Crianças e Delta: o que se sabe até agora

Aumento de casos graves e internações entre crianças e adolescentes acendem alerta nos EUA. Estudos preliminares mostram que chave está na alta transmissibilidade da variante: crescimento de novas infecções entre população em geral amplia contágio nessas faixas etárias e, com ele, as formas mais graves da doença

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Foto: acervo Revista Crescer

Em várias partes dos Estados Unidos, o número de crianças e adolescentes com covid-19 aumentou um tanto assustadoramente nas últimas semanas, depois que a Delta se instalou de vez no país e levou a uma subida geral no contágio. Um levantamento da Academia Americana de Pediatria apontou que pessoas entre zero e 19 anos representam 15% dos novos casos no país, considerando a semana de 30 de julho a 5 de agosto. Várias reportagens têm apresentado pediatras preocupados por verem mais e mais crianças precisando de cuidados hospitalares também. O que traz uma questão: será que essa variante estaria associada a um risco maior de jovens e crianças adoecerem e morrerem?

O que as evidências apontam até agora é que sim – mas não porque a Delta tenha mais facilidade para infectar os mais novos ou provocar neles as formas mais graves da doença. Ela não parece ter nenhuma predileção por faixas etárias específicas. E, embora haja alguns estudos associando essa variante com adoecimento grave, eles ainda são preliminares; o que está bem estabelecido é que ela é muito mais transmissível do que as variantes anteriores, gerando um boom de infecções. Só que, com mais gente infectada, vai ter mais gente nos hospitais – especialmente quem ainda não pôde ou não quis se vacinar. Mesmo que a covid-19 atinja as crianças com muito menos força em comparação com os adultos, o contágio desenfreado vai fazer subirem os números absolutos. 

“O aumento alarmante de casos pediátricos parece refletir a severidade da aritmética infecciosa: mais crianças estão adoecendo porque mais crianças estão sendo infectadas; mais crianças estão sendo infectadas porque esse vírus se infiltrou profundamente nas comunidades mais vulneráveis ​​a ele“, resume a reportagem do site The Atlantic. A boa notícia (se é que se pode chamar assim) é que, até agora, os relatos de hospitais pediátricos lotados vêm de estados com cobertura vacinal menor, e esse efeito ainda não foi visto em escala nacional. Isso reforça a proteção conferida por comunidades altamente vacinadas sobre os mais vulneráveis.

Os dados do Reino Unido também caminham nesse sentido, cita a matéria: por lá, o reinado da Delta levou a um aumento dos casos pediátricos, mas a proporção de crianças afetadas em relação à população como um todo não foi alterada, e não há nenhuma indicação de que a Delta tenha representado uma ameaça particular para os menores. “Houve uma onda, houve crianças que ficaram doentes, mas nada do tipo ‘Oh, meu Deus, isso é muito diferente, isso é preocupante’”, tranquiliza Elizabeth Whittaker, especialista em imunologia e doenças infecciosas pediátricas do Imperial College London, no New York Times

O jornal também nota que parte significativa do caos nos hospitais pediátricos está relacionada a outras doenças respiratórias que no início do ano estiveram adormecidas por conta das precauções tomadas na pandemia. O relaxamento das restrições provavelmente levou a uma explosão do vírus sincicial respiratório, que atinge muito crianças. Recentemente, a hipótese de que crianças estejam sendo largamente acometidas por outros vírus respiratórios foi levantada pelo pesquisador da Ficoruz Leonardo Bastos, para explicar a alta nas internações na faixa de zero a nove anos no Rio de Janeiro.

De todo modo, a melhor forma de proteger as crianças agora é garantir que mais e mais adultos sejam imunizados, promover boa ventilação e não relaxar o uso de máscaras – boas máscaras – mesmo no caso dos vacinados. E isso vale Delta, Gama ou qualquer outra variante em circulação.

Em tempo: para quem tem criança em casa, há fabricantes brasileiros de PFF2 que começaram a produzir modelos infantis por preços bastante acessíveis.

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