A história intrigante da ômicron – antes de ser descoberta
A primeira pista da existência da nova variante da covid surgiu em testes coletados em Pretória. Um dos testes deixou intrigada uma jovem virologista vários dias antes de se saber que eram inquietantes mutações do Sars-CoV-2
Publicado 30/11/2021 às 06:00 - Atualizado 29/11/2021 às 20:21
O primeiro passo para a descoberta da variante ômicron aconteceu vinte dias antes de ela se tornar uma ameaça sanitária global, em uma unidade da empresa Laboratórios Lancet em Pretória, onde, no início de novembro, 4/11, a jovem virologista Alicia Vermeulen estava, já no começo da noite, checando um lote de testes positivos da covid e percebeu algo intrigante. Em um dos resultados, entre 300 testes processados naquele dia, não aparecia justamente o gene da proteína “esporão” (dito gene S), que o vírus SARS-Cov-2 utiliza para infectar as células.
Foi essa ausência, curiosamente – e não a presença de mutações inesperadas – que denunciou a variante ômicron, conta uma reportagem da publicação sul-africana News 24 sobre a origem dessa possível nova ameaça pandêmica global. O gene S desaparece dos resultados, explicaram depois os cientistas, porque os testes são projetados para detectar um certo padrão genético – mas como a proteína sofreu mutações, o padrão genético já não é o mesmo. O teste não consegue identificá-lo.
Alícia não tinha ainda certeza do que estava observando e nos dias seguintes passou investigar o “sumiço” do gene. Ela conta que tinha uma pista porque já se havia visto algo semelhante na descoberta da variante alfa, na Inglaterra, em novembro de 2020. Mas não coube à sua unidade decifrar a charada. Nos dias seguintes, o laboratório Lancet observou um número crescente de testes positivos “sem” o gene S. Mas as primeiras amostras sequenciadas da variante ômicron, de acordo com a News24, foram obtidas em Botswana.