A quem servirá a recriação da Funasa?

• Fiocruz cria protocolo para identificar vírus oropouche • Brasil desenvolve diagnóstico para febre amarela • Aumento da poluição prejudica Sul Global • Gripe aviária na Antártida • Análise da atenção domiciliar •

.

Até o dia 14 de setembro, devem se concluir os trabalhos da comissão do governo federal que está desenhando a reestruturação da Fundação Nacional de Saúde, a Funasa. O órgão havia sido extinto por uma Medida Provisória editada no segundo dia do mandato de Lula, por ser visto como um reduto do fisiologismo político ao concentrar-se na entrega de pequenas obras de saneamento em municípios rurais – atividade que, não há dúvida, rende votos. À época, Outra Saúde avaliou que, apesar de bem-intencionada, a medida não significava muito por si só: urgente mesmo é a formulação de um plano concreto para a ampliação em larga escala do acesso ao saneamento básico. Mas, com a decisão do Centrão de deixar a MP de extinção da Funasa caducar, o elefante seguiu na sala – e a instituição, na estrutura do governo. Nesse mesmo sentido, o sanitarista Adriano Massuda argumenta em entrevista ao Jota que “não há sentido em recriar a Funasa com a mesma funcionalidade prévia à extinção”. Se não houver “uma função clara de saúde pública”, os beneficiados tendem a seguir sendo mais os parlamentares de direita que suas bases interioranas, carentes de melhores condições sanitárias.

Fiocruz vira referência na detecção do vírus oropouche…

O vírus oropouche ainda é pouco conhecido da população em geral, apesar de sua crescente circulação na região Norte do país. A similaridade de seus sintomas com os da dengue é um dos principais fatores a dificultar os diagnósticos dessa infecção transmitida pelo mosquito maruim. Porém, com o desenvolvimento de um novo protocolo de diagnóstico por PCR em tempo real em sua unidade na Amazônia, a Fiocruz tem se tornado referência na detecção do vírus Oropouche. Por orientação da Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública do Ministério da Saúde, esse protocolo será compartilhado com oito laboratórios públicos e a perspectiva é que todos os estados do Brasil sejam capazes de aplicá-lo já em 2024. A pressa é justificada. “Em Roraima, temos mais casos confirmados para oropouche do que para dengue este ano”, conta Felipe Naveca, do Núcleo de Vigilância de Vírus Emergentes, Reemergentes ou Negligenciados da Fiocruz Amazônia. Amazonas, Rondônia e Acre também registraram a presença do vírus –  além de alguns países vizinhos, com quem o governo pretende futuramente compartilhar o novo método de diagnóstico. 

… e brasileiros desenvolvem sensor que diagnostica febre amarela

Seguindo no tema da criação de novas formas de diagnóstico de doenças tropicais, o Brasil também acaba de desenvolver uma inovadora ferramenta para a detecção da febre amarela: um biossensor eletroquímico feito em impressora 3D a partir de cápsulas de café recicladas. Como relembra a Agência Brasil, a febre amarela também é uma doença cujo diagnóstico é dificultado pela proximidade de seus sintomas com infecções como a chicungunha, a dengue e a zika. Capitaneado pela química Cristiane Kalinke, o esforço de desenvolvimento também contou com a participação de pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), além de financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O principal benefício dos novos sensores é que eles “poderiam ser facilmente transportados a regiões ou comunidades remotas” o que é “especialmente importante no caso de doenças negligenciadas, que carecem tanto de estratégias de prevenção quanto de tratamento”, explica Kalinke.

Ásia e África são mais afetadas pela poluição

Não são desiguais apenas as emissões de carbono do mundo, historicamente concentradas nos países do Norte Global – as consequências de toda essa poluição também afetam mais a algumas populações que outras. Três quartos dos efeitos adversos em saúde ligados à poluição atmosférica se concentram em apenas seis países da Ásia e da África: Bangladesh, China, Índia, Indonésia, Nigéria e Paquistão. A informação provém do mais recente relatório Air Quality Life Index (AQLI), publicado em 2023 com dados que remetem ao ano de 2021. O indicador é divulgado anualmente pelo Instituto de Políticas de Energia da Universidade de Chicago. Ainda segundo o mesmo documento, apesar do tímido avanço na redução da poluição global, quase todos os avanços se devem à China, onde a “guerra à poluição” empreendida pelo governo fez as emissões caírem em 40% de 2013 para cá. Essa iniciativa teria contribuído para um aumento de mais de 2 anos na expectativa de vida dos chineses.

Gripe Aviária pode causar estrago na Antártica

Só no Chile e no Peru, a gripe aviária causou a morte de 500 mil aves marinhas e 25 mil leões-marinhos desde que chegou à América do Sul em outubro do ano passado. Confirmando a gravidade do vírus que vem circulando o mundo há 3 anos, 50 milhões de aves morreram durante a passagem do H5N1 pelos Estados Unidos em 2022, um recorde. Mas o que um novo relatório da OFFLU, rede de especialistas impulsionada conjuntamente pela OIE e pela (FAO), alerta é que um desastre ainda maior pode acontecer caso o vírus alcance o Polo Sul. A Antártica nunca teve um surto da doença em sua numerosa e diversa fauna de aves e, por isso, “há uma preocupação de que essa primeira passagem tenha um impacto realmente muito grande em termos de taxa de mortalidade”, opinou um veterinário patologista ao The New York Times. Para os especialistas consultados pelo jornal norte-americano, é preciso ligar o alerta agora para evitar que essa possibilidade se concretize nos próximos meses.

Atenção domiciliar é útil para pacientes em reabilitação intensiva

Um grupo de pesquisadores do Núcleo de Informação, Políticas Públicas e Inclusão Social, ligado à Fiocruz, se dedicou a investigar a eficácia da atenção domiciliar (isto é, “a forma de atenção à saúde oferecida na moradia do paciente”, segundo o Ministério da Saúde) na recuperação de pacientes que precisam de reabilitação intensiva – situação que pode advir de problemas cardiovasculares, ortopédicos, respiratórios, neurológicos ou de outras origens. Levando em conta diversos fatores, como o tempo de permanência, número de intercorrências, custos e a experiência do usuário, a equipe coordenada por Cristina Rabelais concluiu que a atenção domiciliar não só é eficaz como tem boa aceitação dos pacientes. Além disso, essa abordagem se mostrou, em diversos casos, mais barata que a internação hospitalar sem que isso causasse prejuízo à recuperação dos pacientes. Por isso, os pesquisadores consideram que o resultado do estudo abre “caminho para a aplicação [da atenção domiciliar] em diferentes contextos no âmbito do SUS”. Mais um passo em direção a um futuro sem hospitais?

Leia Também: