medicina paliativa é algo estabelecido e integrado ao sistema de saúde, no Brasil não há políticas públicas ou regras que determinem os protocolos dos cuidados. Há apenas a meta de adotá-los, firmada em 2018, sem qualquer indicação de como será alcançada – e não há qualquer orçamento direcionado à prática, no sistema público de saúde.

Já o que acontecia, segundo relatos, em hospitais da Prevent Senior era redução de custos mascarada de medicina paliativa. Um dos casos é de Tadeu de Andrade, de 65 anos. Após ter passado 30 dias na UTI com pneumonia causada pela covid-19, sua família recebeu uma ligação informando que ele seria retirado da hemodiálise, do tratamento intensivo e que seriam interrompidos seus medicamentos. Na ala “híbrida”, receberia morfina e não seria reanimado. Os médicos da Prevent só mudaram de ideia após ameaças da família de entrar na justiça e levar o caso à mídia. Graças ao enfrentamento e à permanência na UTI, Tadeu de Andrade está vivo – e falou à CPI no dia 7/10.

Na verdadeira medicina paliativa, explica Daniel, as decisões devem sempre ser tomadas junto ao paciente e à família. Nunca é uma desistência do caso – muito menos uma saída para as operadoras privadas de saúde concentrarem mais riqueza.

Imagem: Celia Jacobs

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