Saúde depois de Bolsonaro, segundo movimentos sociais

A poucas semanas da Conferência Livre de Saúde, cresce a mobilização para pensar e construir um SUS pós-pesadelo. Multiplicam-se os eventos preparatórios. Veja como participar, como contribuir e o que se espera como resultado

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O fim de semana promete ser intenso. Na sexta-feira, a partir das 8h30, estará em pauta a luta para superar o desfinanciamento da Saúde Pública, num seminário promovido pela Associação Brasileira de Economia da Saúde (AbrES) e realizado na Bahia, mas transmitido para todo o país (leia o documento-base). Em seguida, virão a conferência estadual do Mato Grosso (a partir das 19h), a do Rio de Janeiro e a de Londrina (ambas no sábado). Em meio a isso, uma conferência temática sobre Gestão do SUS (em Porto Alegre) e um encontro da rede Grito dos Excluídos, sobre Saúde Pública. Faltando quinze dias para plenária nacional da Conferência Livre de Saúde (em 5/8, em São Paulo), as convocatórias multiplicam-se. Mais de 50 eventos preparatórios já foram ou serão realizados. Surgida no início do ano, a ideia de convocar os movimentos sociais para que elaborem de modo autônomo saídas para o SUS – sem esperá-las passivamente de um novo governo – frutificou. Mas o que virá agora?

A programação da etapa nacional dá a primeira pista. Na manhã de ⅝ (os trabalhos começarão às 9h), haverá duas mesas temáticas, com presença de sanitaristas, pesquisadores, lideranças sociais e políticas. Mas as atenções principais estarão concentradas na plenária, das 14 às 17h. Espera-se que ela aprove “diretrizes para a Política de Saúde no Brasil, sob a perspectiva da Defesa da Vida, da Democracia e do SUS 100% público e de direito universal”. A partir dos aportes de dezenas de atividades preparatórias, e das reflexões históricas do movimento sanitarista, uma Comissão Organizadora Nacional está preparando um documento-síntese. É ele que será submetido à aprovação da Conferẽncia Livre.

Presidente da Abrasco, uma das quatro entidades que convocam o encontro, a psicanalista Rosana Onocko vê neste processo a tentativa de “resgatar a política como estratégia de mudança, em tempos difíceis”. Ela explica: “Trabalhamos todos os dias para que o fim do pesadelo bolsonarista abra caminho para transformações reais. O pior que pode acontecer nas próximas eleições seria o Lula ganhar e ser levado a uma política fiscalista” — ou seja, sujeita à disciplina fiscal conforme vista pelos mercados financeiros. “Isso poderia nos mergulhar nas trevas do ultraneoliberalismo e, quem sabe, da pior violência política explícita”.

Segundo esta lógica, a Conferência Livre é um movimento em duas fases, pensa Túlio Franco, coordenador da Rede Unida, outra das entidades organizadoras. “Está em curso uma mobilização nacional. O povo está percebendo que o SUS é seu. A eleição de um novo governo permite retomar seu financiamento digno, associado a uma proposta ousada de reestruturação da assistência” – diz ele. Porém, ressalta: “Continuaremos mobilizados, sobretudo após as eleições, para garantir as diretrizes definidas em 5 de agosto”.

Há duas formas de participar deste processo. A primeira é somar-se às etapas preparatórias já em curso; ou organizar uma (ainda há tempo). As instruções para tanto estão aqui. É nestes eventos que serão escolhidos os participantes da etapa nacional (veja o regimento).Outra ação de enorme importância é a contribuição financeira. Ao contrário das Conferências de Saúde oficiais, o processo atual não conta com nenhum recurso público. Toda a mobilização é fruto do ativismo voluntário das pessoas que se envolvem, apoiada pela estrutura modesta das entidades convocantes. Mas a etapa nacional implica custos com aluguel (do auditório da Casa de Portugal, em São Paulo) e com serviços como filmagem, iluminação, link de internet, som, locação de mobiliário, ambulância, bombeiros civis e segurança. Estão orçados em R$ 65 mil. Para saldá-los foi aberta ontem (20/7) uma campanha de financiamento coletivo. É possível contribuir com somas a partir de R$ 10. O preço da autonomia costuma ser a participação.

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