A dura realidade nos hospitais de Manaus

Mais de 700 pacientes devem ser transferidos para outros estados

Foto: Alex Pazuello / Semcom Manaus
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“Pensa no pior cenário possível. A situação aqui está dez vezes pior“, disse à BBC, ainda no dia 12, o médico Daniel Fonseca. Ele dirige o grupo Samel, que controla cinco hospitais e centros médicos particulares de Manaus. No El País, um médico do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV) diz que os pacientes estavam recebendo uma fração mais baixa de oxigênio do que o necessário, porque os estoques só cobririam algumas horas.

A unidade ficou sem o insumo durante quatro horas ontem. “Colegas perderam pacientes na UTI por causa da falta de oxigênio. Eles ainda tentaram ambuzar (ventilar manualmente), mas foi só para tentar até o último recurso mesmo, porque é inviável manter isso por muito tempo. Cansa muito, tem que revezar os profissionais. Chamaram residentes para ajudar na ventilação manual. A vontade que dá é de chorar o tempo inteiro. Você vê o paciente morrendo na sua frente e não pode fazer nada. É como se ver numa guerra e não ter armas para lutar”, disse outra médica do HUGV, no Estadão. 

Os médicos começaram a fazer pedidos na internet para que quem tivesse cilindros em casa doasse aos hospitais. Pode soar estranho, mas há algum tempo pessoas começaram a tentar estocar esses cilindros em seus domicílios, já que os doentes são recusados nos hospitais por falta de leitos.

No mesmo jornal há um relato mais longo de uma dessas médicas residentes, também do HUGV, que não trabalha diretamente com pacientes com covid-19 mas se voluntariou para ajudar na ventilação manual. “Um deles [dos pacientes], de 50 anos, morreu na minha frente. Quando a gente vê que não tem mais jeito, iniciamos a morfina, para dar algum conforto. Tivemos que fazer isso com ele. Demos morfina e midazolam (sedativo). A gente já chorou e não sabe mais o que fazer. Só no Getúlio Vargas, foram pelo menos cinco óbitos pela falta de oxigênio”.

Mais de 700 pacientes devem ser transferidos a outros estados. De início, 235 pessoas serão enviadas a hospitais do Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Goiás e Distrito Federal. O problema é que, embora Manaus seja o caso mais crítico no momento, a pandemia recrudesce no país inteiro ao mesmo tempo. Vários estados estão com ocupação de UTIs acima de 70% e até de 80%,  e ainda assim não parecem dispostos a reduzir o contágio. Nesse ritmo, talvez não seja tão simples realocar tanta gente. 

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