Quase um ponto sem volta: o que diz o novo relatório do IPCC

Catástrofe climática se aprofunda e, sem mudanças imediatas, temperaturas subirão além do previsto já em 2040 e 2050. Consequências como intensificação das secas, ondas de calor, tempestades, inundações, derretimento do gelo e aumento do nível do mar tendem a ser ainda mais graves

Foto: Conexão Ambiental – Gov/PR
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O Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC) publicou hoje um longo relatório sistematizando trabalhos científicos disponíveis sobre a crise climática e projetando o que deve acontecer com o planeta nas próximas décadas. Não conseguimos percorrer suas quase quatro mil páginas, mas reunimos aqui os principais pontos destacados pela imprensa nas reportagens desta manhã. 

O preocupante (e nada inesperado) alerta está na péssima previsão para o resto deste século: “A menos que haja reduções imediatas, rápidas e em grande escala nas emissões de gases de efeito estufa, limitar o aquecimento a 1,5 ºC [acima dos níveis pré-industriais] estará fora do alcance”, disse em coletiva de imprensa Ko Barrett, vice-presidente do IPCC, referindo-se à meta do Acordo de Paris. 

Ocorre que a temperatura já subiu quase 1,1 ºC e deve bater o marco de 1,5 ºC até meados da década de 2030, se tudo continuar como está. Para piorar, o mais provável é que passe dos 2ºC entre 2040 e o início de 2050. A reportagem da Wired explica que variações aparentemente pequenas, de 0,5 ou 1ºC além de onde estamos agora, são na verdade gigantescas: “Há uma grande diferença entre 1,5 e 2ºC em termos de agravamento das secas, ondas de calor, tempestades, inundações, derretimento do gelo e aumento do nível do mar. Com 2ºC fica muito pior. E além de 2ºC fica muito, muito pior. E há chances, é claro, de estarmos indo nessa direção”, diz Janos Pasztor, diretor executivo da Carnegie Climate Governance Initiative e ex-assistente da ONU secretário-geral para mudanças climáticas, que não participou do relatório. 

Pela primeira vez, o IPCC quantificou o grau de influência das mudanças climáticas à frequência e à intensidade de eventos extremos, como secas prolongadas, ondas de calor, tempestades e furacões. “Ondas de calor já triplicam no mundo atual em comparação com o período de 1850 a 1900 – antes das atividades humanas aumentarem a concentração de gases-estufa na atmosfera. Variações extremas de temperatura que aconteciam uma vez por década hoje podem ocorrer 2,8 vezes no mesmo período (…). Já as temperaturas extremas mais raras, que ocorriam uma vez a cada 50 anos entre 1850 e 1900, hoje têm probabilidade de ocorrer 4,8 vezes no mesmo período”, resume a Folha. No Brasil, boa parte do país tem projeções de aumento de secas para meados do século, em um cenário de aquecimento global de 2°C; a região amazônica deve ser uma das mais afetadas.

A preocupação maior é o Ártico, que está esquentando simplesmente três vezes mais rápido que o resto do planeta – e cujas ondas de calor se refletem em outras partes. Elas estão ligadas não só ao aumento do nível do mar como a incêndios florestais maiores e mais intensos, por exemplo. 

O único jeito de evitar a tragédia que se avizinha é um declínio dramático nas emissões de gases do efeito estufa. No melhor cenário, a temperatura média vai aumentar até 1,8 ºC entre os anos de 2081 a 2100. No pior, o crescimento será de 3,3 a 5,7ºC. Mas isso esbarra na influência humana, cujo papel no aquecimento é segundo o IPCC, “inequívoco e inquestionável“.

Vale pontuar que, na semana passada, um alarmante estudo publicado na Nature Communications projetou que o aumento da temperatura global deve levar a 83 milhões de mortes até 2100, tornando-se o maior fator de risco global para a saúde. 

Em tempo: amanhã, a Academia Brasileira de Ciências vai apresentar e debater as principais conclusões do novo relatório do IPCC em um seminário

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